SOBRE A SEXUALIDADE ALHEIA

Heribaldo de Assis *

Em pleno século XXI é abominavelmente incrível como as pessoas se preocupam com a sexualidade alheia. Mas o corpo de uma pessoa pertence a essa pessoa – o que ela faz com seu próprio corpo entre quatro paredes é problema exclusivamente dela. Penso que a sexualidade humana é como uma impressão digital: cada um tem a sua.E se a sexualidade não fosse algo intrinsecamente diferente as mulheres, por exemplo, atingiriam o orgasmo facilmente – mas existem mulheres que atingem o orgasmo facilmente enquanto outras não. Apesar de todo nosso avanço tecnológico a intolerância humana nos remete a Idade da Pedra – alías esse avanço tecnológico serviu para propagar perigosamente essa arcaica intolerância. O computador, a Internet tornaram-se instrumentos a serviço dessa nefasta intolerância: bullying virtual, invasão de privacidade através da obtenção indevida de fotos íntimas de alguém, propagação de idéias discriminatórias e preconceituosas (e quantas famílias, quantas vidas não foram destruídas devido a essas malévolas ações! ).Precisamos aprender que o corpo do outro pertence ao outro e que a imagem do outro pertence ao outro – ninguém tem o direito de criticar a orientação sexual de ninguém ou de se apossar e divulgar as fotos intimas de alguém ( discriminação e roubo são crimes !) . Rotular e estereotipar pessoas com adjetivos (negras, obesas, homossexuais, bissexuais, transexuais...) é uma forma de dividir a humanidade (que é uma só) : trata-se de uma prática nazista - primeiro divide-se a humanidade em guetos, depois enfraquece-se esse guetos e depois se destrói esses guetos (moralmente e até fisicamente)...Uma vez conheci uma mulher que disse-me que havia sido expulsa de casa pelos pais quando era adolescente simplesmente porque sentia atração por outras mulheres... Pude ver nos olhos daquela mulher uma grande magoa praticamente se transformando em lágrimas, pude perceber nos olhos daquela mulher o medo de confiar nas pessoas (e enxergar o medo no olhar de alguém é algo terrível de ser ver!). Para aquela mulher foi negado algo que é essencial na vida de um ser humano: o Amor dos pais ! E diante da dor daquela mulher que foi discriminada e expulsa de casa pelos próprios pais meus lábios por um momento se calaram – as palavras pareciam inúteis para confortá-la. Mas, através do meu olhar, tentei lhe dizer: sou de Cristo – estou aqui para te compreender , não para te condenar !

* Escritor, Poeta, Filósofo, Compositor, Redator-publicitário e Licenciado em Letras pela Uesc - Universidade Estadual de Santa Cruz. E-mail: herisbahia@hotmail.com