PRODUTOR RURAL, HEROI SEM MEDALHA
Existem muitos momentos de alegria na vida de uma pessoa, mas a maior felicidade de um atleta, de um artista, de um soldado, ou de um trabalhador, por mas humilde que ele seja, é quando o seu trabalho é reconhecido e homenageado com medalhas ou troféus. Sempre temos o privilégio de presenciarmos na mídia a entrega de medalhas de ouro, aos melhores atletas de uma competição, presenciarmos a entrega do Oscar aos melhores atores e atrizes, entrega de cd de ouro, aos grandes artistas e também a entrega de medalhas aos melhores soldados pelos seus brilhantes gestos heróicos em benefício da sociedade. Mas nem sempre o destino é solidário com todos os heróis brasileiros. Falo de um herói que vive no anonimato, mas que luta constantemente contra todos os inimigos da natureza para produzir o nosso alimento de cada dia.
O homem do campo, o agricultor rural. Este de quem eu falo é também um grande herói de uma nação, por que uma nação só é forte se o seu povo estiver bem alimentado. Este soldado do campo sempre foi olhado com desprezo. Nunca teve pelo seu brilhante trabalho prestado a nação o valor que realmente merece. Jamais foi coroado com medalhas ou troféus pelos nossos representantes político ou mesmo pela sociedade da imensa selva de pedra, que depende todos os dias deste bravo soldado do campo. O produtor rural, apesar das inúmeras dificuldades que enfrenta no dia a dia, é o maior empregador de mão de obra desqualificada deste país. No entanto deveria ser elogiada pelo governo por este relevante serviço prestado a nação. Mas, por empregar alguns trabalhadores temporariamente, sem assinar C. de T. muitas vezes, até por falta de documento dos mesmos, ou por não oferecer casa construída com banheiro, água tratada para o consumo, uniforme de trabalho, alimentação de primeira classe, mordomias estas que, em muitas propriedades nem mesmo os próprios produtores rurais tem condições de desfrutar, por isso são chamados de escravagistas.
Por estas razões este mesmo produtor rural que vem de certa forma amparando o trabalhador que já é desqualificado por causa do próprio governo que não deu a mínima condição para que ele estudasse, lá na roça, onde vive para se qualificar, quando é denunciado por algum trabalhador, que na maior parte das vezes quer tirar vantagem encima da lei , o único direito que o produtor tem para se defender, é de ficar calado. Se não quiser ser preso como um bandido qualquer.
A intenção do governo com estas medidas que não dão nenhum direito de defesa ao produtor rural, é mais para arrecadar dinheiro com exageradas multas nos proprietários de fazendas, do que para proteger os trabalhadores rurais, que na maioria, são analfabetos e desqualificados. Naturalmente, quando eles perdem o único emprego que sabem fazer, que é o serviço braçal, passam a viver a mercê da sorte, perambulando de um lado para outro, passando até fome, porque o governo não lhes dá emprego, não lhes dá uniforme, não lhes dá água tratada, não lhes dá alimentação de primeira classe, nem se quer lhes dá um barraco de lona para morar pelo menos igual o que eles moravam enquanto prestavam o seu serviço nas propriedades rurais.
Com esta grande humilhação que os proprietários rurais estão sofrendo ao serem taxados de escravagistas, a situação do trabalhador desqualificado está ficando muito pior . Os grandes produtores que tem condições estão todos trocando a mão de obra braçal por máquinas agrícolas. Aqueles que não podem comprar máquinas estão deixando de limpar suas pastagens, até por que os próprios trabalhadores que tem documento não querem suas carteiras assinadas por trinta ou sessenta dias apenas. Tempo médio que gasta para terminar uma empreitada. O pião do trecho, como é chamado no campo, sem o único apoio que tinha dos produtores rurais, depois desta pressão do ministério do trabalho, só lhe restou uma saída: Imigrar para as periferias das cidades, onde foram integrar ao M. S.T. sendo obrigados a morar debaixo de um pedaço de plástico nas margens das rodovias, sem água tratada, sem banheiro, sem energia, sem diguinidade, esperando uma sesta do governo que muitas vezes nem aparece, ou então saquear cargas alheias nos caminhões que trafegam nas rodovias.
Sabemos que um erro jamais justifica outro erro, mas se fizermos uma comparação de vida com todos os trabalhadores que viviam em regime chamado escravo, pela a avaliação do ministério do trabalho, com os demais trabalhadores que foram resgatados desse tal regime e que perderam os seus empregos, as suas dignidades, e hoje vivem as margens das rodovias, sem carteira assinada, sem nenhuma condição de vida, ou que estão catando lixo pra sobreviver, ou estão morando nos bancos das rodoviárias mendigando um prato de comida, ou morando embaixo das pontes, ou nos subúrbios das favelas, por não conseguir arrumar nem mais aquele trabalho escravo nas propriedades rurais ; dá para pensar um pouco antes de responder esta pergunta... Quem será que está sendo mais escravagista? Os fazendeiros que às vezes emprega sem carteira assinada e não oferecem todas as exigências da lei, ou a maioria dos nossos representantes políticos? Que cobram uma das maiores taxas tributárias do mundo para zelar principalmente desse mesmo trabalhador desqualificado, mas que gastam grande parte deste dinheiro com mensalão, com campanhas milionárias, com compras super faturadas, com pagamento de dossiês, com aplicação em paraísos fiscais, e que alem de tudo isto, também não assina a Carteira de Trabalho dos funcionários públicos contratados. Digo isto com experiência própria. Do dia primeiro de janeiro de 1973 até o dia 30 de dezembro do mesmo ano, fui contratado pela Secretaria da Educação do Estado de Goiás para lecionar matemática e educação Física em dois colégios. Foram 12 meses completos, em que, eu e todos os professores contratados naquele período ficamos sem receber nenhum centavo pelo nosso trabalho.
Mas o produtor rural, apesar de ser um herói discriminado, é um soldado valente, não desiste nunca, luta constantemente contra todos os inimigos da natureza, inimigos estes, que não escolhe nem a hora nem o dia para atacar a sua produção agrícola. Existem tantos contra-tempos na vida dos produtores rurais que, raramente eles conseguem colherem suas lavouras com 100% de aproveitamento sem que haja nenhum tipo de prejuízos. Quando a produção é recorde e a lavoura teve a sorte de escapar de todos os prejuízos provocados pela natureza, seria evidente que os produtores tivessem muitos lucros com suas produções de alimentos. Porem acontece exatamente o contrário. A grande safra que poderia realizar o tão almejado sonho dos produtores é atacada por mais um poderoso inimigo. A lei da oferta e da procura. Quanto maior a oferta menor é a procura e conseqüentemente menor será o preço. Isto por que o governo não tem uma política agrícola desde 1990 para manter os preços mínimos, como acontece nos paises desenvolvidos, e mais uma vez o produtor termina perdendo dinheiro na sua grande safra.
Todo sonho que parecia se realizar, torna-se num grande pesadelo na vida dos produtores que muitas vezes não consegue quitar suas dividas com os bancos e chegam até perder partes de suas propriedades para quitar débitos contraídos para aquisição de máquinas, implementos agrícolas, adubos inseticidas, sementes, mão de obras, etc...
O tão almejado sonho que ele tanto procura realizar, sempre vai ficando para o próximo ano. Mas o produtor rural é um soldado valente, não desiste nunca de lutar contra os seus inimigos. Sempre acredita no seu trabalho e que o próximo ano será melhor. Nada o faz recuar de lutar pelos seus objetivos.
Alem de enfrentar todos os inimigos da natureza: secas, tempestades, enchentes, geadas, pragas de várias espécies e também: juros altos, impostos exorbitantes e a falta de política agrícola do governo, ainda surgiu mais um poderoso inimigo para atormentar a vida dos produtores rurais. São as invasões incentivadas pelo movimento do M.S.T. Na maioria desordenada, sem consistência e com grandes requintes de crueldades.
Sem pensar no trabalho, no sacrifício, no tempo e no custo que o proprietário gastou para adquirir e construir sua propriedade, os sem terras chegam invadem tudo na marra, sem dar nenhuma satisfação a ninguém e para surpresa de quem pensa que eles querem terra para trabalhar, o primeiro trabalho deles é destruir cercas, queimar máquinas agrícolas, queimar casas, matar animais e às vezes chegam a entrar em confronto com trabalhadores das fazendas quando tentam defender o patrimônio do patrão, construído com muito suor ao longo de muitos anos de trabalho
Alguém já deve estar pensando que sou contra a reforma agrária. Pelo contrário. Sou defensor da reforma agrária, porém de forma justa, sem invasões e com punições severas aos lideres do M.S.T, que apóiam saques de cargas, depredações de propriedades rurais, de centro de pesquisas, de órgãos públicos, etc. Dar terra para quem quer trabalhar nela e não para a maioria dos integrantes do M.S.T. que querem terra apenas para vender. Digo isto por que mais de 60% das terras distribuídas pelo Incra já estão nas mãos de terceiros.
Alegam os lideres do M.S.T. que estas invasões constantes são para pressionar os políticos que não tem nenhuma pressa e nenhum interesse em fazer a reforma agrária. Talvez por que os maiores latifundiários sejam os própios políticos.
Existem outros métodos mais democráticos para pressionar os políticos: nada mais justo do que fazer manifestações pacíficas, sem infligir o direito do próximo, ou usar a principal arma que todo cidadão possui, que é o voto livre e soberano. Todo representante político eleito para governar um país tem o dever de defender o direito de propriedade que está registrado na constituição brasileira.
Entretanto centenas de propriedades rurais já foram invadidas e depredadas, laboratórios de pesquisas já foram destruídos, caminhões saqueados e até o congresso nacional não escapou da fúrea incontrolável do M.S.T. Os culpados estão na maioria impunes, cada dia mais ousado e cheios de razões, achando tudo normal, jogando sempre a culpa nos políticos... O governo sempre fazendo vista grossa diante dos acontecimentos e o produtor rural continua pagando o pato que não comeu.
A situação vem se agravando dia a dia e o produtor rural nos últimos dez anos vem carregando um fardo insustentável nos seus ombros, tanto no setor agrícola quanto na pecuária. É muito bom que o consumidor de baixa renda possa comprar uma sexta básica barata, desde que, os seus produtores não estejam perdendo dinheiro para produzi-la.
O Brasil é um grande país. Possui em toda sua extensão territorial uma das maiores ares aproveitáveis para a pecuária e agricultura do mundo. Possui condições climáticas para ser a maior potência em produção de carne e de alimentos do planeta. No entanto se o governo não valorizar o trabalho deste valente soldado do campo que luta dia a dia, de sol a sol, para levar alimento à mesa do mais humilde ao mais poderoso cidadão brasileiro, provavelmente nossa produção diminuirá nos próximos anos.
Esta lamentável situação do produtor agrícola poderá acarretar sérios problemas de abastecimento de alimentos no Brasil. O governo precisa tomar decisões que venham diminuir o custo da produção agrícola e não apenas medidas paliativas como: liberação de bilhões de reais para o novo custeio e a prorrogação da dívida atrasada dos produtores. Estas medidas servem apenas para aumentar os débitos que já estão insustentáveis. O que realmente precisa ser feito é baixar o preço dos impostos para aquisição de máquinas agrícolas, adubos, olio diesel, inseticidas e sementes, para que o produtor possa produzir mais barato.
O cidadão brasileiro já está trabalhando quase de meia com o governo. Temos que trabalhar cinco meses no ano, somente para pagarem impostos. Pior ainda, é saber que esta montanha de impostos arrecadados todos os meses estão sendo muito mal aplicados. Pesquisa feita recentemente pela ONU, mostra que até o ano 2020, a previsão é de 55 milhões de brasileiros morando nas favelas. Isto significa que se o governo não investir mais no controle de natalidade, educação familiar, produção de alimentos e principalmente em moradia, em cada 04 brasileiros um será favelado.
Segundo informações da Senadora Kátia Abreu ( Presidente da Confederação Nacional da Agricultura) de cada cinco pessoas pobres nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, quatro estão na zona rural. Para finalizar quero lembrar que a perseguição do governo ao produtor rural é tão desumana que segundo dados da Senadora, existem 246 normas trabalhistas exigidas pelo Ministério do Trabalho para serem cumpridas pelos empregadores rurais.
Helio Rodrigues Braz
Vice-presidente da AAL
Cadeira N°10
Açailândia-MA