CURRICULUM ADALBERTO GOMES PRATES

Eu, Adalberto Gomes Prates, sou o quarto filho de uma irmandade de 8. Já nasci feliz pela origem de uma família ilustre e pelo nome que tenho: Adalberto pelo germânico, significa: de Adal (nobre) e Berto (ilustre, brilhante) Ilustre por sua nobreza.

A família Prates descende de origem nobre holandesa que na pessoa de Jácome Van Praet, deslocou-se daquele país passando pela Bélgica fixou residência em Portugal, passando para gerações o sobrenome na forma portuguesa de Prates. Assim, Antônio Prates que veio ser Secretário Geral da Junta dos Três Estados, Juiz do Tribunal do Santo Ofício, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Senhor da Póvoa de Santo Adrião, criou o novo Brasão da família Prates, desprezando o Brasão anterior. Três irmãos com sobrenome Prates, vieram para o Brasil.

Nasci no dia 12 de novembro de 1926 de família humilde, mas, de honradez exemplar, Guilhermino Gomes Prates, Juiz Distrital de “casamentos” no Distrito de Laços da Comarca de Ituaçu-BA, onde exerceu também o comércio de secos e molhados, e de Corina Amélia Prates, de prendas domésticas.

Aos 7 anos de idade, iniciei os meus estudos com a professora pública estadual Elza dos Santos Rebouças, natural da capital do nosso Estado, onde residia, sendo nomeada para assumir a cadeira do ensino primário naquele Distrito, para onde vinha pelo único transporte ferroviário até Contendas do Sincorá, onde existia a última Estação Ferroviária para o seu destino, enfrentando ainda longa montaria a cavalo, considerando-se talvez uma viagem para o “fim do mundo”, pois a distância percorrida era calculada em 700 km. No período de suas férias, meu pai contratava uma professora leiga, particular, dona Maria Clara Rocha (carinhosamente dona Clarinha), que lecionava à custa dos pais de alunos, em uma casa que ficava pouco adiante de onde a professora pública ensinava.

Quando ainda menino, aos 13 anos, acompanhei meu pai em sua mudança parcial para Várzea Queimada, no mesmo município de Ituaçu, com o comércio de secos e molhados, onde aprendi a trabalhar. Além da ajuda que dava ao meu pai em sua casa comercial, era eu o encarregado de, todas as sextas-feiras, levar o sustento alimentício para parte de nossa família que havia ficado naquele Distrito. Sem faltar com a minha ajuda ao meu pai, aprendi a fazer alpercatas, que vendia com um bom lucro, para o alívio do bolso dele, que até então arcava com todas as despesas. No decorrer do tempo, aprendi a fazer valises, malas, rédeas, cabrestos e arreios para montaria, além de outras miudezas. Na época, aprendi ainda a tocar sanfona de oito baixos. Lembro-me de um camponês de idade avançada, de bigode cheio, de nome Emídio, que dizia sempre ao meu pai: - Esse menino ainda vai tomar conta de uma caixaria na cidade grande, de fazer gosto.

Em 1945, meu pai comprou uma propriedade no lugar denominado Ladeira, a 5 km de sua casa comercial, para onde mudamos com toda a família. Com uma compra que fiz de uma fábrica de sandálias sociais que se achava desativada nesta cidade de Brumado, passei a ganhar mais dinheiro.

Naquela região, somente eu sabia dar nó em gravatas, e as mulheres descobriram (ou pelo menos diziam) que eu tinha a mão boa pra cortar cabelos, quando me faziam de cabeleireiro. O salão era apenas a sombra de uma árvore que ficava na frente de nossa casa. O serviço não lhes custava nada; eu só o fazia para servir e pelo prazer de aparar aqueles lindos cabelos que lhes cobriam os ombros. Em troca, recebia delas um bonito olhar e um “até logo”.

Aos 24 anos de idade (Dezembro de 1950), deixei o meu passado como lembrança, e despedi-me da minha família e dos amigos e desloquei-me para Vitória da Conquista, em busca de outras escolas para me garantir um futuro melhor. Levei comigo a saudade até da casa onde nasci, de arquitetura ao estilo antigo, com uma porta e quatro janelas de frente, coberta com telhas de duas águas, tendo um imenso quintal produzindo frutas deliciosas e por onde corre um rio perene de águas cristalinas que marca o limite de nossa propriedade com outras vizinhas.

A lembrança da casa onde nasci me faz recordar de algo de que não gostaria de me lembrar. Fico triste quando me lembro de que a água daquele rio é imprópria para o consumo por conta das verminoses que ali proliferam.

Fico, todavia, feliz ao lembrar como os meus conterrâneos se trajavam bem. Com eles conheci a Casemira Aurora, o Tropical Inglês, o Panamá e o Linho Diagonal York Street S-120, todos importados de outros países.

Lembro-me de um negro chamado por Coquí (o próprio nome identifica a sua cor negra), que tinha como profissão um carro de bois de aluguel que transportava cana-de-açúcar e outros produtos da região.

Nos dias festivos, aquele negro apresentava-se trajado de linho branco diagonal, de paletó e gravata e usando o melhor chapéu (até hoje insubstituível), o Ramenzoni3Xis.

Jamais me esquecerei também do dia em que me despedi da terra onde eu nasci, em cima de um caminhão, recebendo poeira e sol, por uma estrada sinuosa de chão, em uma jornada de mais de 185 km, durante a qual faltava-me até água para beber.

A viagem foi longa, mas finalmente cheguei na bonita cidade de Vitória da Conquista, onde vi noites mais claras do que a luz do dia, com a iluminação elétrica que antes eu não conhecia.

Ali me encontrei com quatro primos amigos, Walter Gomes de Miranda e suas irmãs Iracema, Alice e Maria Augusta (Mariquinha), filhos de minha Tia Dina Prates de Miranda, nascidos onde eu nasci, mas, já moravam naquela cidade, todos eles casados.

Tive outro encontro importante, com um Auditor Fiscal de nome Cid Magalhães e sua irmã Hélia Magalhães (esta amiga inesquecível no dia 4 de fevereiro de 2010 despediu-se deste mundo), com quem fiz boa amizade ao longo de 60 anos. Como prova da nossa amizade, em uma época em que minha filha Célia Regina estudou no Instituto São Tarcísio, naquela cidade, recebeu deles um convite para morar em sua casa, onde desfrutou de excelente acolhida, de que jamais me esquecerei. Como justa gratidão, dei-lhes como afilhada a minha filha mais nova, Cleide. Além de sermos compadres, nos consideramos irmãos.

Meu terceiro encontro foi com o Dr. Vespasiano Dias, meu conterrâneo amigo, cirurgião-dentista que mantinha tradicional amizade de nossos pais, Guilhermino Gomes Prates com o Coronel Minervino Dias, a quem me apresentei, em seu gabinete dentário, no Edifício Lindóia, na Praça Barão do Rio Branco, e dele recebi um bilhetinho de apresentação para que fosse entregue ao professor Everardo Públio de Castro, diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial– SENAC, instalado no Prédio Escolar Barão de Macaúbas, onde atualmente é o Fórum João Mangabeira. Na oportunidade, matriculei-me naquela escola profissionalizante, onde obtive a grande oportunidade de galgar outros cursos importantes.

Em 25 de fevereiro de 1954, fui ao Rio de Janeiro a convite do meu tio Agenor Gomes Prates, e com ele me hospedei, na Rua Jorge Rudge 53, casa n° 24, Vila Isabel.

Ao chegar àquela capital, estranhei o fato de ver mulheres quase despidas, com os seios e as pernas à mostra, desfilando à luz do dia para o carnaval daquele ano, que aconteceu nos dias 28 de fevereiro, 1° e 2 de março.

Em maio de 1955, matriculei-me no curso de Química Industrial a distância no Instituto Científico de Química do Rio de Janeiro, reconhecido pelo Ministério da Educação, que ministrava vários cursos e contava com um invejável corpo docente de 20 professores, sob a orientação do Diretor Presidente Dr. Armando Schepis.

Tendo concluído o curso de Química Industrial, escolhi esta cidade de Brumado em 1958, na época com pouco mais de 20.000 habitantes, onde montei uma Fábrica de Bebidas, tendo como destaque o Vinho de Jurubeba Lobo e o Vermouth Rozano.

Essa fábrica foi a primeira a ser instalada nesta cidade, com sede na Rua Dr. Marcolino Moura, n° 17, onde eu recebia constantes visitas, inclusive das jovens estudantes do Ginásio General Nelson de Melo, ocasião em que eram fotografadas saboreando a boa qualidade do nosso Vermouth Rozano. Nossos produtos eram vendidos de São Félix e Cachoeira na Bahia até a cidade mineira de Montes Claros, e ao lado Oeste do estado, em Boquira, Oliveira dos Brejinhos e Ibotirama.

Para realizar entregas nas regiões circunvizinhas, comprei um velho caminhão Chevrolet com defeito na ignição. Por isso, o motorista responsável pelas entregas, o senhor Joaquim Retratista, deixava-o sempre engrenado em uma descida que havia na Rua Teodoro Sampaio, ao lado da casa do Monsenhor Antônio Fagundes.

É curioso lembrar que Washington Fernando, hoje conceituado funcionário da Magnesita S/A, quando ainda menino travesso naquela época, entrou naquele caminhão e o desengrenou, foi o quanto bastou para que o veículo descesse ladeira abaixo a quebrar tudo, inclusive a derrubar um poste da rede elétrica. O prefeito da época, um dos meus bons amigos, Manoel Fernandes dos Santos, autorizou o funcionário responsável pela iluminação a substituir o dito poste.

No dia 15 de fevereiro de 1959, editei o 1° jornal desta cidade, a circular aos domingos com o título de O Jornal de Brumado. Por falta de ajuda financeira, porém, não obtive sucesso no meu objetivo de manter um jornal em nossa cidade.

Em 2 de setembro de 1962, data em que constituí a minha família casando-me com a professora Maria de Lourdes Prates, filha do Major Antônio Xavier Prates e de dona Alice Rizério Prates, antes porém, havia construído uma casa para morar no centro desta cidade, à Rua Marechal Deodoro, nº 236.

Até então eu não acreditava em fenômenos invisíveis destruidores. Todavia, nesta época me fez acreditar que eles existem quando vi o meu patrimônio acabar em pouco mais de 14 meses sem que eu tivesse o direito de uma prévia defesa.

Sem outra opção a seguir, arrumei as malas com o pouco que me restava e me desloquei desta cidade, levando comigo Lourdes, a minha mulher, e o meu primeiro filho Adalberto Júnior, com quatro meses de idade; e fomos morar em um quarto de um pensionato em Vitória da Conquista, que ficava à Praça da República, n° 12, hoje Praça Tancredo Neves, de onde trilhei novos caminhos.

Com o que me restou da venda da minha casa, somado com as prestações recebidas da mesma transação, iniciei uma pequena fábrica de colchões de molas “Plumatex”, na Praça Lauro de Freitas, nº 23, naquela época, no centro daquela cidade de Vitória da Conquista, que fui obrigado a fechar com apenas 1 (um) ano, ao registrar prejuízos.

Na oportunidade, comprei um lote em um bairro nobre da cidade (Bairro Recreio), na Avenida Jonas Hortélio, 290, ao lado da Praça do Gil, onde comecei a construir uma casa em que passamos a morar em 1965, dita casa ainda em fase de construção.

Já sendo pai de Adalberto Júnior e Célia Regina, e sem outra condição para mantê-los, obriguei-me a vender-la por CR$ 6.000.000,00 (seis milhões de cruzeiros), para um senhor de nome Estevão Ferraz, quando passei a morar em uma casa de aluguel, na Avenida Siqueira Campos, nº 2. (naquela época).

De antemão, perdi CR$ 5.000.000, 00 (cinco milhões de cruzeiros) em um aval que paguei em favor de um senhor de nome Evítor Manoel da Paixão. Fiquei com CR$ 1.000.000,00 como única reserva para manter a minha família. Ainda sem saber seguramente em que investir, emprestei aquela quantia a juros para um senhor de nome Vicente Albino Costa, que me deu como avalista Edigar de Andrade Lopes. Quando comprovei que também estava perdido, outorguei poderes ao advogado Sebastião Teixeira Costa para receber o valor devido por Vicente, de forma “amigável ou judicial”.

Só depois descobri que o Dr. Sebastião Teixeira Costa era advogado de defesa do Sr. Edigar, o réu acionado junto ao emitente Vicente Albino Costa, o que o levou a abandonar a minha causa a ele confiada. A partir daí, comecei a enviar-lhe cartas solicitando a devolução dos meus documentos, os quais recebi depois de muita insistência. Tendo-os em mãos, outorguei poderes ao advogado Dr. Péricles Alves Moreira. Só assim foi resolvido o impasse.

Adalberto Prates
Enviado por Adalberto Prates em 15/04/2013
Reeditado em 22/04/2013
Código do texto: T4242140
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