Uma Manaus perdida

E pensar que Manaus era considerada uma Paris...

 
Há uns 20 anos, trabalhando na Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), encontrei, entre "quilos" de fotos esquecidas e arquivadas, uns slides antigos. Minha curiosidade aguçou, e fiquei boquiaberto e excitado com o que via passar no projetor: descobri simplesmente imagens raras de uma exposição da borracha em Nova Iorque, onde tudo o que era exposto tinha ido de Manaus. De uma cidade rica para outra.


E os slides-documentos históricos ali, guardados sabe-se lá há quanto tempo, sei lá por quem, e esquecidos de todos. Uma relíquia dos anos áureos de Manaus, uma Paris em plena SELVA AMAZÔNICA!!!

Lembro que havia uma reprodução de uma casa de seringueiros onde se defumava o látex. Havia outra foto mostrando empresários do automobilismo com seus sorrisos largos festejando ao lado de uma pirâmide feita por pneus. Tudo oriundo do nosso Norte brasileiro. Manaus no centro do mundo.

É, já fomos assim. Uma "Dubai" da Belle Époque.

 
Os barões da borracha, dizem, acendiam seus charutos com "notas de cem dólares" e as damas abastadas mandavam lavar as roupas em Paris. Se isso é verdade, não sei, mas nosso Teatro Amazonas é o único do Brasil que aparece em um e-mail que recebi, listando os mais espetaculares do mundo (veja abaixo que isso com certeza é verdade).


Manaus chegou a ser a cidade mais desenvolvida do País, com bondes elétricos, prédios luxuosos, palácios...

Mas aconteceu naquele tempo com a borracha o que acontece hoje com nossos outros produtos naturais igualmente valiosos: roubaram.

Uns anos atrás os japoneses queriam patentear nosso cupuaçu. Não deixamos, mas nesta semana os americanos patentearam o nosso jambu, e nossos pesquisadores da Ufam estão proibidos de estudar as propriedades naturais de uma das plantas mais amazônicas que existe. Quem aprecia um bom tacacá sabe o que estou falando.

Voltando à Manaus perdida, temos muitas fotos da cidade da Belle Époque, como essas que ilustram este texto. Mas, imagens da repercussão do que ela representava para a economia mundial, NADA. Que eu saiba, só havia ali naquela caixinha, onde estavam uns 30 slides, eu acho. Do tempo do projetor de slides.

Eu fico frustrado ao lembrar que as provas da época que Manaus era influente no mundo todo simplesmente se foram como as mudas de seringueira que foram para a Malásia. Nossa memória histórica vai tendo o mesmo declínio do ciclo da borracha.

Nós, manauaras, e os amazonenses, deveríamos ter mais brio pela nossa história. Vocês sabem o que é ter o mundo voltado para sua cidade? E uma miss Brasil do interior do Amazonas, que desbancou as cariocas vencendo o miss Cinelândia e, dizem, a beleza angelical pasmou Elizabeth Taylor? Terezinha Morango, (foto abaixo) foi segundo lugar no Miss Universo 1957.


Hoje somos somente mais uma cidade. Mas um dia fomos uma Paris.

...

Descobri por acaso aqueles slides, catalogando fotos. Eu deveria tê-los "recolhido" para meu acervo particular, porque o pessoal que ficou depois de mim, lá, não deve ter dado o mínimo valor.

É triste ver que a nossa HISTORIA está se perdendo aos poucos, por conta de alguns que não dão o valor merecido.

Nossos jovens não sabem quem é Thiago de Melo, um dos maiores e mais influentes poetas do Brasil (Pergunto: quem conhece "Os estatutos do homem"?).


(Thiago de Mello, amazonense do município de Barreirinha)
 
E que jovem sabe quem é Moacir Andrade, um dos artistas plásticos mais famosos do Brasil, com mais de dez mil telas pintadas e exposições de cerca de 70 países?


(Moacir Andrade, à direita. Abaixo, uma tela do artista)


 
Passa-me um filme na cabeça agora: "meus" slides devem ter sido "secretamente" arquivados por alguém que, como na cena final de "Os caçadores da arca perdida", pegou a caixa, sem saber da importância documental, e os "engavetou" em meio a multidões de outras caixas, perdidas no esquecimento, para sempre.

Acho que nem procuraram saber o que era. Foi um documento histórico valiosíssimo perdido, de uma Manaus perdida.

(Texto foi feito a partir de uma conversa e colaboração de Graciema Tavares, ex-aluna e futura publicitária).

Ilustrações
Manaus antiga: http://blogdorogeriomachado.blogspot.com.br/p/manaus-fotos-antigas.html,

Teatro Amazonas:
http://1.bp.blogspot.com/_HOQ_ojhtSLM/SZWiAQrQefI/AAAAAAAABbE/OOpYWIR3NsI/shttp://1.bp.blogspot.com/_HOQ_ojhtSLM/SZWiAQrQefI/AAAAAAAABbE/OOpYWIR3NsI/s400/teatro_amazonas1.jpg400/teatro_amazonas1.jpg

Terezinha Morango: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com.br/2010_01_01_archive.html

Thiago de Mello: http://www.portalamazonia.com.br/cultura/arte/no-dia-do-escritor-poeta-thiago-de-mello-fala-ao-portal-amazonia/

Moacir Andrade:
http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/09/exposicao-mostra-obras-de-moacir-andrade-em-manaus.html

Tela:
http://www.roupanovaral.com.br/eventos/exposicao-moacir-andrade/
Eduardo Escreve e Graciema Tavares
Enviado por Eduardo Escreve em 02/03/2013
Reeditado em 04/03/2013
Código do texto: T4167142
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