A alegoria da maquete
Havia uma cidade onde grande parte de seus habitantes se ocupava em confeccionar mapas. A cidade era famosa pelos mapas precisos e detalhados que produzia.
Com o passar dos anos, os cartógrafos daquela cidade foram aperfeiçoando suas técnicas e começaram a produzir também, maquetes. Confeccionavam maquetes de qualquer tipo de construção ou acidente geográfico. Um dia numa convenção local dos cartógrafos, decidiram, para promover a cidade, fazer uma maquete da própria cidade que fosse a mais perfeita já feita na história. Decidiram que ela teria tamanho natural e as casas, prédios e tudo mais funcionariam de modo idêntico ao original. Escolheram um terreno ao lado da cidade e começaram a construir.
Para testar se realmente ela era idêntica à original decidiram se mudar para lá. Notaram que realmente a maquete funcionava perfeitamente como a original e acabaram se acomodando lá mesmo deixando a cidade original deserta. Os anos foram passando, os mais velhos morreram e duas novas gerações nasceram na “cidade-maquete”. Um dia o habitante mais velho da cidade conversando com seus netinhos, lembrou-se que no passado ele não vivia naquela cidade-maquete, mas na do lado, e tinha vindo com os pais quando tinha cinco anos de idade. Aquela cidade onde viviam no momento era na verdade uma ilusão criada pelos antepassados e a realidade era a outra cidade. Os netos, achando que o avô já estivesse louco contestaram-no dizendo:
-imagine vô! Esta é a cidade real! Nós nascemos aqui, vivemos aqui, nossos pais nasceram aqui! Esta é a cidade real! A ilusão é a outra que está deserta. Se não fosse assim seria lá que estaríamos vivendo e esta estaria deserta. Não é lógico isso? O senhor deve ter se confundido!
O avô, aturdido pela lógica dos netos disse:
-Bem, pode ser que eu tenha me confundido, já faz muito tempo e não me lembro claramente mas podia jurar que vim para cá com 5 anos!
Passado um tempo esse ancião também morreu. Os netos cresceram e envelheceram. Num dia um dos netos desse ancião, também numa conversa com os seus próprios netos disse ter se lembrado que numa ocasião quando ele era criança, o avô dele tinha comentado que a cidade onde eles viviam era uma ilusão e a realidade era a outra cidade. Os netos riram e disseram que essa ideia era absurda, que eles mesmos, seus pais e o próprio avô tinham nascido ali e viveram sempre ali. O avô concordou com eles e disse que realmente a ideia era absurda e que já fazia muitos anos que ele tinha ouvido essa história do avô dele e com certeza ele entendera errado, ou seu avô estava louco. Não tocaram mais no assunto e a vida de todos continuou como sempre.
Nós sabemos qual é a realidade e qual é a ilusão. Mas qual é a realidade dos habitantes da cidade-maquete? Uma ilusão que é idêntica à realidade pode ainda ser chamada de ilusão? Se uma ilusão surte o mesmo efeito que a realidade, que sentido faz diferenciá-las? Será que não estamos vivendo numa ilusão “super-realista” gerada por um super-computador como no filme Matrix? Sinceramente a ideia de uma super-maquina controlando nossas sensações parece bastante inverossímil, mas e se substituirmos o super-computador por Deus? Pareceria mais plausível? Poderia, tudo o que acontece à nossa volta e dentro da nossa mente e até mesmo nossa existência e a existência do Universo acontecer apenas na mente de Deus? Se Deus existir e for onipotente, onisciente e onipresente ainda poderíamos chamar de ilusão se tudo acontecesse “apenas” em sua mente? Ou se Ele não existisse, a ideia do computador pareceria menos absurda? Ou não existe nem computador e nem Deus e tudo surgiu do nada? Mas pode alguma coisa surgir do nada? Seriam, ilusão e realidade conceitos relativos?
Em meados do século XX quando surgiam os primeiros computadores, se um documento existisse apenas na memoria de um computador e não impresso com tinta sobre papel, a maioria das pessoas de então concordaria que o documento não existia realmente. Mas hoje todos concordam que um documento ou uma foto que não está impressa mas está na memória do seu notebook existe! E, no entanto não está impresso! O fato de estar na memória do computador ou no papel não causa nenhum dilema existencial ao dono do notebook . Enfim, será que o que chamamos de realidade e de ilusão são de fato realidade e ilusão?