COMUNICAÇÃO
COMUNICAÇÃO
Por Aderson Machado.
Eu era ainda menino quando já ouvia o meu pai dizer: “Em terra de sapo, de cócoras com ele.” A princípio, é claro, eu não entendia bem o significado desse ditado popular. Afinal de contas, eu era bastante pequeno, e não era curioso o bastante para pedir uma explicação a respeito.
É bom frisar que outros ditados populares eu ouvia as pessoas falarem, mas quero apenas usar o supracitado dito popular como mote deste texto.
Pois bem, o ditado popular em questão pode muito bem ser aplicado no que diz respeito à comunicação, principalmente a comunicação interpessoal. Com efeito, todos sabemos que existe a linguagem chamada coloquial, e a linguagem culta, formal, que é aquela que obedece as regras gramaticais, quer se trate da comunicação oral ou escrita. Esse tipo de comunicação, é bom frisar, vale para todas as regiões do nosso imenso Brasil. A linguagem coloquial, por sua vez, é a linguagem nossa do dia a dia. E é bom que se diga que cada região brasileira tem a sua linguagem característica, com suas gírias e entonações diferentes. Destarte, a maneira como o sertanejo nordestino fala é bastante diferente da maneira do sulista falar, muito embora o português seja o mesmo. Apenas varia o uso de certas palavras e gírias, como já foi mencionado.
Na arte da comunicação existe o binômio transmissor/receptor. Assim, a comunicação só é estabelecida se o receptor entender a mensagem transmitida. Caso contrário, não haverá comunicação.
Para exemplificar o que foi dito acima, gostaria de citar um diálogo que aconteceu entre um intelectual sulista e um velho nordestino, que não sabia ler nem escrever.
O fato aconteceu na cidade sertaneja de Cabrobó/PE, onde existe a famosa Ilha da Assunção, formada pelo Rio São Francisco, que é um ponto turístico dessa cidade. Pois bem, um certo dia chegou a Cabrobó um intelectual paulista que queria conhecer a tal Ilha da Assunção. Ele, então, se dirigiu ao velho barqueiro, que fazia o transporte dos turistas para a ilha em questão, e perguntou: “Meu senhor, quanto queres de recompensa pecuniária para transpor-me deste àquele polo, e qual é o lapso de tempo decorrente dessa incursão fluvial?”. O velho barqueiro, rude, e diante de tão grande eloquência, apenas se limitou a perguntar: “Cuma, doutor?”
Está aí, portanto, um exemplo de não-comunicação. Se o intelectual entende a linguagem do homem iletrado, a recíproca nem sempre é verdadeira, a menos que a pessoa escolarizada desça do seu pedestal, e fale uma linguagem que o seu interlocutor entenda. E é assim que a coisa tem que acontecer, para o bem da boa comunicação.
Com efeito, temos que falar, ou seja, usar uma linguagem compatível com a linguagem do nosso interlocutor. É uma questão de lógica, e de bom senso, acima de tudo. É por isso que o ditado popular citado no início deste texto se aplica muito bem à arte da boa comunicação. Assim, no caso envolvendo o diálogo citado neste texto, caberia ao intelectual mudar a sua maneira de falar, porquanto o velho analfabeto não tinha outra maneira de se expressar, quer dizer, não tinha alternativa em termos de comunicação verbal.
Pelo posto e exposto, fica claro que uma comunicação só se concretiza, efetivamente, se houver uma adaptação entre o transmissor e o receptor, principalmente quando o nível de intelectualidade entre os interlocutores for bastante acentuado.
É por aí.