EDUCAÇÃO, REPRODUÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE
FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.
Paulo Freire
Os teóricos Saviani¹ (1983), Libâneo² (1986) e Luckesi³ (1993) enfatizam que a educação como instrumento de reprodução da sociedade e a educação como instrumento de transformação da sociedade, tais concepções são radicalmente antagônicas.
O que chamamos de educação como instrumento de reprodução da sociedade, enfoca em seu bojo justamente à educação não crítica, tendo em vista que se trata da educação tem a finalidade principal adaptar o sujeito enquanto individuo à sociedade do jeito tal como ela se apresenta de fato e de direito. Trata-se da educação alienante, o sujeito deve bater palmas a quem tem o poder político, econômico e intelectual nas mãos. Tudo em todos os sentidos na vida de quem é educado assim, por professores que pensam assim, leva o sujeito a ficar sempre passivo diante dos problemas sociais de sua terra: local, estadual e nacional. É importante enfocarmos e considerarmos que vivemos sim numa sociedade brasileira cheia de desigualdades sociais, culturais, financeiras, econômicas, religiosas, sexuais, profissionais, étnicas, preconceitos silenciosos em todos os sentidos que envolvem as raças: branca, negra e indígena, base étnica primitivas da formação do povo e da cultura brasileira. De modo que uma vez a educação concebida como sendo um processo de adaptação e de reprodução dos valores e costumes em todos os sentidos dessa sociedade, justifica-se tendo em vista a ideologia expressa no objetivo de manter a própria sociedade nacional sempre desigual. E não precisa ir muito longe para vermos a presença dessa concepção de pensamento e de mundo, na prática em vários espaços educativos formais e informais, dentre os quais na instituição escola de Educação Infantil, Educação Básica, Educação Profissional e Educação Superior.
Por outro lado, a educação como instrumento de transformação da sociedade é justamente aquele que é crítica, que tem como objetivo ou finalidade principal a instrumentalização dos sujeitos ou indivíduos para que esses na verdade tenha uma prática social crítica no sentido de transformar os destinos da sociedade em que está envolvido. De modo que na realidade estamos vivendo numa sociedade brasileira que é desigual pelos mesmos motivos antes enfocados, de modo que os sujeitos devem apropriar-se de conhecimentos, atitudes, ações, ideias, valores, comportamentos de enfrentamentos ao estado de coisas existentes na sociedade segundo sua elite atrasada e descontextualizada, de sempre de forma critica e reflexiva, justamente para que tenham condições de viver e atuar com vez e voz na sociedade. Somente a partir desse entendimento é que teremos uma educação que instrui sob a perspectiva de transformação, embora lenta. Jamais aceitar como verdade primeira e única o que os donos temporários do poder político, econômico e saber (intelectual ou acadêmico). E é justamente Saviani (1994) que define educação envolvendo uma perspectiva critica e transformadora ao citar que “o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada individuo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”.
Finalmente, a sociedade precisa de uma escola paga direta e indiretamente por toda a sociedade que ainda temos o atrevimento ou ignorância de chamá-la de escola pública, que na realidade é paga e muito bem paga por todos os membros da sociedade brasileira rica, pobre e miserável. Assim sendo, precisamos de uma escola pública como instrumento de transformação dos valores da sociedade e não de uma escola pública como instrumento de reprodução dos valores da sociedade, tal como ela encontra-se, tendo em vista que nenhuma pessoa tem direito a duas infâncias e a duas adolescências, para poder ser passivo na primeira e critico na segunda. É uma questão de racionalidade e visão de mundo de cada um em si. Uma escola pública municipal, estadual e/ou federal que apenas reproduz os valores sociais atende justamente ao objetivo da sociedade dominante e suas oligarquias para se manter no poder: político, econômico e acadêmico, nas três esferas de governo republicano brasileiro.
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¹SAVIANI, D. Escola e democracia. São Paulo: Cortez, 1983.
²LIBÂNEO, J.C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 1986.
³LUCKESI, C.C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1993.