OS DESAFIOS TECNOLÓGICOS

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Queira ou não, as tecnologias estão produzindo novas formas de conhecer, de se relacionar com as coisas, com o mundo em que vivemos e com os outros. De forma evidente as linguagens estão modificando a nossa forma de comunicar dentro e fora da sala de aula. As diversas instituições que pautam a nossa realidade, a cada dia se apresentam mais dependentes dos processos de comunicação e das tecnologias de comunicação e informação de massa. O ingresso do vídeo na sala de aula não acontece por acaso, vimos em vários depoimentos que os alunos estão se adaptando gradativamente às linguagens correntes nos meios de comunicação tornando ineficientes, e/ou quase, a lógica e as argumentações, não por serem ineficientes, mas por terem se tornado incompreensíveis. Assim sendo, segundo Sodré (2001, p.21), estamos agora no regime daquilo que E. Verón chamou de indiciário. A socialização com gestos, nas flexões, nos sinais. Tudo isso que compõe o universo oral e que vem da mídia eletrônica. No indiciário, não há linearidade discursiva, não há argumentação, não há princípio nem fim.

Na realidade existia o mito ou preconceito na década de 1940 do século XX de que “a boa educação se dá na sala de aula, com professores bem preparados e remunerados, e alunos bem alimentados” (SCHVARZMAN, 2004, p. 108), assim sendo, não se acreditava no potencial do cinema no ensino conforme depoimento do educador Paschoal Leme, prestado em 1997 a pesquisadora mencionada.

No entanto todo o nosso ambiente de ensino está ainda fortemente organizado a partir da lógica e da argumentação, a realidade do conhecimento, que constitui a realidade da escola enquanto instituição; que segundo o próprio Sodré (2001), deve “gritar” a sua realidade assim como os meios de comunicação fazem com a sua.

Se pensarmos o espaço da sala de aula como um ambiente equilibrado, percebemos que a presença do vídeo, trazendo a linguagem audiovisual, desequilibra as linguagens provocando com isso uma necessidade de adaptação de todas as outras linguagens presentes, pois, algo novo está acontecendo. Esta alteração exige do docente o conhecimento da linguagem audiovisual que, em geral, ele desconhece tornando suas práticas uma espécie de cego em tiroteio, onde o guia opera com a linguagem estranha, que ele conhece apenas de forma implícita como consumidor de discurso dos meios de comunicação. Isso não impediu que o vídeo tenha servido para a realização de experiências criativas e produtivas. A disponibilidade de salas equipadas no caso das turmas/séries pesquisadas, proporcionou aos docentes de disciplinas diferentes, trabalharem com um tema comum o que contribui para uma visão menos fragmentada do mundo.

Uma verdadeira abertura ao vídeo ainda carece de maior conhecimento por parte da escola, como instituição, pelas diversas dimensões do currículo: formal, informal e oculto e pelos docentes, do modo próprio de operar da linguagem audiovisual, que atua ao nível dos sentimentos e das emoções. Para assim transpor a barreira que os separa da argumentação e construir um ambiente que una sentimentos e razão, capaz de equilibrar novamente a ecologia a sala de aula. Onde a lógica da escola se articule com o dia-a-dia dos discentes e conviva produtivamente com as outras formas de aprendizagens nas quais estamos inseridos.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 28/03/2013
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