Aranha
Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens.(Romanos 12:17)
Os habitantes do Camboja, são por natureza, cheios de boa vontade. Gente solidária, altamente inclinada a ajudar ao próximo. Quando alguém precisa de alguma coisa, é uma correria coletiva para cooperar. É comovente a bondade desse povo, que depois de ter passado por um sofrimento, capaz de tornar água com açúcar, uma tragédia grega, consiga espelhar em seus lindos rostos, um sorriso sincero, 24 horas por dia.
Haja coração, para amar pessoas que já nos conhecem oferecendo toda a sorte de coisas, para arranjar um jeito de nos proporcionar a felicidade. Ficamos desarmados, sentindo-nos pequeninos, envergonhados com gente tão fantástica.
As guerras e invasões foram consideradas simples ensaios, comparando com a desgraça que o ‘Khmer Vermelho’ fez ao país em apenas quatro anos de poder.
De 1975 a 79, foram exterminados por esse governo: os escritores, as pessoas que sabiam ler e toda a classe média. Cerca de 20% da população foi assassinada.
O cambojano é tão esforçado, que anda quilômetros com um turista, só para aprender a falar inglês.
“So”, um homem inteligente, conseguira sobreviver às guerras. Como aprouve ao novo governo, determinar a todos os cidadãos cambojanos, o cultivo do arroz, coube-lhe uma região horrível para trabalhar. Sem as condições de alagamento, exigidas para o plantio, sua produção era muito precária. Começou a faltar alimento na mesa. Sua mulher e seus quatro filhos encontravam-se enfraquecidos, por conta dessa escassez.
Alguns dos seus familiares moravam em Hong Kong, mas ninguém tinha permissão para deixar o Camboja. Aliás, não existia vôo internacional. Estavam todos em cadeia (prisão) nacional. Envolvido em grande tristeza, ouviu sua filha “Mu” gritar:
-- Papai a aranha quer me pegar. Porque você não “frita ela” pra a gente comer?
É muita sabedoria, pensou. Se já estamos morrendo por falta de alimento, porque não falecer com a barriga cheia, nem que seja de aranha frita. Inda mais aqui. Parece que todas as aranhas da terra, se mudaram para cá. Sei não, acho que esse bicho contém mais que o necessário para termos um corpo forte e saudável, concluiu.
-- “Mu” chama tua mãe e teus irmãos. Vamos todos catar aranha para fritar.
Revigorados com tão gostoso alimento, sentindo pela primeira vez nestes últimos dois anos, a fome saciada, “So” decidira: a partir deste momento estarei vendendo o gostoso aracnídeo “fritinho”. Vou vender para todo o mundo.
Na ocasião, “So” criara uma nova alimentação para o cambojano. Hoje é um dos principais pratos do país.
O Camboja está sendo reconstruído. O analfabetismo abrange 60% da população, ficando a escola para alguns privilegiados.
“So” mora em uma residência funcional de dois andares, tem todos os filhos e netos estudando no colégio. Seus negócios estão indo bem.
Perguntado se gostaria de morar no Brasil, sem parar de sorrir, respondeu:
-- Com prazer. Estou pensando em montar uma franquia. O que você acha de hambúrguer de Aranha?