Desgauchização

Tem muita gente que desenvolve um certo ufanismo pelas coisas do Rio Grande do Sul, como se fossem valores absolutos, imorredouros e incapazes de serem alterados. Até a estátua do “Laçador” perdeu espaço, para dar lugar à passagem do progresso. Foi gozado ver os cavalaríamos acompanharem o traslado, como se fosse a mudança de restos mortais de um herói farroupilha. O que muitos deixam de ver é que existe uma irreversível tendência nacional globalizada de esvaziar o Rio Grande.

Pelo poder neoliberal, globalizante das forças organizadas, nosso bairrismo e fragilidade econômica pouco ou nada podem fazer, exceto alguns protestos ou marchas de cavalarianos armados com lanças de pau.

Essa defenestração é um processo histórico e endêmico. Um desses episódios remonta a década de setenta, quando nos convenceram que plantar feijão e trigo era antieconômico, e que deveríamos adotar a monocultura da soja. Passamos a importar trigo da Argentina, e o preço do feijão paulista subiu às alturas. Nosso estado deixou de ser um produtor de alimentos de vanguarda. Depois, com a fixação do Mato Grosso do Sul como uma nova “fronteira agrícola” nossa soja ficou em segundo plano, restando-nos exportá-la para engordar a vaca do gringo, lá fora. Muita terra plantada mas pouco alimento para o povo.

Recentemente, nesse processo de desgauchização, vimos a Varig, dita por alguns como nossa, passar das mãos dos alemães para os paulistas. Novo golpe em nosso bairrismo. Aliás, as culturas bairristas são o primeiro alvo dos processos de globalização. Até os paulistas, campeões mundiais em bairrismo já reconheceram essa derrota.

A grande rede BIG, de lojas e supermercados, em dois anos passou para a Sonae (Portugal) que repassou à Wal-Mart (USA). A “nossa” CRT foi absorvida pela Telefónica, multinacional sediada na Espanha. A SLC (agora John Deere) também se foi. A Corsan resiste; não sei por quando tempo...

Agora a Ipiranga deixa de vestir a bombacha para aderir ao fashion internacional. Com a Brasken (multinacional sediada na Bahia) abocanhando 80% do setor, a globalização atinge a economia gaúcha que vê esvaziar-se seus últimos bastiões. Vamos continuar tendo operários para o trabalho pesado, mas sofreremos uma perda fundamental no comando, nas áreas de projeto e nas decisões, que ficarão afetas a profissionais de fora.

Nesse esvaziamento, constatamos que não houve nenhum gaúcho aspirante ao Ministério da Agricultura. Isto revela como estamos...

Até a “garra gaúcha” que fazia vibrar o nativismo das torcidas de Grêmio, Juventude e Internacional, hoje é movimentada por jogadores estrangeiros ou egressos de outros estados. Isto, cidadão, é realmente lamentável!

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 19/03/2007
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