Dialética (diá-logos) é originalmente arte do discurso, sobretudo pela concepção grega de divisão do próprio discurso, das coisas, das situações em espécies.
Do ponto de vista aristotélico, dialética é arte da argumentação: o modo de Aristóteles fazer dialética "é tomar um termo filosófico corrente, ou expressão já em uso, e refiná-lo de modo a demonstrar que suas próprias análises e ideias [estão] já de alguma forma imperfeitamente presentes em ideias mais antigas já aceitas." (KERFERD, 1999, p.105)
Para os filósofos da Grécia Antiga, diá-logos eram proposições articuladas de um discurso (logos); para isso, inventaram-se vários méthodos (caminhos para o logos). Erística, Maiêutica, Dialética, Retórica são apenas quatro exemplos desses caminhos.
Originalmente, para os filósofos gregos antigos Lógica nada mais é que o exercício do diálogo, ou seja, a “codificação das formas das proposições e de sua conexão demonstrativa, que comparecem originariamente no diálogo e descrevem o caminho (méthodos) correto do logos.” (BRITO e CHANG, 2002, pp.10-11)
Quando Aristóteles resolve defender a ideia de que Anaítica (posteriormente denominada Lógica) é a teoria organizativa das formas do logos, independente do diálogo, dá-se o advento de dois distintos roteiros do logos (dois distintos métodos), assim registrados por Brito e Chang (2002, p.11):
1º. – a demonstração (apódeixis) da alétheia, revelada no logos, é o próprio movimento do logos e termina nesse movimento dialético.
Este método estabeleceu o que Platão denominou diálogos da maturidade e eram caracterizados por serem téticos, ou seja, estabelecedores de thésis. Thésis significava para Platão uma “verdade no domínio do logos”.
2º. – a demonstração se dá perante regras a priori estabelecidas e pelas quais torna-se possível a análise dos elementos do logos (conceitos e proposições).
Este segundo método aristotélico foi pelo próprio Aristóteles exposto nos Analíticos I e II: daí em diante e somente na Idade Média europeia, o método analítico de Aristóteles foi batizado com o nome de Lógica, contraposto ao método dialético de Platão.
*
Com referência à Dialética é preciso lembrar alguns fatos, sumarizados por Chauí (2003, pp.96-101 e 105):
- para Aristóteles, a Dialética (dialektiké) foi criada por Zenão de Eléia – discípulo de Parmênides de Eléia. A Dialética de Zenão significava a arte de confrontar duas teses opostas ou contrárias com o objetivo de provar a) que nenhuma delas é verdadeira ou b) que uma delas é contraditória, ou seja, falsa. O método dialético de Zenão era um método de prova cujo objetivo era a defesa das concepções de Parmênides perante outras concepções: o interesse de sua argumentação era exclusivamente provar o acerto das concepções de Parmênides diante das concepções consideradas absurdas de seus adversários.
Zenão é o inventor das aporias (raciocínio aporético), ou seja, a criação de dificuldades insolúveis: aporia da divisilidade (aporia de Aquiles e a tartaruga ou aporia do estádio), aporia do movimento (aporia do arqueiro ou da flecha), aporia da unidade indivisível e descontínua (aporia do dobro e da metade), aporia da unidade divisível descontínua e da unidade indivisível descontínua.
A Dialética de Zenão funda-se no princípio da confrontação.
- para a concepção filosófica de mundo do alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), o criador da Dialética foi Heráclito de Éfeso.
Para Hegel, defensor absoluto do status quo, Dialética é afirmação e aceitação da luta e oposição de contrários tidos por motor ou combustível da realidade do mundo das coisas e dos seres: o seu fundante princípio é o da contradição imanente às próprias coisas, seres e mundo.
*
Heráclito de Éfeso, discípulo de Cratilo, era opositor absoluto da democracia e, também, combatedor contra as ideias filosóficas de Parmênides; a filosofia de Heráclito foi desenvolvida pela stoa. (DILTHEY, 1996, pp.32-3)
Heráclito buscava originalidade e isolamento; por isso, desprezava o povo. (ASTER, 1945, p.66)
Parmênides de Eléia, considerado discípulo de Xenófanes (fundador da escola dos Eleáticos) e opositor das ideias de Heráclito, foi venerado por Platão com o título de O Grande. (DILTHEY, 1996, p.34)
Legislador e político, Parmênides é considerado por Aster (1945, p.67) o verdadeiro fundador da Escola Eleática: para a doutrina de Parmênides, ser (imutável) e pensamento significam a mesma coisa.
*
Finalmente, existem várias outras concepções e tipos de Dialética, de acordo com a concepção de mundo do estudioso ou pesquisador que utiliza aquele termo; isso significa que, ao se falar em Dialética e método dialético há que se determinar a qual tipo de Dialética se refere o utilizador do termo ou do método.
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REFERÊNCIAS
ASTER, Ernst von. Historia de la Filosofia. Barcelona: Labor. 1945
BRITO, Emídio Fontenele de Brito; CHANG, Luiz Harding. Filosofia e Método. São Paulo: Loyola. 2002
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras. 2003
DILTHEY, Wilhelm Guillermo. Historia de la filosofia. México: Fondo de Cultura Económica. 1996
KERFERD, G.B. O Movimento Sofista. São Paulo: Loyola. 1999
Do ponto de vista aristotélico, dialética é arte da argumentação: o modo de Aristóteles fazer dialética "é tomar um termo filosófico corrente, ou expressão já em uso, e refiná-lo de modo a demonstrar que suas próprias análises e ideias [estão] já de alguma forma imperfeitamente presentes em ideias mais antigas já aceitas." (KERFERD, 1999, p.105)
Para os filósofos da Grécia Antiga, diá-logos eram proposições articuladas de um discurso (logos); para isso, inventaram-se vários méthodos (caminhos para o logos). Erística, Maiêutica, Dialética, Retórica são apenas quatro exemplos desses caminhos.
Originalmente, para os filósofos gregos antigos Lógica nada mais é que o exercício do diálogo, ou seja, a “codificação das formas das proposições e de sua conexão demonstrativa, que comparecem originariamente no diálogo e descrevem o caminho (méthodos) correto do logos.” (BRITO e CHANG, 2002, pp.10-11)
Quando Aristóteles resolve defender a ideia de que Anaítica (posteriormente denominada Lógica) é a teoria organizativa das formas do logos, independente do diálogo, dá-se o advento de dois distintos roteiros do logos (dois distintos métodos), assim registrados por Brito e Chang (2002, p.11):
1º. – a demonstração (apódeixis) da alétheia, revelada no logos, é o próprio movimento do logos e termina nesse movimento dialético.
Este método estabeleceu o que Platão denominou diálogos da maturidade e eram caracterizados por serem téticos, ou seja, estabelecedores de thésis. Thésis significava para Platão uma “verdade no domínio do logos”.
2º. – a demonstração se dá perante regras a priori estabelecidas e pelas quais torna-se possível a análise dos elementos do logos (conceitos e proposições).
Este segundo método aristotélico foi pelo próprio Aristóteles exposto nos Analíticos I e II: daí em diante e somente na Idade Média europeia, o método analítico de Aristóteles foi batizado com o nome de Lógica, contraposto ao método dialético de Platão.
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Com referência à Dialética é preciso lembrar alguns fatos, sumarizados por Chauí (2003, pp.96-101 e 105):
- para Aristóteles, a Dialética (dialektiké) foi criada por Zenão de Eléia – discípulo de Parmênides de Eléia. A Dialética de Zenão significava a arte de confrontar duas teses opostas ou contrárias com o objetivo de provar a) que nenhuma delas é verdadeira ou b) que uma delas é contraditória, ou seja, falsa. O método dialético de Zenão era um método de prova cujo objetivo era a defesa das concepções de Parmênides perante outras concepções: o interesse de sua argumentação era exclusivamente provar o acerto das concepções de Parmênides diante das concepções consideradas absurdas de seus adversários.
Zenão é o inventor das aporias (raciocínio aporético), ou seja, a criação de dificuldades insolúveis: aporia da divisilidade (aporia de Aquiles e a tartaruga ou aporia do estádio), aporia do movimento (aporia do arqueiro ou da flecha), aporia da unidade indivisível e descontínua (aporia do dobro e da metade), aporia da unidade divisível descontínua e da unidade indivisível descontínua.
A Dialética de Zenão funda-se no princípio da confrontação.
- para a concepção filosófica de mundo do alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), o criador da Dialética foi Heráclito de Éfeso.
Para Hegel, defensor absoluto do status quo, Dialética é afirmação e aceitação da luta e oposição de contrários tidos por motor ou combustível da realidade do mundo das coisas e dos seres: o seu fundante princípio é o da contradição imanente às próprias coisas, seres e mundo.
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Heráclito de Éfeso, discípulo de Cratilo, era opositor absoluto da democracia e, também, combatedor contra as ideias filosóficas de Parmênides; a filosofia de Heráclito foi desenvolvida pela stoa. (DILTHEY, 1996, pp.32-3)
Heráclito buscava originalidade e isolamento; por isso, desprezava o povo. (ASTER, 1945, p.66)
Parmênides de Eléia, considerado discípulo de Xenófanes (fundador da escola dos Eleáticos) e opositor das ideias de Heráclito, foi venerado por Platão com o título de O Grande. (DILTHEY, 1996, p.34)
Legislador e político, Parmênides é considerado por Aster (1945, p.67) o verdadeiro fundador da Escola Eleática: para a doutrina de Parmênides, ser (imutável) e pensamento significam a mesma coisa.
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Finalmente, existem várias outras concepções e tipos de Dialética, de acordo com a concepção de mundo do estudioso ou pesquisador que utiliza aquele termo; isso significa que, ao se falar em Dialética e método dialético há que se determinar a qual tipo de Dialética se refere o utilizador do termo ou do método.
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REFERÊNCIAS
ASTER, Ernst von. Historia de la Filosofia. Barcelona: Labor. 1945
BRITO, Emídio Fontenele de Brito; CHANG, Luiz Harding. Filosofia e Método. São Paulo: Loyola. 2002
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras. 2003
DILTHEY, Wilhelm Guillermo. Historia de la filosofia. México: Fondo de Cultura Económica. 1996
KERFERD, G.B. O Movimento Sofista. São Paulo: Loyola. 1999