UM FENÔMENO BEM-VINDO
Em data ignorada, final da década de 50, uma parturiente camponesa desprotegida de poderes aquisitivos para deslocar-se para sua cidade, Vitória da Conquista, aproximava-se os seus últimos dias de vida, sendo velada com enorme tristeza pelos seus vizinhos. Certa noite, alta hora da madrugada, adentrou naquela sala do velório um cidadão trajado de jaleco branco e sapatos também brancos, portando em mãos uma pasta e perguntou:
-Em que quarto está uma desvalida parturiente?
Alguém o levou até o quarto, e, momentos depois, a dita parturiente viu nascer o seu filho.
O pai da criança lhe perguntou, naturalmente:
- Qual o débito tenho a pagar?
- Nada.
Esta foi a sua resposta.
– Não vim aqui pelo dinheiro, mas a bem de uma caridade.
Aquele Médico ao despedir-se dalí, surgiu uma dúvida entre os presentes: para uns, aquele era o Dr. Crescêncio Silveira, enquanto outros discordavam, dizendo que o Dr. Crescêncio Silveira já havia morrido.
Posteriormente, o pai da criança, tendo ido a Vitória da Conquista, lá certificou-se de que o Dr. Crescêncio Silveira havia falecido no dia 20 de julho de 1952.
O Dr. Crescêncio Silveira, natural de Caetité, nasceu no dia 16 de outubro de 1884, tendo chegado a Vitória da Conquista em 1914, aos 30 anos de idade. Era formado em Farmácia e depois em Medicina pela então Faculdade de Medicina da Bahia, com defesa de tese. Em 1918, teve expressiva participação no combate à terrível epidemia da gripe espanhola em Vitória da Conquista, para o que contou com a ajuda dos seus colegas médicos Nicanor Ferreira, Alexandre Carvalho e Bernardo Pedral Sampaio.
Na política, chegou a ser conselheiro municipal em 1918, deputado estadual em 1934 e prefeito de Caculé.
Foi casado com D. Cândida Guimarães Silveira, com quem teve dez filhos. Como médico, o Dr. Crescêncio Silveira atendia a todos, praticando a caridade, e não pelo dinheiro. Prova disso é que quando faleceu não tinha uma casa para morar.