O livro da Elizete - Paulo Betti

Amigos, como o tempo passa depressa! Parece que ainda ontem eu brincava o carnaval no Independência, via o Miroldo brilhando no desfile das escolas de samba na praça principal, usava a fantasia de morcego, o remendo na cintura denunciando, pela diferença de cor, o uso em outros carnavais.

Porque estou usando essas linhas para esse papo manjado da passagem do tempo?

Explico: fui golpeado implacavelmente pela simples verdade da poesia da Elizete, uma sorocabana que hoje vive em Piracicaba. Nasceu mais ou menos na mesma época que eu. Formou-se pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de nossa cidade, e é irmã da Eliane, a Giardini, atriz famosa de nossa terra.

Elizete sempre escreveu bem. Logo nos primeiros passos ganhou o Prêmio Governador do Estado, categoria Estímulo, de 1973 na categoria Poesia.

O livro "O Caçador de Laranjas" de Elizete Giardini Rosa é uma delicada prova de que nem sempre o tempo é capaz de destruir a vocação literária.

Ela, aparentemente abandonou a poesia para cuidar da família. Era o que eu pensava, a meia distância, casado com a irmã dela, Eliane, e lamentando que ela tivesse fechado as comportas.

De repente, tantos anos depois, surge o convite para o lançamento do livro da Elizete. Não pude ir ao evento em Piracicaba. Minhas filhas voltaram encantadas com a poesia da tia.

Fiquei temeroso desse confronto com o meu passado. Eu era testemunha dos contos e poesias juvenis da Elizete. O que o tempo teria feito com ela?

Como estaria pensando aquela moça linda que era irmã de minha namorada, depois minha cunhada e tia de minhas filhas?

Quando peguei o livro nas vésperas do Natal passado, senti a garganta estrangulada por emoção violenta.

Na contracapa uma seqüência de fotos ícones de boa parte de minha vida. Dona Wandyr e Wilma, jovenzinhas. "Seu" Homero, o caçador de laranjas, Paulinho, Thenysson, Tadeu, Eliane e Elizete tão novinhas!

Eu sabia que ia ser uma cilada escrever sobre esse livro! Não tenho competência nem isenção. Estou de novo sufocado pela emoção.

Deixo o leitor com a Elizete.

"Oração

Ainda bem que a rotina não me tirou a fome. A fome de beleza, de vida!

Ainda bem que o relógio impiedoso não me cegou a procura das paisagens mais perfeitas dos meus sonhos. Ainda bem!

Ainda bem que o cansaço do corpo, torturado pelas obrigações, não apagou a disposição e a curiosidade. Ainda bem!

Ainda bem que o coração pode sentir o bálsamo da música e se alegrar com ela. Ainda bem!

Ainda bem que o aconchego dos amigos ainda me dá prazer. A reunião, o toque, os olhares quentes ainda produzem doçura. Ainda bem!

Ainda bem que o regaço materno me acolhe toda vez que eu o procuro e se fecha sobre mim, carinhoso. Ainda bem!

"Ainda bem", eu digo, quando ouço, com alívio, o barulho do portão se abrindo para os filhos depois de suas noitadas.

Nos fins de semana, imagino que o céu fica prenhe de preces de mãe.

Ainda bem que o amor continua morando em minha casa e ainda é possível ouvir e relevar!

Ainda bem que ainda vejo beleza nas estações e compensação em cada uma delas e é com alívio que constato que ainda existem e se cumprem.

Ainda bem que sinto alegria ao voltar para casa depois dos deveres cumpridos.

Ainda bem que me sinto viva quando canto, me encanto, quando amo, quando estou com os meus.

Ainda bem!

Ainda bem que em minha vida ainda existem tantos "ainda bem"!

Degaspari Editora (Telefone 0xx19 3433-6748. Email: gráficadegaspari@terra.com.br

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A premiada Fernanda Maia está abrindo mais uma turma para crianças no Instituto Vila Leão. A apresentação de final de ano, com peça sobre o tema "Medo" foi um tremendo sucesso. A Fernanda é fera! Inscrições pelo fone 0xx15 3211-0465.

1/2/2007 - Jornal Bom Dia Sorocaba

http://www.bomdiasorocaba.com.br/index.asp?jbd=2&id=127&mat=62351

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 17/03/2007
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