Fragrância Feminina na Poesia - Emily Dickinson

Fragrância Feminina na Poesia

Estamos dando continuidade a publicação destes pequenos artigos que visam mostrar um pouco da escrita poética feminina no cenário nacional e mundial.

Pretendemos, tão somente, falar da emoção de nossas descobertas literárias ao nos depararmos com a vasta produção feminina na construção de uma identidade poética.

É antes de tudo, uma gota de perfume que permitirá ao leitor curioso, buscar essências a partir da publicação destes textos.

Emily Dickinson

Fascinei-me pela escrita de Emily Dickinson, desde a primeira vez que a li. O poema, em questão era: Algo Existe, tradução de Lúcia Olinto in 75 Poemas de Emily Dickinson, Sette Letras, 1999 - Rio de Janeiro, Brasil, que transcrevo a seguir:

Algo existe

Tradução de Lúcia Olinto

Algo existe num dia de verão,

No lento apagar de suas chamas,

Que me impele a ser solene.

Algo, num meio-dia de verão,

Uma fundura - um azul - uma fragrância,

Que o êxtase transcende.

Há, também, numa noite de verão,

Algo tão brilhante e arrebatador

Que só para ver aplaudo -

E escondo minha face inquisidora

Receando que um encanto assim tão trêmulo

E sutil, de mim se escape.

Dickinson nasceu em Amherst, Massachusetts a 10 de Dezembro de 1830, numa casa cujo nome era The Homestead, construída pelos avós Samuel Fowler Dickinson e Lucretia Gunn Dickinson, no ano de 1813. Samuel Fowler era advogado e foi um dos principais fundadores do Amherst College.

Era a segunda filha de Edward e Emily Norcross Dickinson

Proveniente de uma família abastada, Emily teve formação escolar irrepreensível, chegando a cursar durante um ano o South Hadley Female Seminary.

Quando findou os estudos, Emily retorna à casa dos pais para deles cuidar, juntamente com a irmã Lavínia, que como ela, nunca casou.

Em torno de Emily, construiu-se o mito acerca de sua personalidade solitária. Tanto que a denominavam de a “Grande Reclusa”. É importante que se diga, que este comportamento de Emily coadunava-se com o modelo de conduta feminina que era apregoado no Massachusetts de Oitocentos. Emily, em raros momentos, deixou sua vida reclusa, tanto que em toda sua vida, apenas fez viagens para a Filadélfia para tratar de problemas de visão, uma para Washington e Boston. Foi numa destas viagens que Emily conheceu dois homens que teriam marcada influência em sua vida e inspiração poética: Charles Wadsworth e Thomas Wentworth Higginson.

Emily conheceu Charles Wadsworth, um clérigo de 41 anos, em sua viagem à Filadélfia. Alguns críticos creditam a Wadsworth, como sendo o alvo de grande parte dos poemas de amor escritos por Emily.

Quase tudo que se sabe sobre a vida de Emily Dickinson tem como fonte as correspondências que ela manteve com algumas pessoas. Entre elas: Susan Dickinson, que era sua cunhada e vizinha, colegas de escola, familiares e alguns intelectuais como Samuel Bowles, o Dr. e a Mrs. J. G. Holland, T. W. Higginson e Helen Hunt Jackson. Nestas cartas, além de tecer comentários sobre o seu cotidiano, havia também alguns poemas.

Foi somente em torno do ano de 1858 que Emily deu início a confecção dos «fascicles» (livros manuscritos com suas composições) , produzidos e encadernados à mão.

É intensa a sua produção de 1860 até 1870, quando compôs centenas de poemas por ano. A partir de 1864, surpreendida por problemas de visão, arrefece um pouco o ritmo de sua escrita.

Uma curiosidade na obra de Emily Dickinson é que apesar de ter escrito em torno de 1800 poemas e quase 1000 cartas, ela não chegou a publicar nenhum livro de versos, enquanto viveu. Os registros que se tem, é que apenas anonimamente, publicou alguns poemas.

Toda a sua obra foi editada postumamente, sendo reconhecida e aclamada pelos críticos.

Emily faleceu em 15 de maio de 1886 em Amherst, Massachusetts.

Atualmente a casa, onde ela nasceu e viveu, The Homestead é aberta para visitação no período de Março a Dezembro.

Alguns poemas de Emily Dickinson:

Beleza e Verdade

Tradução de Manuel Bandeira

Morri pela beleza, mas apenas estava

Acomodada em meu túmulo,

Alguém que morrera pela verdade,

Era depositado no carneiro próximo.

Perguntou-me baixinho o que me matara.

– A beleza, respondi.

– A mim, a verdade, – é a mesma coisa,

Somos irmãos.

E assim, como parentes que uma noite se encontram,

Conversamos de jazigo a jazigo

Até que o musgo alcançou os nossos lábios

E cobriu os nossos nomes.

Antologia da Poesia Americana, Ediouro, 1992 - RJ, Brasil.

Cemitério

Tradução de Manuel Bandeira

Este pó foram damas, cavalheiros,

Rapazes e meninas;

Foi riso, foi espírito e suspiro,

Vestidos, tranças finas.

Este lugar foram jardins que abelhas

E flores alegraram.

Findo o verão, findava o seu destino...

E como estes, passaram.

Antologia da Poesia Americana, Ediouro, 1992 - RJ, Brasil.

# 754

Tradução de Ana Luísa Amaral

Espingarda Carregada - a minha Vida -

Por Cantos - assim for a

Até passar o Dono - Me marcar -

E Me levar embora -

E agora erramos em Bosques Reais -

E perseguimos uma Corça agora -

E cada vez que falo em Sua vez -

As Montanhas respondem sem demora -

E se eu sorrio, uma amigável luz -

No Vale se faz ver -

É como se uma face de Vesúvio

Soltasse o seu prazer

E quando à Noite - já cumprido o Dia -

Guardo a Cabeça do Meu Dono -

Melhor do que Almofada em Penas Suaves

Partilhada - no sono -

Do inimigo Seu - sou-o, mortal -

Não se torna a agitar -

Esse em quem pouse o meu Olho Amarelo -

Ou enfático Polegar -

Embora eu possa viver mais - do que Ele

Ele mais do que eu - deve viver -

Que eu só tenho o poder de matar,

Sem - o poder de morrer -

# 8

Tradução de Ana Luísa Amaral

Há uma palavra

Que empunha uma espada

Pode trespassar um homem armado -

Lança as suas sílabas de farpa

E fica-se, calada.

Mas onde tombar

Os salvos dirão

Em dia da nação,

Deixou de respirar

Um irmão, um soldado.

Por onde corra o sol arfante -

Ou o dia vagueie -

Aí, o seu ataque sossegado -

E a sua vitória!

Notai o atirador mais hábil!

O tiro mais certeiro!

O mais sublime alvo do Tempo,

A alma "sem memória"!

#277

Tradução de Maria do Carmo Ferreira

e se eu disser que já é demais

e arrebentar portas carnais

e extrapolar compassos?

e se eu limar até o sabugo

além da dor além do luto

e liberar meus passos?

ninguém me pega mais - nem morta!

corram masmorras com revólveres

nada mais faz sentido

como o sorriso - nem me lembrem!

laços & fitas - shows mambembes

e o que morreu - comigo

# 288

Tradução de Ana Luísa Amaral

Não sou Ninguém! Quem és?

És tu - Ninguém - também?

Há, pois, um par de nós?

Não fales! Não vão eles - contar!

Que horror - o ser - Alguém!

Que vulgar - como Rã -

Passar o Junho todo - a anunciar o nome

A charco de pasmar!

# 712

Tradução de Ana Luísa Amaral

Porque não pude deter-me para a Morte -

Parou Ela amavelmente para mim -

Na Carruagem cabíamos só Nós

E a Imortalidade.

Seguimos devagar - Ela sem pressa -

E eu pusera de lado

O meu trabalho e o ócio também

Pela Sua Cortesia –

Passámos pela Escola, onde, em Recreio,

E no Adro - lutavam as Crianças -

Passámos pelos Campos de Trigo de Espanto -

Passámos o Sol posto -

Melhor - passou-Nos Ele -

O Orvalho caía frio e trémulo -

Porque de Gaze só o meu Vestido -

E a minha Estola - era de Tule só -

Parámos junto a Casa semelhante

A Inchaço no Solo -

O Telhado da casa mal se via -

A Cornija - no Solo -

Desde então - Séculos há - porém

Tudo parece menos que esse Dia

Em que primeiro adivinhei que as Crinas

Apontavam para a Eternidade

# 249

Tradução de Ana Luísa Amaral

Noites - Noites selvagens!

Estivesse eu - contigo

Tais Noites - o nosso

Deleite - seriam!

Fúteis - os Ventos -

A Coração em Porto -

Inútil - a Bússola!

Como a Carta - inútil!

Remando - em Éden!

Ah! o Mar!

E eu ancorar - Esta Noite -

Em Ti!

Fonte de Pesquisa:

- Sites:

http://www.globalpoetry.net/ed1.htm

http://www.poets.org/poets/poets.cfm?prmID=156

http://www.sappho.com/poetry/historical/e_dickin.html

© Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 17/03/2007
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T416037