UMA OPORTUNIDADE PARA AVANÇAR

Talvez, duas coisas que o papa Bento XVI não fez em oito anos de pontificado, ele conseguiu fazer em dez minutos. A primeira foi dar um choque nos católicos. Acordá-los. A segunda foi deixar a Igreja Católica em evidência, pelo menos até a Páscoa. Temos de admitir que Bento XVI, foi inteligente ao extremo.

As imagens não deixam dúvidas que o corpo foi afetado pela idade. Todos nós seremos. Quando faltou forças, sobrou inteligência. Podemos imaginar como seria a Páscoa dos católicos com um papa que, talvez, nem fosse capaz de cumprir todas as estações da Via Sacra.

De agora até lá, a Igreja Católica estará na mídia diariamente. Serão longas coberturas até que a fumaça branca anuncie que o mundo católico tem um novo papa. E ele poderá iniciar seu pontificado comandando uma das maiores festa da fé católica. De novo a inteligência. Uma ressurreição.

O que não apaga o fato, de que Bento XVI passou oito anos como uma caricatura conservadora a frente da Igreja. E não podemos culpá-lo sozinho. Bento XVI apenas terminou a obra idealizada com João Paulo II. A Igreja Católica parece temer o novo. E morre de medo do que pode ser moderno.

E já sozinho Bento XVI, teve de passar por outra provação. Com toda certeza, não era sua vontade trazer a tona os crimes sexuais da sua igreja. Eles vieram porque a pressão ficou insuportável. Para um conservador isso deve ter corroído nas suas entranhas. E fez com que as forças lhe faltassem antes do tempo.

Antes de escrever a coluna, eu ouvi da boca de muitos religiosos a mesma frase. No conclave, os cardeais estarão reunidos sob a luz do Espírito Santo. Deveríamos lavar a boca de cada um desses com sabão. A verdade do conclave é muito diferente. Imaginem se os fiéis ficassem sabendo do que acontece lá dentro.

Os conchavos já se iniciaram. Muitos telefones celulares de cardeais já tocaram. E o assunto não era a renúncia de Bento XVI. Afinal, isso já é passado. Seria inocência pensar que não existem correntes antagônicas. Uma guerra declarada pelo poder. Uns querendo mantê-lo. Outros querendo tomá-lo.

Apareceu uma ótima oportunidade para a Igreja Católica avançar. E discutir abertamente os temas polêmicos que a sociedade e o mundo moderno exige. Difícil é acreditar que o conservadorismo arquitetado ao longo de quase quarenta anos por dois papas, de repente, comece a desmoronar. Venha de onde vier, eu ainda aposto em outro conservador. Não importa os temas polêmicos. O poder sim.