Amor e sofrimento

Há tempos escutei uma jovem se queixando, chorosa, de sua vida afetiva, reclamando que o amor a fazia sofrer, deixando-a em constante sobressalto, com medo e profundamente estressada. A conversa não era comigo, de forma que me contive para não meter minha colher torta no assunto. Mas que deu vontade, deu.

Ora, um sentimento que faz sofrer, sobressalta, traz medo e estressa, pode ter o nome que tiver, mas não é amor. É como diz a antiga de Luiz Menezes, um menestrel gaúcho: “nossa história foi louco desejo, foi febre, foi beijo, mas não foi amor...”. O grande problema das pessoas é confundir amor com paixão. Na verdade, esses dois sentimentos são bem semelhantes, mas identificáveis no decurso e lamentáveis no desfecho. Quando alguém diz que “nosso amor acabou”, na verdade está proferindo uma inverdade, pois amor não acaba. O que pode ter ocorrido o esfriamento de uma paixão, o término da ilusão. Paixão, como um incêndio, dá e passa. Amor, como a chuva fina que cai, molha, vivifica e produz frutos. Se acabou, não foi amor...

Sentimentos recheados de mágoas, temores, ciúmes, desejos de superação, não podem ser classificados como amor, mas limitados ao triste rótulo da paixão. Pelos frutos se conhece a árvore. Se uma relação termina com ódio, inimizade e rancor, é porque não foi amor. Ás vezes um casal pode até separar, por motivos vários, mas continua se amando, e isso se traduz pela ajuda mútua, pela presença e pelo desejo de um querer o bem do outro. Mesmo à distância.

O amor é coisa gratificante, traz alegria e faz crescer. No amor não existe temor, ao contrário, expulsa o medo e cria a segurança. Pessoas que se confessam inseguras na relação, não estão amando, mas apenas apaixonadas. Amor que faz sofrer não é amor. Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino já ensinava que “amar é querer e realizar o bem do outro; mesmo com sacrifício próprio”. Se alguém não se entrega, não se preocupa com o bem do outro, não ama; apenas gosta. E gostar, gasta.

Às vezes as pessoas perguntam: “Estou apaixonado! Que faço?”. A resposta pode parecer um jato de água, mas é racional: “Primeiro te desapaixona, e depois avalia a situação com cabeça fria”. As decisões tomadas sob a inspiração da paixão tornam-se, via-de-regra, desastradas. Na filosofia de Kant, paixão aparece como uma inclinação emocional violenta, capaz de dominar completamente a conduta humana e afastá-la da desejável capacidade de autonomia e escolha racional.

Para quem não sabe, o verbete paixão tem sua origem em páthos, que, no grego, significa doença, sofrimento, desordem.

Texto extraído do meu livro (a sair) “O sentido da vida”

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 22/03/2007
Código do texto: T421679