A MULHER DOS OSSOS DE VIDRO
Há quem não acredita em milagres. Há quem acredita que tudo é milagre. E há pessoas como a cantora Cidinha Silva, 31 anos, que é o próprio milagre. Maria Aparecida da Silva, por conta de uma incompatibilidade sanguínea de seus pais, nasceu portadora de osteogenesis imperfecta, aquela doença que a pessoa tem os ossos de “vidro”, ou seja, quebram com facilidade.
Cidinha teve sua primeira fratura aos 20 dias de nascida. Até os 13 anos, ela contabilizou mais de 100 fraturas. Vivia o tempo todo engessada. Isso inibiu seu crescimento. Ela mede apenas 1m04 de altura. Cidinha conta que desenvolveu sérios traumas psicológicos por conta da anomalia. “Pensei em tirar a própria vida várias vezes. Ser diferente não é fácil. Eu tinha muito medo de não ser aceita na escola, na sociedade, não arranjar trabalho, não ter uma vida normal”, conta.
A vida era dura, ao contrário de seus frágeis ossos. Um dia, segundo ela, quando ainda morava em Formoso, foi a uma igreja evangélica e sua vida mudou para sempre. Um pastor (Edmilson, ela se recorda) orou por ela e o que era quebradiço tornou-se sólido. “Deus me curou. Meu irmão Gaspar, que tinha o mesmo problema, também alcançou o milagre. Ele não andava, passou a andar. Eu, que vivia em cadeira de rodas, consegui me apoiar nas próprias pernas e caminhar. Desde então minha vida tomou novo rumo. Eu tinha 13 anos na época”, lembra.
“Aceitei Jesus e passei a viver um milagre”, explica. “Meu emocional também foi reestabelecido. Perdi a timidez e passei a cantar. Através da música pude ser notada e respeitada”, completa.
O tempo passou e as fraturas, tão comuns como respirar, cessaram. Apenas seu crescimento ficou estagnado. Mas a vida pôde ser retomada e novos horizontes foram sendo conquistados pela pequena grande mulher. “Meus sonhos começaram a ser realizados”, vibra.
O primeiro sonho a se tornar real foi conseguir se formar. Pela UEG de Porangatu, graduou-se em História. Diploma na mão, foi à luta, começou a virar o jogo da vida em seu favor. Elegeu-se conselheira tutelar em 2007, na cidade de Formoso, onde morava. Um ano depois, abandona o posto por ter sido aprovada em um concurso público para lecionar em Montividiu do Norte. Encarou a sala de aula e fez bonito. Mesmo com suas limitações físicas, se destacou e conquistou o respeito e a admiração dos alunos e colegas professores.
O segundo sonho era ter um veículo para facilitar sua locomoção. “Muita gente duvidava que eu seria capaz de trabalhar, comprar minhas coisas, ter meu carro. Mas graças a Deus estou mostrando que posso”, desabafa. Ela não só adquiriu seu carro, como conseguiu tirar sua CNH. “Sou uma motorista habilitada”, gaba-se.
Mais sonhos
Cidinha Silva não parava de sonhar. E não parava de correr atrás da realização. Cantar apenas não bastava. Era preciso levar sua arte a mais pessoas. Conseguiu: gravou um CD e uma DVD, intitulados “Sou Um Milagre”. O álbum, composto de dez faixas, tem quatro canções de sua própria autoria, inclusive a faixa-título. “Foi um grande presente que Deus me deu”, revela.
O CD e o DVD alcançaram boa acolhida no seio evangélico. Na divulgação de seu trabalho, Cidinha cantou em dezenas de cidades de três estados: Goiás, Tocantins e Rio de Janeiro. “As pessoas ficam maravilhadas com o milagre de Deus na minha vida”, afirma. Mas seu sucesso não fica restrito ao fato de suas características físicas. Cidinha é dona de uma voz muito afinada e poderosa. Possui muitos recursos vocais, aperfeiçoados por horas diárias de ensaio e dedicação.
Ela quer mais: “Quero gravar o segundo CD e viajar todo o Brasil, cantando”, compartilha a cantora de fala mansa e pausada.
O último grande sonho realizado foi há seis meses, quando subiu ao altar para dizer “sim” a Marcos, o grande amor da sua vida. “Estou muito feliz. Todos os meus sonhos estão sendo realizados. Não é fácil, mas com força de vontade e fé em Deus tenho superado os obstáculos”, disse. “Não tenho filhos ainda, mas Deus me dará em muito breve. É o próximo sonho que realizarei”, relata, com a certeza e a fé, que a fazem uma gigante.
“Passei a entender que sou diferente exatamente para fazer a diferença na vida das pessoas”, finaliza a cantora, que não tem mais seus ossos triturados a qualquer toque. O que ela quebra todos os dias é a barreira do medo, do preconceito e da desconfiança das pessoas.