DEBAIXO DA BATINA O ESTILO SERTANEJO
O nome Valdivino Borges Júnior é usado apenas na carteira de identidade ou para questões burocráticas. É através do nome de guerra, Padre Júnior Periquito, e principalmente pelo jeito caipira (no sentido bom da palavra) que o sacerdorte de apenas 32 anos tem chamado a atenção em diversas cidades goianas e em alguns estados brasileiros.
Sob a batina, ele faz questão da calça jeans, cinto de fivela, bota, chapéu e berrante. Mais que o figurino, Júnior Periquito encarna na alma a cultura sertaneja. “Sou misturado com o sertão, amo música sertaneja, gosto da dança, do ritmo, do estilo, das roupas”, revela o padre, nascido e criado em uma fazenda. “Tirador de leite, capinador de roça, roçador de pastos, montador de cavalo”, enumera algumas atividades que se dedicou antes de abraçar a batina.
Padre Júnior Periquito vê uma relação direta entre a fé e a cultura do sertão. “Deus criou tudo isso. Quando podemos contemplar, vemos sua grandeza e seu poder. Meu trabalho tem como meta resgatar a cultura sertaneja para o espaço genuíno da fé, onde Deus é o criador e nós, seus filhos amados”, prega.
Ordenado padre no dia 20 de julho de 2008, Júnior Periquito, iniciou seu sacerdócio na cidade de Rialma. Seu batismo de fogo aconteceu na tradicional romaria do Muquém, com 20 dias de ministério. Foi lá e deu conta do recado. De lá para cá, inovou, rezou, cantou, arrebanhou adeptos e críticos, mas principalmente criou um estilo próprio, ministrando as chamadas “Missas da Cultura Sertaneja”, com grande apelo entre os jovens.
Divulgador da cultura sertaneja
Com violão, berrante, montado em cavalo, o jovem padre não foge às suas raízes e sua mensagem tem conseguido forte penetração social. Não só nas paróquias da região. Em 2012, ele se apresentou para quase 100 mil pessoas na Canção Nova Sertaneja. “Foi uma grande honra. E ainda fui comparado ao Padre Léo, um grande homem de Deus”, gaba-se.
Em Goiás é mais fácil citar as cidades que ele não levou suas missas sertanejas. Seu sermão e sua música têm atravessado fronteiras e alcançado pessoas em Brasília, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Ele quer mais. “Meu sonho é me apresentar no rodeio de Barretos (SP)”, diz, se referindo à maior festa sertaneja do Brasil.
Apesar do traje, das referências e do linguajar, Padre Júnior Periquito garante que não há nada nas missas sertanejas que contrariam o jeito católico de evangelizar. “Não celebro uma missa diferente. Sigo o mesmo rito que todos os padres. As missas são um resgate da cultura sertaneja para o espaço da fé. Traz elementos próprios dos sertanejos e são mesclados, liturgicamente, à celebração da eucaristia”, explica.
“Não canto paródias, somente músicas litúrgicas”, garante o padre. “As músicas são tocadas com viola, violão e sanfona, instrumentos característicos da cultura sertaneja. A música eleva o espírito e traz a mensagem de Deus”, reitera Periquito.
A pouca idade e o estilo acabaram gerando uma empatia do padre com o público mais jovem, sem no entanto, afastar os mais adultos e idosos, que também se sentem atraídos pela forma simples como Júnior Periquito ministra o Evangelho. “Tenho uma relação de amizade com os jovens, eles gostam de padres jovens como eu. O estilo sertanejo atrai todas as classes. É uma possibilidade de ser santo sem deixar de ser jovem”, explica.
Origem do apelido
Antes de chamar a atenção por ser uma espécie de cowboy de batina, o padre desperta a curiosidade das pessoas pelo apelido “Periquito”, incorporado ao nome que gosta de ser chamado. A origem da alcunha remete a um passado distante. É herança de família. “Meu bisavô comprou uma peça inteira de pano e mandou fazer roupa verde para todos os doze filhos”, conta ele, “em uma festa de casamento na região, meu bisavô mandou todos os filhos vestirem a roupa mais nova, que era a verde. Quando eles chegaram na festa, de longe o povo viu e cravou: ‘lá vêm os periquitos!’. O apelido pegou no meu avô e em seus irmãos. Desde então, vem passando de geração em geração”, revela.
O dia a dia
Pároco e reitor da Paróquia Santuário Nossa Senhora da Penha, em Guarinos, cidade onde ocorre as romarias Sertaneja, de Guarinos e Nossa Senhora da Penha (prestes a completar 300 anos), Padre Júnior Periquito é um homem simples e acessível. “No dia a dia eu atendo as famílias, visito casas, almoço com as pessoas, rezo com elas, celebro missas, atendo confissões, atendo como um padre de paróquia normal, mas saio sempre para as missas fora, toda semana”, relata.
Mas como ninguém é de ferro, nas horas de folga, Periquito gosta de jogar truco, andar a cavalo (ou mula, como ele prefere) e banhar em córregos. “Gosto muito de banhar no ‘corgo’”, diz, soltando uma gargalhada. “Também gosto bastante de viajar, dançar, fazer uma roda de viola e, principalmente, estar com as pessoas”, completa.
A vocação pelo sacerdócio, segundo ele, veio na adolescência. “Escolhi ser padre porque quase não tinha padre na Igreja. Resolvi ajudar sendo um”, disse. E se não fosse sacerdote? “Se eu não fosse padre seria jornalista ou juiz”, revela, com o jeito de quem encontrou um jeito de traduzir a Bíblia para a linguagem que o homem simples do sertão consegue compreender.