SOU ESPÍRITA, MAS...
Quando digo que sou Espírita, significa, antes de tudo, que sei que sou Espírito! "Espírito vivendo uma experiência corporal, e não um corpo vivendo uma experiência material", como bem já foi definido. Portanto, não faz o menor sentido sair por aí se alardeando que somos Espíritas, à moda do proselitismo religioso muitas vezes vazio de significação maior nas falas de muitos, como acontece em tantas religiões onde, por boas razões, o sincretismo prevalece acima dos rótulos, e especialmente no nosso país.
Já ouvi em mais de uma oportunidade este tipo de afirmação curiosa: "Sou católico, ou isso ou aquilo... mas acredito, também, nisso ou naquilo..." Existe, sub-reptícia, a necessidade psicológica de, supostamente, se devotar fidelidade a esta ou aquela religião por intermédio destas declarações; todavia, implícita também nestas assertivas prevalece, cristalina, a afirmação de que uma realidade muito maior se impõe, para além do que os rótulos institucionalizados condicionaram o ser humano a crer!
Como não há outro jeito para a mentalidade medianamente honesta que não reconhecer que muitas manifestações situadas para além dos esclarecimentos dos postulados religiosos proliferam por aí sem pedir licença a crenças, descrenças ou convicções individuais sustentadas não mais que por fidelidade às tradições de religiosidade adquiridas através de influências familiares ou outras, de igual peso, das quais é difícil prescindir em muitas situações sem declarar confronto aberto contra entes queridos, ou, quando não, sem criar impasses desgastantes nestes mesmos ambientes afetivos dos quais nutrimos nosso cotidiano - resta, vez por outra, acontecer a afirmação dúbia: "Ser, eu sou isto! (o convencional, a que não se pode trair, embora não se pare para pensar bem o porquê!) Mas também acredito naquilo!" (o não convencional a quaisquer destes condicionamentos; todavia, de existência incontestável em diversificadas oportunidades de fácil e corriqueira constatação)!
Não, meus amigos! Minha percepção, para ser coerente, antes de quaisquer considerações, para com aquilo mesmo que o Espiritismo veio revelar ao mundo, é a de que devemos afirmar que somos Espíritas contextualizando que ser Espírita é, e antes de qualquer entendimento possível com base em postulados doutrinários, ser, conscientemente, um Espírito!
Espíritos, reencarnados temporariamente nesta estação planetária, para adquirir determinada cota de aprendizado evolutivo, para depois seguir viagem na vida real e inimaginavelmente mais ampla, situada em dimensões para além deste confinamento consciencial no qual nos vemos mergulhados no estado corpóreo! Ou começaremos a incorrer nesta mesma defasagem conceitual que distancia a muitos da sua realidade íntima mais genuína!
Dalai Lama e outros expoentes religiosos já afirmaram, com muita inspiração, que a religião melhor é a que consegue nos tornar melhores como seres humanos. Portanto, o que queremos significar, aqui, não é que o Espiritismo - rótulo religioso - detém a palavra final sobre o trajeto de cunho espiritual a ser adotado por todos. Todavia, há leis universais maiores, que prevalecem acima dos múltiplos caminhos terrenos. Assim, com o tempo, os avanços da ciência, que já vai convergindo em seus postulados para a concordância daquilo que de há décadas as revelações dos Espíritos desencarnados já nos noticiavam, darão consolidação às manifestações da vida que, por ora, acontecem à revelia de explicações teóricas ou de experimentação técnica ou instrumental. E tempos também chegarão nos quais, sem precisar haver disputas ou rivalidades entre os buscadores de Deus da Terra, todos compreenderão e celebrarão, em harmonia fraterna, a realidade pura e simples de que o que nos aguarda, indistintamente, é a eterna continuidade no grande Caminho, aqui, como noutras incontáveis dimensões luminosas da Criação!