CAIDA DE CABEÇA

CAIDA DE CABEÇA

Foi assim, eu tinha quatro anos e três meses de idade, e fui acompanhar os meus irmãos, um de seis anos e outro de dez, no telhado de uma edícula no fundo do quintal. Em face da altura e da ladeira de onde nós estávamos me desequilibrei, rolei telhado abaixo e cai de cabeça na quina do canteiro e fraturei a cabeça.

Estávamos sob os cuidados da empregada Carmela, que trabalha para o meu avô Abílio e que venho cuidar da minha irmã Olivia, enquanto minha mãe estava na maternidade Matarazzo para dar a luz ao meu irmão Zé Pedro. Pois a Maria Cecília que tinha nove anos não podia cuidar de todos os seus irmãos. Papai trabalhava em Utinga, que naquele tempo poderia se considerar uma cidade afastada de São Paulo.

Este acidente, mal comparando com uma vitrola, onde a agulha é guiada pelo suco das arranhaduras da gravação, quando encontra um arranhão, fica repetindo a mesma palavra do cantor ou as ultima nota musical do instrumento ou da orquestra. Assim posso dizer que esta queda não me afetou, afetou, afetou, afetou...

Piadas a parte, ligaram para meus avôs maternos virem de taxi me socorrere, e logo chegaram nervosos e aborrecidos para levar-me ao médico de família, Dr. Joãosito (Dr. João de Camargo Barros), que logo em exames preliminares, já que não existia tomografia, concluiu não haver nada mais do que um corte no couro cabeludo e suturou com alguns pontos a calota craniana e enfaixando com gazes e esparadrapo, me fez um capacete branco por muitos dias.

O mais engraçado disso tudo é que meses antes eu havia furtado da geladeira um pedaço de “chocolate branco”, pois eu era vidrado nesse cacau e pra não enjoar, minha mãe escondia do meu alcance para administrar doses convenientes. Quando ouvi os seus passos, tratei de engolir aquele “chocolate” o mais rápido possível, e com a chegada dela fui flagrado engolindo, de cara feia aquela coisa horrível. Perguntado o que estava comendo, lhe disse que havia pegado o tal chocolate (Urso Branco), mas ela me disse que não havia chocolate na geladeira, e fui mostrar aquele pedaço que restou. Era Fermento Fleischmann!

Assim, eu chorava de dor de barriga e meu avô dizia, “deixa de manha, você bate a cabeça e reclama da barriga”! Pois é, as coisas começaram a se complicar quando os irmãos e parentes iam até a Maternidade visitar minha mãe e eu não aparecia, evidentemente para não assustá-la com aquela cabeça toda enfaixada. E as desculpas eram a de que ficara em casa brincando com a vizinha Elvira Maria. Foi assim, que chegando minha prima Maria Lúcia, desavisada daquela santa mentira, foi logo perguntando a mamãe como eu estava passando? Imediatamente foram me buscar e desfizeram aquela novela do “Sambalele ta coma cabeça-quebrada”.

Assim foram meus primeiros anos de vida sob as orações das Freiras Beneditinas onde minha tia irmã de papai, Madre Madalena, era Mestra das Noviças; e dos Frades Capuchinhos Franciscanos, entre eles Frei Ângelo Maria de Piracicaba do Convento Imaculada Conceição, diretor espiritual da família, que nos visitava com freqüência, para as orientações religiosas, inclusive sabatinar meus conhecimentos de catecismo, pois quando fiz cinco anos e meio, fiz a minha Primeira Comunhão, sabendo de cor e salteado todos os ensinamentos que me foram oralmente transmitidos e que em nada afetou minha memória com aquele fatídico tombo artístico, pois foi causa de minha arte.

Este frade foi professor do Seminário donde saíram vários frades de grande oratória, vindo um deles, ser Sagrado Bispo, entre outros que se destacaram na vida franciscana.

Esta Igreja sita à Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, fora a nossa Paróquia, e naqueles tempos se praticava as Procissões com parada de fronte as casa pré determinadas, sendo uma delas a de meu avô paterno. Ele primava pela decoração do Altar, com panos coloridos, especialmente comprados para esta finalidade e arranjos de flores coloridas e perfumadas que ornavam aquela paragem para a benção do Santíssimo.

Mais a frente, do mesmo lado par, morava meus avôs maternos, e uma das minhas tias, Conceição Ferraz, era a organista e regente do Coro Azul, que abrilhantava as Missas Cantadas em festas litúrgicas da paróquia.

Nestas procissões, participavam meus familiares, nas varias Congregações: Mariana, Filhas de Maria, Ordem Terceira, Irmandade do Santíssimo, Cruzada Eucarística, Cordígeros e coroinhas.

Assim funciona a minha cabeça, recordando meus tempos de criança, sem ter ficado seqüelas daquele fatídico tombo do telhado.

E por falar e subir no telhado havia um viajante que tinha um gato de estimação. Pediu ao seu melhor amigo que o cuidasse. Certa vez o amigo escreveu dando a má notícia da morte do gato. O viajante, ao retornar de viagem, reclamou com o amigo o jeito infeliz de dar-lhe a notícia. Da outra vez, você comece me preparando para o final trágico, dizendo que o gato subiu no telhado. Depois você diz que ele caiu do telhado e, finalmente, transmita-me a notícia da morte.

Assim que o viajante partiu, ele receba a seguinte notícia: - “Sua Sogra subiu no telhado!”

CHICO LUZ
Enviado por CHICO LUZ em 15/01/2013
Reeditado em 31/08/2013
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