A INFLUÊNCIA DE UM ÍDOLO NA VIDA DE UM FÃ

Dos dez filhos de mamãe fui o último a nascer. Crescemos vendo a olho nu mamãe e papai imergindo no tabagismo, cotidianamente. Para o mundo, fumar naquela época, era uma coisa muito chique, porém, elegância indiscutivelmente vetada às crianças. (Tente explicar isso para Jean Piaget, para Henry Wallon, para Vygotsky ou para muitos psicólogos por aí).

Em meados da década de 70, um cantor brasileiro ficou muito conhecido por suas atuações nos palcos, tanto a sua maquiagem cênica, quanto a sua indumentária exótica instigavam a uma alteração de opiniões a respeito da conduta masculina brasileira. Possivelmente, a figura do cantor produzia um glamour, ou quem sabe, uma atração categoricamente sexual sobre o espectador. Inúmeros admiradores mirins de todo o Brasil imitavam a celebridade, em casa, nas ruas, na escola ou nos mais diversos programas de televisão que, através de concursos mirins, estimulavam a idolatria à arte do músico, enquanto pais prostrados no sofá da sala de casa assistiam o desempenho do filho e se desmanchavam de rir.

Assim como a contínua confecção de ídolos, a fábrica de fãs, sonhos e ilusões não mais fechou e, a cada dia, surgem mais e mais artistas para serem idolatrados por nós brasileiros. Recentemente, surgiram milhares de dungas, ronaldinhos, neymares e alegorias das mais diversas ramificações artísticas e culturais. (Antes que meus ideais soem como uma forma preconceituosa de olhar o mundo preciso ressaltar que a discussão neste artigo não gera em torno da minha concórdia ou descórdia na tangente comportamental de quem quer que seja).

Segundo a psicologia, grande parte do aprendizado da criança é motivada pelo método da imitação, isto é, a criança concretiza aquilo que ver os adultos realizar. Na infância, geralmente, os adultos mais próximos da criança são os pais. Daí, os pais serem espelhos para os filhos. Quem nunca ouviu o ditado popular: “filho de peixe, peixinho é”? Claro que nem sempre isso acontece, entretanto, muitas vezes sim. Na dúvida, entre o sim e o não, o melhor mesmo é se policiar todo o tempo para não desenvolver na criança um antagônico sentimento social ou entusiasmo arbitrário aos padrões éticos.

Quem não se lembra do polêmico caso soteropolitano de uma professora de alfabetização que se ausentou de casa para dançar pagode, acabou empolgando demais, subiu no palco, escancarou toda a sua sensualidade e somente depois do ridículo descobriu que a sua dança erótica, senão pornográfica, foi filmada e o vídeo ganhou as redes sociais mundo afora? (Está mais do que provado que a minha ideia não é preconceituosa, mas sim, baseada na ética comportamental).

Pais, professores, artistas... Todos eles são espelhos não somente para as crianças, mas também para os adolescentes. Sendo assim, todos nós adultos precisamos constantemente policiar nossos comportamentos sociais para que sejamos exemplos morais e éticos às crianças e aos adolescentes.

Apesar do consumo indiscriminado do tabagismo por papai e mamãe, nenhum dos meus nove irmãos, tampouco eu adotamos o hábito de fumar, graças a uma educação no difícil estilo “faça o que falo e jamais o que faço”.

Hoje, como se não bastasse uma intensa propagação do erotismo que deflora a inocência pueril, promovido principalmente pelos veículos de informações, o consumismo desnecessário, o aguçamento da violência e o abuso de diversos entorpecentes, por pessoas cada vez mais jovens, milhares de fãs são aliciados por ídolos que, invés de contribuir com bons exemplos, optam por surgir nos horários nobres, de maiores audiências nas rádios e nos canais abertos de televisão empurrando goela abaixo dos telespectadores e ouvintes, produtos que, muitas vezes, nem mesmo aqueles “artistas” querem consumir! Sejam músicos, jogadores, atores, apresentadores, jornalistas... Muitos procedem anunciando remédios, sucos artificiais, cervejas, caipirinhas, cigarros, alimentos diversos que nem sempre oferecem melhor qualidade de vida, mas que pela credibilidade que o ídolo conquistou dos fãs define o resultado almejado pelo anunciante no momento da venda dos produtos oferecidos.

A criança e o adolescente observam os pais fumarem e beberem, porém, nem sempre adotam os hábitos dos pais, mas basta um ídolo (músico, jogador, lutador, ator, apresentador) abrolhar empunhando uma lata ou um copo de bebida alcoólica, por exemplo, o fã quer repetir a ação, como se o ato fosse indubitavelmente benéfico.

Na prática, a criança e o adolescente sempre acompanham as reações maléficas sofridas pelos pais, mas ao notar a conduta de um ídolo (que somente aparece impecável, ao esforço de maquiagens e caríssimos tratamentos de beleza) acham que certos hábitos propagados pelos semideuses, através da mídia, não oferecem maledicências à vida e, inocentemente, acabam entrando no mundo do vício. Escravos de uma manifestação propagandista indiscriminada, os fãs acreditam mais nos ídolos distantes que nas pessoas próximas. Por isso, um artista que se preze deve, no mínimo, ser coerente consigo e com a sociedade para que não contribua com o descompasso social.

Gilson Vasco
Enviado por Gilson Vasco em 06/03/2013
Reeditado em 05/08/2017
Código do texto: T4174390
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