Crônicas Canoenses (ou "Cidadania atropelada")

Não é segredo para ninguém, e isto eu já disse aqui mais de uma vez: a cidade de Canoas possui as piores calçadas do planeta. A culpa é dos proprietários que não fazem pisos decentes, da Prefeitura que é inepta e não fiscaliza como deveria, e dos vereadores que tomam cafezinhos demais, e trabalham em projetos próprios, em geral eleitoreiros, incapazes de fazer leis capazes de disciplinar a matéria.

Em função desse marasmo, que beira a incompetência e o desleixo, a população fica a mercê de calçadas mal feitas, inexistentes, ou seja, verdadeiras armadilhas para os pedestres. Há tempos, depois de uma pesquisa sociológica dos porquês de o canoense andar pelo meio da rua ao invés de transitar pelas calçadas, chegamos à conclusão, minha equipe e eu, que o povo anda pela pista por não ter uma calçada decente por onde trilhar. Tenho fotos e depoimentos desse descalabro. E essa indecência se agrava na medida em que o costume de andar pelo meio da rua se estende a crianças, idosos, mãe com carrinhos de bebês, e pessoas em geral.

Há dias, observando pelos jornais o elevado número de atropelamentos que ocorrem em nossa cidade, especialmente nos bairros e vilas, não pude deixar de estabelecer uma ligação entre esses sinistros e o ato do povo em fugir dos buracos das calçadas. Considerando o caos que são as calçadas, tudo fruto do desleixo e da irresponsabilidade do poder público, até há poucos atropelamentos, em face do número elevado de pessoas que andam pela pista.

E há outro caso grave. Grave porque demonstra um individualismo de quem só pensa em si mesmo. Quem faz calçada, especialmente em ruas de aclives ou decidas, nivela a saída do carro pelo piso de sua garagem, o que origina alguns “degraus”, de às vezes trinta centímetros, verdadeiras armadilhas, especialmente à noite, a quem se arrisca a transitar por uma calçada dessa cidade sem planejamento urbano. O cara sai de casa em seu carro, no plano, bonitinho, mesmo que isso resulte no fato de o pedestre subir um degrau na calçada, ou cair e se quebrar na arapuca construída sem a menor fiscalização.

Isto sem falar nos aviões da FAB que perturbam o descanso noturno de crianças, idosos, doentes, gastando nosso dinheiro em combustível e horas-extras, treinando para nos defender patrioticamente da cavalaria marítima do Paraguai.

De outro lado, também sabemos que Canoas é a capital nacional do “puxadinho”. É só o filho perder o emprego ou a filha aparecer de barriga que a família faz um “puxadinho” no fundo, às vezes um segundo piso sobre a garage, um upgrade, como eu digo, e está feita a obra. Do ponto de vista humanitário, nota dez. Pelo lado técnico, um desastre. Essas obras – e outras maiores com ampliação de algumas casas – são feitas ao arrepio do bom senso, sem a placa do Responsável Técnico, e – ao que tudo indica – sem fiscalização da Prefeitura ou do CREA. Vocês já viram alguma obra, exceto grandes edifícios, com placa do engenheiro? E se desaba uma naba dessas, quem se responsabiliza? Isto é Canoas, uma cidade onde, infelizmente, a cidadania, por não-solidária, é atropelada todos os dias.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 13/03/2007
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