ESCOLA, VÍDEO E CRITÉRIOS

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

A medida que outros ambientes começam a permear, virtualmente, o ambiente escolar o controle sobre conhecimentos escolares e métodos se esvai. Duas formas de controle então se evidenciam: o controle sobre os equipamentos e a sala de aula e o controle sobre os docentes. O controle exercido sobre o equipamento cria regras para sua liberação e uso mantendo o controle do currículo sobre a tecnologia, mantendo-a ao seu serviço, dessa forma o currículo media a inserção do vídeo na escola. Isto se evidencia quando a direção e/ou os docentes, em reunião, decide que a liberação da sala de vídeo deve ser feita a partir de um planejamento onde constem pelo menos: o título do vídeo, os saberes curriculares e os resultados esperados. Apesar de parecer uma decisão interna da escola e está intimamente relacionada ao que é prescrito e regulamentado, e ao que será avaliado, posteriormente, por mecanismos internos e/ou externos. As decisões são tomadas a partir principalmente do currículo prescrito e regulamentado e do currículo avaliado em cada disciplina.

Muito mais discreto, mas não menos eficiente é controlar os docentes, à medida que estes conhecem a filosofia das turmas/séries e da escola em que estão inseridos, mesmo tendo liberdade de ação, irá fazê-lo de acordo com o que a escola espera deles. A escola, por sua vez, responde a uma sociedade, a um mercado, e precisa formar pessoas que respondam ao que a sociedade espera deles e aos pressupostos da cultura dominante. De qualquer forma, a lógica dos meios de comunicação, e neste caso do vídeo, não se impõe livremente à escola, há sempre um controle, uma negociação prévia. A escola sente a necessidade, pelo menos, de conhecer cientificamente a linguagem dos meios de comunicação para tornar mais eficientes

seus processos de ensino-aprendizagem, mas não pode abrir mão de seus princípios filosóficos e sociológicos. Por isso, tem adotado critérios e/ou regras com relação à utilização do vídeo, segundo as necessidades de cada momento vivenciado em cada disciplina do currículo formal. Jamais o vídeo e/ou qualquer outra tecnologia por mais moderna e sofisticada que se apresente substituirá a ação pedagógica do docente, dentro e fora da sala de aula.

Os critérios de utilização da tecnologia, aplicados sobre o equipamento e/ou sobre os docentes, são critérios não somente de organização da utilização das salas de vídeo, mas também de controle sobre a “visão de mundo” dos meios de comunicação, e seus efeitos de sentido, ex-vi o poder de massificação em termos de alienação nacional e mundial de determinados temas divulgados pela televisão.

Quando se exige que o docente descreva os saberes curriculares que vai trabalhar não é somente uma forma de preservar a prescrição curricular, mas é uma forma de impor a lógica do currículo, neste caso, sobre a do vídeo. Também a escola que evidencia seus princípios aos docentes e lhes dá autonomia realiza este controle de outra forma. Assim, a escola se apresenta como uma instância mediadora diante do modo de fazer do vídeo, quando este se impõe a ela como uma necessidade, no momento em que os discentes apresentam dificuldades para entender as linguagens da escola. A sala de aula, ambiente sagrado do conhecimento acadêmico, lógico e racional até muito pouco tempo, começa a ser permeada por outro ambiente onde predominam as emoções e a intuição.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 27/03/2013
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