Amar é abstrair-se de si mesmo

“Amar é abstrair-se de si mesmo” dizia José Augusto, com muita convicção. Mas de onde surgia aquela ideia, nem mesmo ele sabia. Talvez ele já tivesse nascido com essa concepção, resquício de vidas passadas. Mas, de fato, era notória a quantidade de pensamentos reflexivos de relevância humana que eram proferidos daquela boca. O dono dela se fazia de bobo, mas disso ele não tinha nada. Era tão sábio na sua esperta loucura quanto um monge budista. E disso ele sabia muito bem, fazia questão de divulgar seus conhecimentos extraídos do mundo. Porém isso não se dava de uma maneira egocêntrica, mas sim como quem quer passar a diante tudo o que aprendeu.

Quem não é louco nesse mundo contemporâneo tão transfigurado? Quantos sanatórios a céu aberto encontramos ruas a fora? O mundo é dos fortes, daqueles que conseguem se camuflar em normalidade perante as naturalidades instintivas humanas. O segredo hoje em dia é dissimular as emoções. Mas há quem não precise desses artifícios hipócritas. O autor da frase acima citada é um exemplo de tal. Se somos todos iguais em nossa imagem e insanidade pra que nos escravizarmos a padrões medíocres e normativos? Onde fica a liberdade de criar e de se expressar nesse meio que ao mesmo tempo que estimula a loucura a reprime? É por isso que os artistas sofrem tanto. Não há espaço para eles, nem sequer uma brecha, nessa sociedade insadecidamente insensível. Quem sofre mais com tudo isso é quem ainda tem sensibilidade para perceber que tudo está errado.

Ninguém entre os loucos disfarçados foi ensinado a abstrair-se de si mesmo, mas a cobrar dos outros um amor que não existe. E assim, a ilusão romântica fantasiosa é fabricada na mente dos jovens e demais marionetes do consumismo. E o tão distorcido amor, tão deturpado Eros, é vendido cada vez mais caro para aqueles que escolhem o prazer da ilusão em detrimento da dor da realidade.

Stephany Eloy
Enviado por Stephany Eloy em 04/04/2013
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