CARNAVAL DE ITABORAÍ. POLÊMICAS À PARTE, VAMOS FESTEJAR.

Já que estamos às portas do carnaval de 2013 e o anúncio de um carnaval popular promovido pela prefeitura já provoca a ira de quem pensa saber tudo sobre gestão pública e acusa – sem saber como devem ser gastos os recursos públicos – a atual gestão de gastar dinheiro com o que não tem importância, lembrei de uma estória, na verdade uma lenda hindu, que meu pai costumava contar para os filhos a afim de nos exercitar numa busca ampla pela verdade.

Numa cidade da Índia viviam sete sábios cegos. Como os seus conselhos eram sempre excelentes, todas as pessoas que tinham problemas recorriam à sua ajuda.

Embora fossem amigos, havia certa rivalidade entre eles que, de vez em quando, discutiam sobre qual seria o mais sábio.

Certa noite, depois de muito conversarem acerca da verdade da vida e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna da montanha. Disse aos companheiros:

- Somos cegos para que possamos ouvir e entender melhor que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí discutindo como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora.

No dia seguinte, chegou à cidade um comerciante montado num enorme elefante. Os cegos nunca tinham tocado nesse animal e correram para a rua ao encontro dele.

O primeiro sábio apalpou a barriga do animal e declarou:

- Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar nos seus músculos e eles não se movem; parecem paredes…

- Que palermice! – disse o segundo sábio, tocando nas presas do elefante. – Este animal é pontiagudo como uma lança, uma arma de guerra…

- Ambos se enganam – retorquiu o terceiro sábio, que apertava a tromba do elefante. – Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia…

- Vocês estão totalmente alucinados! – gritou o quinto sábio, que mexia nas orelhas do elefante. – Este animal não se parece com nenhum outro. Os seus movimentos são bamboleantes, como se o seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante…

- Vejam só! – Todos vocês, mas todos mesmos, estão completamente errados! – irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante. – Este animal é como uma rocha com uma corda presa no corpo. Posso até pendurar-me nele.

E assim ficaram horas debatendo, aos gritos, os seis sábios. Até que o sétimo sábio cego, o que agora habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança.

Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:

- É assim que os homens se comportam perante a verdade. Pegam apenas numa parte, pensam que é o todo, e continuam tolos!”

Lembrei-me desta lenda depois de ler alguns comentários sobre “o gasto” com carnaval quando estes recursos deveriam ser usados na saúde e na educação. O assunto ainda poderia render muito se fossemos discutir o que é saúde e o que é educação, afinal as duas tem como prioridade básica a melhoria da qualidade de vida, e a alegria manifesta no carnaval é um elemento que não pode ser esquecido quando criamos uma escala de valores baseada em nossos valores culturais. Nossa alegria é a prova dos nove, já dizia Oswald de Andrade em 1928...

No entanto é importante lembrar que o orçamento público é bem diferente do orçamento privado. Meu salário é gasto de acordo com as minhas prioridades e sou eu quem define quais são minhas prioridades. Por exemplo, se vou viajar este mês, separo a quantia e não compro um cadeira para assistir o desfile na Sapucaí, ou se opto pelo desfile não vou viajar.

O Orçamento público, por ser público, está protegido por uma série de leis que impedem o executivo de utiliza-lo ao seu bel prazer. O dinheiro da cultura não pode ser usado na saúde e nem o dinheiro da saúde pode socorrer a infraestrutura, cada pasta possui seus valores e a Câmara dos Vereadores e o Ministério Público exercem a fiscalização destes recursos.

Antes também acreditava que as verbas poderiam ser utilizadas de acordo com as necessidades que o gestor priorizasse no momento em que encontra o dinheiro em caixa, mas não é bem assim, tive a oportunidade de ver as verbas por uma outra perspectiva quando a Professora Armênia fez a reunião pública do orçamento do PDDE. O dinheiro já vem direcionado para gastos com material, com infraestrutura e bens permanentes.

Quebrei a cabeça, porque as contas tem que fechar e precisam ser comprovadas com notas fiscais e aprovadas pelo conselho escolar, mas aprendi porque tive uma mestra paciente que me fez perceber que o processo democrático é muito mais do que simplesmente fazer o que me der vontade, é preciso estar aberto as necessidades de todos e ainda cumprir as normas.

Precisamos encarar a democracia como um lavrar os mares, cada dia é um novo recomeço.

O problema é que vemos o elefante a partir de nossas próprias perspectivas. Daí a beleza e o horror que regem o ato de governar: você precisa estar atento as normas e ao mesmo tempo concilia-la a vontade popular e nem sempre o povo é uníssono em seus desejos.

O importante é que o dinheiro destinado ao Carnaval de 2013 nos proporcionará uma festa muito mais ampla e com opções a todas as regiões do município. Meus alunos de Itambi terão a oportunidade experimentar o carnaval próximo de casa.

Aos que não gostam de carnaval só posso lembrar a famosa frase de Joãosinho Trinta, que aliás virou o enredo mais emblemático do carnaval brasileiro: “Ratos e urubus, larguem minha fantasia,que agonia, deixe-me brincar meu carnaval”

Paulo de Andrade.

Professor do Segundo ano do Ensino Fundamental.

E.M. Pedro Alves de Araújo - Onde a gente aprende a ser feliz.