O VÍDEO LAZER ESCOLAR

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Esta modalidade de inserção do vídeo tem um pouco do programa motivador, mas cumpre uma função lúdica de forma diversa da proposta por Ferres (1996), cumpre esta função mais próxima ao que ele classifica como consumo passivo. Em minhas observações não pareceu nem um pouco passivo, pois presenciei discussões interessantes sobre um destes filmes no recreio. Aparentemente é a forma menos comum de utilização da tecnologia nas turmas/séries pesquisadas, apenas numa o vídeo como espaço de lazer é admitido oficialmente por parte de seus discentes. Nesta turma/série a direção se encarrega de programar este espaço, em um período vago, pelo menos duas vezes por mês:

Assim duas vezes por mês seriam os dias em vez de ir ao cinema que é um gasto maior para os alunos e suas famílias. Então o colégio oferece para os alunos a exibição em dois dias diferentes por mês de filmes (em vídeo) com temas brasileiros educacionais e/ou da literatura de ficção ou não, gratuitamente a titulo de atividade extra-classe no auditório do Cofrag. (Diretora Adjunto do Cofrag).

Vale registrar que a intenção da Diretora Escolar Adjunta, no início, foi a de criar um espaço continuado, onde os discentes pudessem assistir filmes que tratassem da questão da inclusão social, da AIDS e outros temas de interesse da juventude brasileira e mundial. Havia no COFRAG uma turma de discentes “considerados especais” numa turma “privilegiada” que foi dissolvida nas turmas/séries regulares. Com esses filmes procurou-se criar um clima de receptividade àqueles discentes. À medida que o tempo foi passando e novos problemas foram surgindo, a direção, apoiada pelos docentes comprometidos, começou a apontar filmes que poderiam desencadear um processo de discussão dos mais diversos problemas. Dessa forma o espaço foi se institucionalizando até porque grande parte dos discentes não tem vídeo em casa, na cidade existe a prática de grupos de jovens se reunirem na casa de alguém que tem vídeo para ver filmes locados, como porque ir ao cinema é muito dispendioso, além de ter que pagar passagem de ida e volta para a Capital da Paraíba, pois, em Santa Rita não tem mais cinema, pois, todas as casas de projeção foram transformadas em outras atividades profissionais ou não, a exemplo do Cine São João, localizado à rua do mesmo, transformou-se em uma loja de informática, e o Cine Avenida, localizado à Praça João Pessoa, passou a abrigar um templo evangélico, isto desde a última década do século XX. A institucionalização desse espaço, passou a revolucionar a forma de tratar o vídeo no COFRAG porque extrapolam as atividades da sala de aula e continua no recreio e/ou nas horas de lazer. As discussões iniciadas na sala de vídeo continuam nos intervalos fazendo de cada um dos discentes um multiplicador de questionamentos e pontos de vista que se prolonga para muito além do conhecimento proposto. O efeito do vídeo se faz sentir em curto prazo como elemento permanente de socialização, que é justamente o objetivo principal da educação. Numa ocasião em que o filme exibido tratava de prostituição infantil e drogas, cuja intenção era alertar os discentes com relação a traficantes existentes na cidade visando oferecer sua “nóia” aos adolescentes das escolas públicas e privadas, gerou discussões, inclusive, junto aos docentes e aos pais. Apesar da situação polêmica o filme ajudou aos discentes no processo de entender melhor o mundo real e não virtual que os cerca trazendo para a sala de aula problemas reais do seu dia adia como disse um educador: “Falam, tendo em vista o que aconteceu com o pai de fulano, com o irmão ou tio de beltrano e assim por diante” (Professor de Ensino Religioso das turmas/séries pesquisadas).

O interessante nesta aplicação do vídeo sem uma função especificamente pedagógica é que ele adquire um significado de instrumento de socialização de uma cultura informal, a do cinema, que estaria inacessível para as classes menos privilegiadas economicamente falando.

Nas outras turmas o vídeo como lazer, nesta modalidade, que é diferente da apontada por Ferres (1996), é visto como matação de aula e/ou falta de preparação. Ao perguntar a Diretora Adjunta sobre a participação dos discentes na sugestão sobre títulos de vídeos a serem exibidos ela disse que “isso acontece com o tipo de docente que brinca de ensinar e o discente de aprender que usa o vídeo como lazer, o docente que usa o vídeo como recurso didático pedagógico, este sim, ele prevê antecipadamente tudo devidamente organizado e planejado” (Diretora Adjunta do Cofrag). Na maioria das entrevistas nota-se que a escola é um lugar de trabalho sério, nenhum docente se referiu ao lazer e/ou ao lúdico a não ser como ganchos para os conhecimentos a serem estudados.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 24/03/2013
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