VAIDADES

A pessoa vaidosa também tem seus momentos de lucidez e muitas vezes jungidos ao peso da amargura e desilusão com que são acometidos, deixam a desnudo um pouco daquilo que lhes atormenta a alma. Pois mesmo o vaidoso também tem alma, e seus momentos de desabafo, mormente quando constata que afinal não é tão importante como julgava ser e, muito menos amado por seus supostos amigos que não passam de bajuladores de ocasião.

Seu umbigo objeto de exacerbada idolatria, por um momento sente a fremente necessidade de um pouco de ar fresco renovador.

Quando isso acontece é momento de agradável e grata surpresa para aqueles que com eles ocasionalmente tem alguma relação, desinteressada, e suportam sua companhia.

A maior preocupação do vaidoso, ou da vaidosa é estar sempre em evidência, poder aparecer. Sua opinião tem que prevalecer sobre os demais. Chego a ter pena do cansaço e da amargura que devem sentir em certos momentos de maior solidão, quando sós, com seu pobre eu.

Permito-me pensar que, para lá da deformação, talvez genética ou defeito de criação, o outro grande problema que exacerba esse estado patológico do vaidoso (a) é a falsidade dos ditos amigos que o rodeiam, e por oportunistas ou outra desvirtude, costumam exacerbar e empanturrar o ego do dito cujo.

O nosso ego quando se transmuda em superego é semelhante a um simpático diabinho vermelho, de aguilhão camuflado com o qual costuma espicaçar a todos, indistintamente. Há os que gostam, e há os que rejeitam tais envenenadas e ardilosas coçadas. O tal mafarriquinho é por natureza, chocarreiro e traiçoeiro. Fácil é se deixar enredar em suas artimanhas, difícil é quebrar os tentáculos em que se deixou envolver. Ora, se até a Nosso Senhor, após seu prolongado jejum, o tal sedutor tentou!...

A humildade, o despojamento de orgulho, será com certeza o melhor, talvez único antídoto contra essa mazela da obliteração ou embotamento mental.

A humanidade, atualmente, dispõe de remédios para a maioria das doenças do nosso corpo, (não para todas, infelizmente), graças aos avanços da ciência; porém, para certos males da alma, a tarefa é ainda mais complexa, porquanto subjetiva.

Muita amargura, muitas decepções poderiam ser evitadas, se tivéssemos a coragem de trocar a dura couraça da empáfia pela diáfana leveza da modéstia, que ao fim e ao cabo é o contínuo exercício do bom senso; que, diga-se, torna-se tarefa por vezes nada fácil.

Se todos nós que gostamos de ter amigos, e penso que não há quem não deseje tal bem, quanto a mim, um dos mais preciosos bens; e se tivéssemos a coragem de romper certas barreiras e sobrepor preconceitos, talvez nossos olhos nos indicassem o caminho e as ferramentas com que se fazem amigos, ainda que haja quem diga que amigos não se fazem, mas algo que acontece até mesmo independentemente do acaso.

Amigos que podem estar ao alcance da distância de um abraço, logo ali ao dobrar a esquina.

Eduardo de Almeida Farias