OS CONHECIMENTOS E O VÍDEO

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Em grande parte dos casos observados ou relatados em entrevistas o vídeo foi utilizado como tecnologia para apresentar determinados conhecimentos, muitas vezes com um caráter meramente ilustrativo. Quando o docente passou o vídeo e deu uma revisão na matéria, observou que a nota dos alunos melhorou na avaliação; assim, o vídeo, com sua linguagem, conseguiu algo que as aulas do docente não haviam conseguido. Em outra situação, por exemplo, a falta de um laboratório com esqueleto pode ser compensada com um vídeo. Até mesmo o fato de os discentes não terem piscina olímpica, quadras de esportes para cada modalidade, aparelhos de ginástica entre outras coisas, podem ser amenizadas pelo vídeo, quando os discentes podem ver e saber sobre estes esportes que existem e até aprender suas regras. Em suma o vídeo pode ser aplicada sua tecnologia em diversas ocasiões e situações diversificadas da sala de aula e/ou não.

Assim, o vídeo trouxe para a sala de aula o mundo da História da Bíblia Sagrada: os Romanos, dos Gregos, dos Hebreus, foi até o período dos dinossauros, passando pela primeira e segunda grande guerra mundial, a bomba de Nagazaki e Hiroshima até aos episódios mais recentes, como o avanço do terrorismo em escala mundial. Isso indica como o vídeo traz para a sala de aula a possibilidade de se deslocar no tempo e no espaço, no dia, hora e local que o docente e/ou discente quiser assistir: vendo e ouvindo.

Um docente, no estudo da Antigüidade Clássica Greco-Romana, diante da dificuldade de ser compreendido atentamente pelos discentes através da linguagem oral e escrita, procurou um filme, claro em vídeo, exibiu aos discentes, determinou os objetivos da atividade, fez uma breve descrição dos resultados esperados, depois disso, propôs uma tarefa aos discentes. Os discentes ao assistir o filme juntamente com o docente tiveram uma vivência comum que permitiu o diálogo e a compreensão dos conhecimentos propostos. Com a apropriação destes saberes curriculares, os discentes montaram uma peça de teatro que foi apresentado aos colegas de outras turmas/séries da escola. Depois, numa prova, o docente avaliou o que foi apreendido pelos discentes no processo. Importa observar e registrar que numa situação como esta, e também nas outras, onde o vídeo é utilizado para apoiar a compreensão de conhecimentos, sua contribuição se limita a oferecer uma leitura em linguagem diferente. O vídeo toma assim o lugar do livro didático e responde ao processo de ensino-aprendizagem, apenas inovando com relação à linguagem que migra, em parte, da oral e escrita para a audiovisual: ouvir e ver, simultaneamente.

O ambiente criado pelos meios de comunicação torna a própria comunicação cada vez mais visual, tanto pelas facilidades de captar, armazenar, manipular e exibir imagens paradas e/ou em movimento, como pela facilidade de leitura que se faz de forma intuitiva, não exige grande esforço para a sua decodificação, e pode ser feita de forma superficial e mais rápida. Paralelo a isso, o hábito de ler está se tornando mais raro entre os jovens, conforme vários docentes apontaram, em especial uma docente de história que tem utilizado o vídeo como apoio visual para contar histórias. Além disso, os discentes têm, cada vez mais, dificuldade de fazer síntese a partir do que lêem, precisam ver e ouvir. Em outras palavras, um docente de Ciências apontou para esta necessidade, por exemplo, se referindo a coleta seletiva do lixo na cidade:

Agora estou começando a trabalhar com o lixo, reciclagem de lixo, só que este eu quero depois que a gente trabalhar, absorver bem em sala de aula, eu quero sair pela comunidade, pegar uma manhã e fazer eles como monitores na área de reciclagem e separação. Porque nada como o visual, eles querem ver, tanto é que eles sempre questionam, procurando saber se tem vídeo dando o exemplo de como agir... (Prof. de Ciências das turmas/séries envolvidas na pesquisa).

Vendo por este ângulo parece que a escola como instituição séria, não tem outra saída, precisa se adaptar à forma de aprender dos discentes, apropriando-se das possibilidades apresentadas pelos meios de comunicação e informação atuais. Para tanto, precisa reconhecer que ao mudar a linguagem, muda também, a forma de organizar o ensino-aprendizagem. Vale afirmar de que a tecnologia do vídeo não substitui a didática e muito menos as metodologias usadas pelos professores, mas que de forma magistral complementa-as.

A escola fragmenta o conhecimento nos saberes curriculares das disciplinas, os meios de comunicação fragmentam as informações e dentro dessa lógica, não há inovação. Quase a mesma lógica está presente quando se busca o vídeo como fonte de informação, mostrar aos discentes o que existe funciona como um passeio virtual onde apenas a cabeça se desloca, participa, uma espécie de alienação do bem. Este tipo de experiência é o que hoje temos em maior abundância na mídia. Viajamos para lugares exóticos, distantes, inacessíveis aos nossos recursos econômicos, subimos montanhas mergulhamos nas profundezas dos oceanos, visitamos todos os impérios terrestres, tudo sem levantar de nossa cadeira e muito menos sair de nosso terreiro. É por isso que Sodré afirma que “As pessoas participam sem corpo. É só olho e cérebro” (SODRÉ, 2001, p. 23). A cada dia são mais em número e em sofisticação as experiências simuladas que os meios de comunicação e informação nos proporcionam. Assim se amplia o nosso ambiente que agrega o ambiente dos meios de comunicação ao nosso ambiente original, sem haver necessidade de mudança de endereço geográfico. Nossa possibilidade de conhecer se estende até onde alcançamos meios que estão à nossa disposição. Neste ambiente, começa uma mudança que foge aos critérios das disciplinas estudadas no currículo escolar programado, faz-se então necessário outro controle por parte da escola, já que a presença na escola pode ser apenas virtual, ou corporal. Dentro da sala de vídeo o discente poderá estar realizando experiências que vem de outro ambiente e/ou de qualquer parte do mundo. No período seguinte ele pode estar no recreio comentando uma viagem realizada no passado, imaginando o futuro, quem sabe? Estas possibilidades que os meios de comunicação, a exemplo da internet e do vídeo, permitem a escola que ainda não sabe como trabalhar com elas.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 27/03/2013
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