Cristo ressuscitou

A cada ano, a liturgia pascal aponta para o evento místico-histórico da morte e ressurreição de Cristo que, como primícia dos que morreram, possibilita àqueles que nele crêem e com ele nascem e morrem pelo batismo, o ingresso na vida eterna, naquela “vida abundante” adredemente anunciada.

Na maioria dos países do Ocidente, esta festa aparece comprometida pelos apelos comerciais do chocolate, dos ovos e coelhos, assim como das viagens e das excursões turísticas que a folga de alguns dias permite.

A base dessa celebração é o pessach dos judeus, que recorda a passagem, a libertação do povo da opressão do faraó do Egito, que deu origem ao êxodo na direção da “terra prometida”. A palavra páscoa vem do verbete grego pasxa. Como a ressurreição de Jesus ocorreu no domingo de páscoa, a festa passou a chamar-se “páscoa da ressurreição”, ou seja, uma passagem da morte para a vida.

Se perguntarmos hoje, ali na esquina, ou mesmo em nossa casa, a uma criança o que é páscoa, vamos escutar, lamentavelmente, diversas versões, que vão desde os chocolates até a viagem à casa da vovó, sem passar pela mística de um Deus que se fez homem, morreu na cruz e ressuscitou por amor à humanidade. A mim e a você que me lê. A salvação que Cristo conquistou para nós é gratuita. Independe de nossos méritos.

Em conseqüência da distorção materialista esvazia-se o culto à cruz e à ressurreição, caindo tudo no descompromisso e na futilidade. Enquanto os judeus celebram tão-somente a páscoa mosaica, outros tentam descaracterizar a ressurreição de Jesus, colocando em seu lugar a reencarnação e outros sistemas esotéricos afins. Há pessoas que chegam afirmar a existência de “provas científicas” da reencarnação, como se coisas de fé pudessem caber dentro da estreita ótica da ciência mundana. Não existe cristianismo sem a fé na ressurreição.

Americanos e ingleses dão o nome de easter (oriental) à páscoa, enquanto os franceses chamam-na de páques. Nem um nem outro exprime o real sentido da festa. No meio lusófono, costuma-se desejar aos amigos uma “feliz páscoa”. Ora, voltando à questão: se perguntarmos no que consiste uma “feliz páscoa”, ouviremos referências a presentes, ovos e coelhos de chocolate, passeios, etc. Talvez muito pouca gente afirme que na páscoa deve-se buscar viver a boa notícia do Ressuscitado, quando seu espírito de amor, perdão e solidariedade, deve ser totalmente assumido e praticado.

Ao desejar, pois, uma “feliz páscoa” a alguém, por causa do modelo consumista e até mesmo pagão que muitos imprimem à festa que deveria ser religiosa, podemos estar apenas nos referindo aos presentes e às coisas materiais. Por esta razão, eu aprecio a saudação com que os gregos se saúdam até hoje, por ocasião das festas pascais: christós anesti (Cristo ressuscitou!). Diz tudo.

O autor é Teólogo católico, Doutor em Teologia Moral.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 13/03/2007
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