O VÍDEO E SUA PRODUÇÃO

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

A produção de vídeo nas turmas/séries pesquisadas tem duas modalidades: a produção dos discentes como resposta a solicitações dos docentes, que se aproxima da modalidade chamada vídeo processo por Ferres (1996), e produção dos docentes sobre trabalhos dos discentes, que cumpre uma função avaliadora. A primeira modalidade aparece fortemente nas turmas/séries onde, como já foi colocado anteriormente numa aula de Língua Portuguesa, metade dos discentes apresentou vídeo, de modo que,

Eu sempre dou dois livros por bimestre para eles lerem, sempre com temas digamos... sociais, sempre procurando encaixar os problemas dos adolescentes e a orientação humanista do colégio, aí eles têm que me apresentar os personagens, a época, como foram resolvidos os problemas, uma leitura mais técnica e uma apresentação para os colegas da história que pode ser teatro, vídeo, cartaz ou qualquer outra coisa criativa. Verifica-se que a maioria apresentam vídeo. (Professor de Língua Portuguesa das turmas/séries pesquisadas no COFRAG).

Em dialogando com discentes descobri que apresentar em vídeo dá uma certa segurança, pois se alguma coisa der errado pode ser refeita antes da apresentação e eles tem um certo receio de se apresentar ao vivo em forma de teatro, também em vídeo pode ser mais humorístico e não tem perigo de ninguém rir durante a apresentação. Observa-se que a grande maioria dos trabalhos apresentados repete formatos de programas da televisão brasileira,

como humorísticos, talk shows, novelas e telejornais. A cultura da televisão aqui aparece como a reprodução dos gêneros de programação da televisão, o discente como consumidor vai aprendendo o modo de fazer e de se expressar da televisão e reproduz isso em seus trabalhos escolares. É importante mencionar, mesmo sem saber qual a razão, de que o gênero humorístico é o mais preferido entre os adolescentes. É bom frisar de que os docentes também produzem, pois, registram peças de teatro, motivadas a partir de vídeo, e feiras de ciências e/ou mostras culturais em que trabalham seus discentes. Em suma, outra modalidade sempre usada é o faz de conta, tendo em vista que:

Eles são obrigados a ler pelo menos um livro paradidático por bimestre, uma vez agente inventou que eles tinham que apresentar como noticiário, então eles tinham que imaginar que estavam sendo filmados, a gente não filmou, mas eles tinham que imaginar que estavam sendo filmados. Mas, fazendo de conta, eles têm que assumir uma postura, não podem de forma alguma errar. (Prof. de Língua Portuguesa das séries/turmas pesquisadas).

A televisão e seu modo de fazer estão presentes, mais do que nunca, na sala de aula, principalmente porque é na sala de aula que o telespectador é também discente e por esta razão o vídeo se insere primeiro nesta dimensão do currículo escolar, isto é o currículo em ação. Importa aqui lembrar que vídeo e televisão operam da mesma forma apenas quanto ao vídeo temos algum controle amais sobre a exibição. Errando, acertando experimentando e mesmo não dando muito certo os docentes vão tentando descobrir caminhos com as possibilidades que se apresentam:

Encontra-se em meu poder a fita que filmei do Santuário de Nossa Senhora do Desterro e/ou da Sagrada Família, construído há mais de 140 anos pelo senhor Carlos Gomes de Melo, situado na zona rural de Cruz do Espírito Santo/Paraíba. E esses dias ainda estava mostrando e ouvi o comentário de um discente assim: “mas quem é que filmou esta m...” Simplesmente respondi filmei sem muitos recursos em termos de equipamentos e a luz do dia, em resumo dá para quebrar um galho, melhor do que nada. (Professora de História/COFRAG).

Esse docente de História falou que a Secretaria do COFRAG tem câmaras de vídeo que são muito pouco utilizadas. Esta ociosidade das câmaras resulta de dois fatores: o primeiro, é o medo de que estes equipamentos possam ser roubados e/ou estragados, o outro, é que falta uma cultura de produção que vai desde a operação do equipamento, supõe-se que docente não treinamento técnico especifico, até o desconhecimento do modo de operar das

linguagens audiovisuais. E noutras conversas, notei que todas as turmas/séries visitadas (não só aquelas em que entrevistei os docentes) têm acesso a câmara de vídeo seja do COFRAG, de docentes, de discentes e/ou de pais. Trazer essa tecnologia e essa linguagem para a escola possibilitaria trazer os problemas e as questões sociais locais para a sala de aula.

O sonho da produção própria de vídeo que apareceu nesses depoimentos é apenas um reflexo de outros tantos que de uma e/ou outra forma sentem falta, essa alguma coisa que não se define bem o que é, mas que se sabe ser mais próxima do discente, mais local e/ou regional. Nas turmas/séries estudadas apenas dois docentes, de sexta série/Ensino Fundamental, não têm feito uso do vídeo, sendo um de matemática e outro de ciências, especificamente nessa disciplina existe pouca coisa produzida. A TV/Escola tem algumas aulas, porém esses professores não descobriram a forma de encaixar em sua disciplina. As razões se devem principalmente ao fato destes professores estar preocupados mais com os conhecimentos escolares do que com as suas aplicações, em conseqüência disso, não encontram o que querem, e em segundo lugar as turmas/séries não estão preparadas e organizadas para gravar a programação da TV Escola regularmente. Filmes, documentários, desenhos animados, vídeos didáticos, novelas e, até mesmo, programas de humor são mensagens vindas de outras realidades e apesar de muito utilizados nem sempre respondem a necessidades específicas locais apresentadas pelos docentes.

A tecnologia do uso do vídeo vai sendo adaptada ao fazer diário da sala de aula da escola e do docente, muito mais do que a escola se adapta à tecnologia. As formas de trabalhar continuam as mesmas, apenas é agregado um recurso a mais que contribui na execução dos objetivos propostos e se molda ao fazer do docente, não sem modificar de alguma forma esse fazer. Disso resulta que uma outra sistematização poderia ser feita, caso se partisse de outro ponto de vista, por exemplo: se a base da sistematização fosse a ousadia, a criação livre, os resultados seriam diferentes daqueles onde o acomodamento impregna as práticas sugeridas pelo currículo escolar regulamentado.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 25/03/2013
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