Bruxas e princesas

Contam as fábulas, que nas regiões dos celtas ou dos galeses, nem se sabe bem, existiu num passado remoto, um rei muito poderoso, que durante uma caçada, penetrou no sítio de um mago que, contrariado, decretou contra ele uma sentença de morte, que só seria anulada, se o rei respondesse, no prazo de um mês, à questão: “o que a mulher mais gosta, na vida?”

É curioso notar como essas fábulas e histórias fantásticas, que nos chegam volta-e-meia pela Internet sempre trazem consigo alguma pedagogia. De detrás das figuras dos dragões, fadas, duendes e cavaleiros andantes, sempre se tira alguma lição para o dia-a-dia. Pois, depois de sentença do mago, o rei voltou ao palácio e convocou seus conselheiros, em busca da solução que iria livrá-lo da morte. As conclusões foram desanimadoras. Cada um tinha uma solução, uma teoria, e faltou consenso.

Alguém sugeriu que o rei consultasse uma bruxa que vivia num pântano. O rei negou-se terminante a adotar tal solução. O caso é que os dias voavam e não havia resposta para a intrigante pergunta levantada pelo mago. Quando faltavam dois dias para o fim do prazo, desesperado, o rei foi consultar a feiticeira. Era uma mulher repugnante. Feia como ninguém, vestida de trapos, com sérios problemas de higiene (seu mau cheiro se sentia de longe), além de debochada e mal educada. De imediato ela disse ao rei que tinha a solução, desde que este lhe desse, em casamento, o cavaleiro Gwooni, o mais belo e corajoso do reino. O rei negou e voltou triste para o palácio.

Quando o jovem e fiel Gwooni soube do fato, foi à casa da bruxa e concordou em casar-se com ela, desde que o rei fosse livrado do apuro. A horrenda mulher foi direta: “O que mais a mulher gosta é ser livre para tomar suas decisões”. O escudeiro contou ao rei que repassou a resposta ao cruel mago, e a maldição foi cancelada. Agora tinham que fazer o casamento. No dia da cerimônia, a bruxa se apresentou da forma mais repulsiva que se possa imaginar: mal-cheirosa, pele áspera, unhas enormes e sujas, vestida de andrajos, xingando a todos, comendo com as mãos, botando defeito em tudo. O casamento foi realizado.

Corajosamente, o fiel cavaleiro levou a “noiva” para a alcova, imaginando o drama que seria aquela “noite de núpcias”. A mulher foi para outro quarto arrumar-se. O rapaz pensou até em se matar... Quando abre a porta, surge uma moça muito bela, lindíssima, uma legítima princesa, bem vestida, com uma pele magnífica, toda perfumada e sorridente. Diante do choque do noivo, ela diz com uma voz muito suave: “Eu fui vítima de um encanto... assim, sou feia durante doze horas e bela nas outras doze... como você me prefere?”.

O bravo cavaleiro engoliu em seco e pensou: “Se ela for bela em casa... pelo menos há um consolo... mas também, vou ter que aturá-la como bruxa na sociedade... e todos vão caçoar de mim... De outro lado, se tenho uma mulher bonita e delicada para a vida da corte, terei uma bruxa na intimidade... e agora o que fazer?”. Confuso, o rapaz pede um prazo, até o amanhecer, para resolver, e fica pensando nos acontecimentos dos últimos dias.

Quando amanheceu, a mulher já estava transformada em bruxa. Ela se aproxima dele e, entre impropérios e exalações de mau cheiro, pergunta o que ele havia resolvido. Passado o susto, ele olha para a medonha criatura e lhe diz: “que seja como você achar melhor, como você mesma ensinou, deixo a decisão em suas mãos!”.

Na mesma hora a bruxa se torna em princesa, de novo, dizendo: “Já que você deixou a escolha por minha conta, eu prefiro ser princesa as vinte-quatro-horas do dia. A bruxa está morta”. Uma história dessas, de aparente jeito infantil, revela que em cada mulher, independente de ser feia ou bonita, existe uma princesa e uma bruxa. É importante que o seu homem lhe dê a liberdade de escolher. Ela se transformará de acordo com a forma que o homem a tratar...

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 28/03/2007
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