A SÍNDROME DO ELEFANTE
A SÍNDROME DO ELEFANTE
Para se domar um elefante, um animal com uma força imensa, o maior animal terrestre, em média quatro metros de altura e doze toneladas, usa-se o seguinte método: desde pequeno, quando ainda é fraco, coloca-se uma corrente com elos grossos em uma de suas patas -no “tornozelo” -, atando-a numa árvore forte ou a algo que o pequeno elefante não consegue mover.
Por meses e meses o pequeno animal tenta em vão se soltar, emite seus barridos - o grito ou berro do elefante -, puxa, esperneia, mas anda poucos passos ao seu redor, pois está atado e por mais força e esforço que fizer não sai do seu pequeno mundo. Com o tempo, é condicionado de que sua força é inútil, algo em sua perna o impede de ir mais longe! Isto é registrado em sua mente - algo atado em sua pata tira suas forças. Então, ele se aquieta. Não luta mais. É domesticado lentamente para trabalhos futuros; obediente, aceita!
Quando volta do trabalho, já adulto, claro, é amarrado novamente pela pata com uma corda ou uma corrente mais fina, que ele poderia arrebentar facilmente, mas, condicionado a ficar quieto, não foge e nem se esforça mais, não adianta! Sempre ao tentar se mover para fora do seu pequeno mundo sente algo atado à sua pata, então, não reage! Não adianta!
Assim acontece com a maioria das pessoas sempre presas às correntes fictícias lhas impostas no decorrer da vida sob quaisquer pretextos. Sutilmente, desde a tenra idade, na juventude, na velhice - época da sabedoria, pois não se vê mais o mundo com as ilusões da juventude, já se passou por muitas coisas na vida -, alguns ainda supõem não adiantar mais lutar; o corpo está cansado, mas esquecem da capacidade que possuem de resolver problemas e tudo na vida se resolve, pois não é necessário sempre ganhar, um bom acordo é bem melhor, porém, muitos vivem agarrados e dominados pelas “verdades” aprendidas durante a vida.
Desde a tenra idade até a adolescência somos amarrados com cordas ou correntes - conceitos, doutrinas, costumes, escala social, ensinamentos de obediência, subordinação - e crescemos carregando estas fictícias amarras na mente e não importa a cultura ou o país em que se vive. E mais, tudo isso em nome da tradição e do bem-estar social! Quem não segue a tradição é considerado um desajustado! Se teimar em continuar a desobedecer é tido como subversivo - em relação a governos -, herege - em relação a igrejas -, ou um louco ou demente -, pela sociedade. Fugir do padrão imposto incomoda aos líderes; pais, governantes e religiosos, ninguém gosta de ser desobedecido e adoram impor normas! Claro, quando somos pequenos é necessário que alguém cuide de nós, nos eduque, nos proteja, nos encaminhe para a vida, porém, toda esta didática emprega o medo! Desde a mais inocente história nos contada tem fundo de submissão; o Bicho papão, a Cuca vem pegar, Saci-Pererê, Mula sem cabeça, o medo do escuro, a religião dominante onde se reside é que a correta, o pecado, Deus castiga e etc.
Todos elogiam e gostam de pessoas humildes, mas poucos desejam possuir esta “virtude”.
Entretanto, os costumes mudam, mesmo sem a anuência dos que tentam manter as rédeas de tudo. Surgem novas religiões, novos meios de comunicações, o saber se espalha via livros, jornais, rádios, televisão, internet, a ciência desmente boa parte de mitos e lendas, e, mesmo assim, muitos ainda continuam presos às correntes fictícias que os aprisionam a vida inteira. Surge nova safra dos donos do poder entupindo-nos e massacrando-nos de “verdades” e conceitos, e, tudo volta a ser como antes, mas com uma nova metodologia de se fazer a mesma coisa: obedecer, submissão! E, cada um no seu quadrado se acha protegido por conceitos e doutrinas seja ela de quaisquer tipos; governamental, religiosa, partidária, social, etc., são tantas divisões de conceitos e doutrinas, principalmente, políticas e religiosas que se levadas ao pé da letra, enlouquecemos! Uma verdadeira lavagem cerebral! Uma loucura! Um verdadeiro exército de “boas pessoas” preocupadas em fazer algo por nós e nos salvar! E por este ato sublime, por este esforço descomunal deste “exército da bondade”, pagamos caro por esta proteção e esta ajuda!
OBS: pessoas boas sempre existiram e sempre existirá independente de credo, raça, cor ou partido político...
Segundo dizem várias fontes, Hitler acreditava em Deus! - não que eu concorde com o que ele fez, claro -. Charles Chaplin, Oscar Niemayer, Leonardo da Vinci, Sigmund Freud, Pablo Picasso, Jean Paul Sartre, Sócrates, José Saramago, Monteiro Lobato, John Lennon, Confúcio, Bill Gates, não! Esta é apenas uma pequena lista de pessoas bem conhecidas que foram ou é referência para a humanidade, portanto, não é a religião em si que torna as pessoas melhores ou piores. Claro, existem muitos religiosos bons, maravilhosos e a lista também é grande, mas ninguém fala que os nomes desta pequena lista de céticos acima fizeram mal a humanidade, muito pelo contrário, são estudados até hoje e nos deixaram também um grande legado.
Por que será!
Será que eles não aceitaram serem domados e não se preocuparam com a corrente fictícia em suas patas? Será que lutaram contra a Síndrome do Elefante, romperam as amarras da vida e tiveram, eles, força o bastante para serem livres e construíram seu próprio destino? Será que a mente dessas pessoas não necessitava de apoio externo e eles eram autossuficientes? Certamente, passaram por momentos difíceis, tiveram angústias, interrogações, mas seguiram em frente.
Ter um momento de reflexão é muito bom, parar por um momento para orar e elevar os pensamentos para o bem é a melhor coisa da vida, ser caridoso, ajudar o próximo, viver em harmonia, participar de um grupo ou organização para o bem-estar de muitos é sublime e muito louvável.
O ponto é: acreditar ou não acreditar em Deus torna alguém melhor ou pior? Ou será que pessoas assim já possuem em si uma bondade nata, um propósito em melhorar o mundo e deixaram aflorar seu Deus interior? O ponto relevante é que muitas pessoas não aceitam as amarras, as correntes e conceitos goela abaixo, não importa se se é religioso ou não. Uma religião, claro, ajuda e muito aflorar o lado bom das pessoas, mostra um caminho, mas como tudo na vida levado ao pé da letra, prejudica, fecha a mente, tudo tem que ser bem dosado. A melhor coisa do mundo é possuir uma mente aberta, não se esconder sob o manto de qualquer conceito e se reciclar sempre.
Uma curiosidade: quantos ateus estão nas prisões? Alguns podem até dizer os ateus é uma minoria, por isso, poucos são condenados, mas se se fizer uma pesquisa nas prisões todos por lá dirão que acreditam em Deus e em Jesus.
O foco desta premissa é: ser livre! Livre para pensar, fazer o melhor para a humanidade e não viver sob a tutela de conceitos e mais conceitos, pois se vive muito bem respeitando leis e costumes; o crucial é não se deixar ser escravizado e manipulado por conceitos e doutrinas, mesmo sendo elas excelentes. Qualquer adepto de uma organização, seja ela política ou religiosa, lutará para angariar adeptos e meios financeiros para sua causa e usará de todos os argumentos possíveis para embasar seus conceitos e, então, correntes nas patas; lutar, viver, morrer e angariar fundos para a causa, caso não o faça, é um traidor, um herege, um desajustado.
Quem não pertence a nenhuma causa de carteirinha é tido como fora do contexto, aos que estão dentro da causa; as amarras, o engessamento, os códigos e conceitos, imputando na mente dos seguidores os fantasmas, os vultos, os mitos, a corrente fictícia do medo, que peiam e amedronta seus seguidores a vida inteira. Se se mudar de causa é a mesma coisa; há normas, conceitos, doutrinas, seus seguidores se tornam obreiros, soldados, gurus, santos e ícones.
Todos pregam a liberdade, mas para propagar livremente sua causa, criticam ou rebaixam outras doutrinas ou qualquer outro estilo de pensamento para se sentiram por cima, mas se está no mesmo lugar, pois foi o outro que foi rebaixo e não a sua organização que subiu. Não é por ter mais torcedores que um time de futebol é o melhor time ou sempre é o campeão. A seleção de futebol do país mais populoso do planeta nunca foi campeã numa copa do mundo, por lá o esporte mais praticado não é o futebol, como também o menor país do planeta nem futebol tem, portanto, ter ou pertencer à maioria não significa possuir a “verdade”.
Ser livre é não pertencer a nenhuma causa, mas ter a sua própria causa, é ter conhecimento de todas para não ser engessado, criar sua própria base de ensinamentos para orientar-se na vida. Quem pertence a uma determinada causa não é livre o bastante para falar em liberdade, a causa o torna preso a determinados conceitos, sua visão é míope e distorcida para poder opinar sem paixões sobre outros assuntos.
Jamais devemos nos ater a um só principio ou causa. Quanto mais se sabe sobre outras coisas melhor entendemos e respeitamos nossos semelhantes. Devemos sempre dar uma peneirada em tudo que nos falam e ensinam e toda doutrina tem seu ponto fraco, então, exclua-os, assim, sempre se terá a parte mais benéfica e saudável, e se cria por si só um compêndio de boas coisas. Sempre veja os dois lados de tudo.
Fim.