A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL
Para mim é muito fácil e prazeroso assumir todas as idades, todos os papéis. Mas, este de paraplégica não estava no “script”. Apesar de esquisito, estou tentando sair-me bem.
Com isso, eu quero demonstrar que a vida é efêmera e as fatalidades não avisam.
Foi o que aconteceu comigo!
Após uma festa em minha casa, dormi sã e acordei paraplégica, vítima de uma virose que me meou o corpo. Na realidade, um turbilhão de dificuldades. Eis-me, irreversivelmente paraplégica. Com uma vida de muitas batalhas para não ser escória de uma sociedade que, geralmente, só aceita os fortes, perfeitos e vencedores.
VIDA, não significa somente pernas, mas, sobretudo cabeça, mente, raciocínio, espírito e coração. O resto, dá-se um jeito.
16 milhões de pessoas deficientes permeiam as terras brasileiras.
Ter um defeito físico, andar numa cadeira de rodas, geralmente significa estar inválido, estar cerceado do sagrado direito de sustentar-se com o fruto do próprio trabalho. É um marco da personalidade brasileira e do machismo arraigado de governantes desinformados que não sabem buscar, transformar, aproveitar, mesmo tanto tempo depois da teoria de Lavoisier: “...nada se perde, tudo se transforma”. Quando uma parte do corpo se fragiliza, as outras se encarregam do trabalho, provando que não há problema insolúvel. “O essencial é invisível aos olhos. É preciso buscar com o coração”.
Ouso dizer que não se deve dar ao homem o que ele pode conseguir com fruto do seu trabalho, sob pena de roubar-lhe a dignidade.
Não obstante os muitos cerceamentos impostos pela deficiência, temos que rebatê-los com uma só ação: CORAGEM! Coragem de ir à luta e vencer, deixando sempre à mostra a determinação e o preparo técnico-científico inerentes à tarefa que desejamos desempenhar. Não há discriminação que resista à competência.
Necessário se faz um trabalho conscientizador a partir do próprio deficiente, da sua família até a sociedade e governantes. É preciso que os sentimentos de paternalismo, compaixão ou desprezo sejam trocados por outros valorativos, respeitosos e reconhecedores, devolvendo à pessoa com deficiência o direito de participar da VIDA.
A família deve vestir a camisa, e, dentro da responsabilidade/amor, propiciar ao deficiente espaço ambiental e adaptações viáveis para que ele descubra seu novo mundo ou sua nova liberdade, uma vez que em nível de Estado muito há a desejar.
Esse amor de que falo, não deve ser entendido como excesso de paternalismo que tanto mal nos faz, impedindo-nos de alçar vôos às conquistas, mas, sobretudo, deve ser o amor/respeito que não nos destitui da condição de ser humano atuante e não nos rotula de inválidos, pois a verdadeira invalidez está na mente de quem não tem e não sabe transmitir otimismo e coragem.
As maiores limitações são as que criamos em termos de afirmações psíquicas. Quantas vezes damos contornos catastróficos a problemas tão fáceis de serem resolvidos.
Hoje, sinto-me adaptada à vida! Sei que ela se adaptou a mim também. Já entendo que a minha cadeira de rodas é uma dádiva. Devoto-lhe gratidão. É por meio dela que ando, lido, participo da vida lá fora e nivelo-me aos demais.
Genaura Tormin é escritora, autora de Pássaro Sem Asas, Apenas uma Flor, Nesgas de Saudade, Borboleteando, Marola Veleiro e Vento e Construindo Sonhos.