PERFIL DA CIDADE

Buracos. Metrô. Poeira. Lama. Fumaça. Barulho. Poluição.
Trânsito congestionado. Engarrafamento.Passageiros nervosos.
Motoristas irritados. Trancos e barrancos. Carros nas calçadas. Pedestres desprotegidos. Em cada esquina, um vai-e-vem. Uma correria. Para que? Não sei dizer. É o progresso, talvez. É a grande "urbe" que se agiganta, que se enrosca, que se alarga, que se contorce num turbilhão de motivos. Arquitetura antiga. Ultrapassada. Novas construções. Coisas planejadas entre coisas não-planejadas. Uma confusão. Ônibus repletos. Ultra-velozes. Carros acidentados. Corpos retorcidos por entre as ferragens. Vidas levadas de arrastão num repente assustador. E as favelas que se derramam sobre a cidade? Muitas agrupadas na zona Sul. De praias lindas e poluídas. Copacabana, Ipanema, Leblon, Gávea, Recreio dos Bandeirantes, São Conrado, Floresta da Tijuca. Muitos mosquitos. Despachos de macumba nas encruzilhadas. Muitos assaltos à mão armada. Estupros. Assassinatos. Guerra de tóxicos. Incêndios propositais? Nas praças, bêbados e mendigos sobre os bancos, adormecidos ou inconscientes? Estarão dentro ou fora da realidade? Não sei dizer. Poderão estar "curtindo" apenas "uma boa".

Pão de Açúcar. Corcovado. Lá em cima, a beleza da paisagem. Sonho. Fantasia. Imaginação? E aqui em baixo, a realidade da vida frustante, sufocante,fumacenta,lamacenta, barulhenta, poeirenta. Buracos do Metrô. E o conflito da condução? É por isso que a japonesa não quis dizer o que achou da paisagem vista do alto. Sobre a cidade não deu opinião. Kanai preferiu admirar os bonecos do mineiro Antônio de Oliveira que para ela é uma arte mais real,mais duradoura do que o momento vivido de encantamento numa tarde quente de verão, lá no alto do Pão de Açúcar. Porque não pode haver comparação entre a visão de uma bela paisagem e o assalto de que foram vítimas, ela e o marido, perto do Hotel Glória onde se hospedavam. Eram seis pivetes armados de navalhas. Ninguém viu. Não havia guardas. E como sempre, uma queixa. Apenas uma queixa registrada. Nada mais. Assim é o Rio. Cidade cheia de contrastes. Belos e feios. Bons e maus.

(Artigo publicado na Revista-laboratório do 7* periodo de Editoração da Faculdade de Comunicação Social da FINES- 1978)
Victoria Magna
Enviado por Victoria Magna em 11/08/2005
Reeditado em 05/08/2007
Código do texto: T41900