LEITURA SUA PRODUÇÃO E FUNDAMENTOS

A leitura pode ser considerada, a atividade fundamental desenvolvida pela escola, para a formação do aluno. A leitura e a escrita são práticas que se complementam, se relacionam e, vão se transformando mutuamente no processo de letramento. O princípio básico para a formação de leitores é oportunizar o contato dos alunos com diferentes tipos de texto. Neste processo:

“a escrita transforma a fala (a constituição da “fala letrada”) e a fala influência a escrita (o aparecimento de “traços da oralidade’ nos textos escritos). São práticas que permitem ao aluno construir seu conhecimento sobre os diferentes gêneros, sobre os procedimentos mais adequados para lê-los e escrevê-los e sobre as circunstâncias de uso da escrita”. (PCN p. 52).

Nas metodologias tradicionais a leitura é concebida como a transformação da língua escrita na língua oral, através da oralização. Ou seja, é um mecanismo de transformação dos sinais gráficos em sinais sonoros para chegar no significado do texto. (Barbosa 1994 p.133)

Existem várias concepções a cerca da leitura, acompanhemos a seguir, a compreensão de alguns autores:

Para Silvia a leitura:

“(...) é fundamentalmente, uma prática social. Enquanto tal, não pode prescindir de situações vividas socialmente, no contexto da família, da escola, do trabalho, (...) Todos os seres humanos podem se transformar em leitores da palavra e dos outros códigos que expressam a cultura, mesmo porque carregam consigo o referido potencial biopsíquico (aparato sensorial + consciência que tende à compreensão dos fenômenos)”. (Silva, 1993 p. 47).

Cagliari assim se posiciona com relação à leitura:

“Por leitura se entende toda manifestação lingüística que uma pessoa realiza para recuperar um pensamento formulado por outra e colocado em forma de escrita". (Cagliari 2005 p. 55)

Para Cagliari, a leitura é o melhor que se pode oferecer ao aluno:

"É muito mais importante saber ler do que saber escrever. O melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve estar voltado para a leitura. Se um aluno não se sair muito bem nas outras atividades, mas for um bom leitor, (...) a escola cumpriu em grande parte sua tarefa”.(Cagliari 2005 p 148)

Possari apud Lajolo (1985) assim se posiciona:

“Na prática da Leitura de textos, há que se considerar, primeiramente, que a leitura é um processo de interlocução entre leitor e autor, mediado pelo texto e, ainda, que o ato de ler não é um ato de decifrar como um jogo de adivinhações o sentido de um texto. E a partir de um texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono de sua própria vontade, entregar-se a esta leitura ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista”.(Possari 2001 p.18).

As metodologias tradicionais dão ênfase a decifração dos códigos lingüísticos num processo de transformação dos sinais gráficos em sinais sonoros, visando com isto chegar ao significado do texto. Isto resulta numa leitura padronizada, monovalente, que se pretende valida para todas as situações. Os textos são abordados como um produto pronto e acabado. A leitura é compreendida como um processo imutável no tempo como se o comportamento do leitor de hoje fosse o mesmo do leitor do século passado. (Barbosa 1994. 133).

A mistificação da palavra escrita é uma questão apontada por Silva, que dificulta a leitura dinâmica, pois o leitor tende a reproduzir mecanicamente as idéias captadas pela leitura, num processo de memorização, sem uma reflexão crítica acerca das idéias vinculadas ao texto. Neste processo não existe, por parte do aluno-leitor, a apropriação, a apreensão ou a compreensão de idéias. Não existe uma mediação entre o lido e o vivido o que ocorre é somente uma reprodução alienada. (Silva 1993. p. 4-5).

Nesta concepção o texto é compreendido como um produto, não levando em conta a dinamicidade de seu processo de significação que inclui a consideração de estruturas, de conhecimentos prévios partilhados, de múltiplos recursos semióticos, como a imagem e, ainda, as condições de produção: o contexto, os sujeitos envolvidos nessa ação de linguagem, as intenções comunicativas, o meio de circulação do texto. (Possari)

. Através da leitura o homem interage com o mundo e com o outro. A participação efetiva do sujeito no mundo depende da sua capacidade de ler e construir seus conhecimentos. (Cagliari 2005)

Tudo que é desenvolvido na escola, segundo Cagliari, esta intimamente relacionado com a leitura e muitas dificuldades apresentadas, pelos alunos, no decorrer da vida escolar, estão, justamente, relacionados à incapacidade de ler.

A escola precisa ensinar os alunos a ler e a entender não só as palavras, as histórias das antologias, mas também os textos específicos de cada matéria, as provas de cada área, as instruções de como fazer algo. A leitura não pode ficar restrita à literatura e ao noticiário”. (Cagliari 2005 p.149).

A leitura e uma atividade profundamente individual, pois um mesmo texto pode ser alvo de diversas leituras, Cada leitor estará fazendo a sua interpretação. Ao contrário da escrita que é uma atividade de externar os pensamentos a leitura é uma atividade de assimilação, de conhecimento de interiorização, de reflexão. (Cagliari 2005 p.150)

Por muito tempo prevaleceu no âmbito escolar a concepção de que a leitura consistia em decodificar e converter letras em sons, sendo que a compreensão seria uma conseqüência natural dessa ação. Essa concepção equivocada levou a escola a produzir um grande contingente de “leitores” capazes de decodificar qualquer tipo de texto, mas que apresentam serias dificuldades para compreender o que estão lendo.(PCN p.55)

Hoje já existe uma compreensão de que é preciso oferecer aos alunos oportunidades, interagir com o texto, fazendo questionamento, levantando hipóteses, com base nos conhecimentos que possuem, fazer interferências, tanto com relação à escrita, propriamente dita, quanto ao seu significado. O aluno deve aprender a ler lendo, compreendendo, a natureza e o funcionamento do sistema alfabético e o valor social do texto numa prática ampla de leitura. (PCN p.56) (Pedrição antecipar o que o texto traz)

A escola precisa oportunizar que aluno tenha acesso a materiais escritos diversificados e que são utilizados fora da escola. Pois os materiais elaborados para aprender a ler, têm servido somente para a decodificação e para a construção de uma visão empobrecida da leitura. (PCN p.56).

Segundo Cagliari a escola comete uma injustiça ao tratar os alunos como seres homogêneos, não levando em conta que “As crianças precisam de tempo para decifrar a escrita. Cada criança tem um ritmo próprio que precisa ser respeitado”. (2005 p. 159)

A leitura é, pois, uma decifração e uma decodificação. O leitor deverá em primeiro lugar decifrar a escrita, depois entender a linguagem encontrada, em seguida decodificar todas as implicações que o texto tem (...).A leitura sem decifração não funciona adequadamente, assim como sem a decodificação e demais componente referente à interpretação, se torna estéril e sem grande interesse.`` (Cagliari p.150)

Nossa cultura e constituída por livros escritos e da leitura silenciosa visual. Porém, nem sempre a leitura silenciosa é a mais adequada para certos tipos de textos, que foram produzidos para serem lidos oralmente ou ouvidos. (Cagliari p.156)

Os trabalhos com a leitura devem ser realizados diariamente em sala de aula: tanto na forma de leitura silenciosa, como em voz alta, ou pela escuta de alguém lendo. Pois i: “Ouvir uma história equilave a realizar a leitura através dos olhos o que difere é o canal pelo qual ela e conduzida”. (Cagliari 2005).

Segundo Cagliari a diferença entre ouvir a fala e ouvir a leitura esta em que a fala é produzida espontaneamente, ao passo que a leitura é realizada com base num texto escrito, que tem características próprias diferentes da fala espontânea. Mas foneticamente as duas atividades são semelhantes. (Cagliari2005 p. 155)

As crianças expostas a uma diversidade de material bibliográfico e as várias manifestações literárias terão mais vantagens no processo de leitura em relação às crianças que não têm esse acesso. Assim cabe a escola oportunizar a interação da criança com os diversos tipos de textos, levando-as a perceber o valor social da escrita.

A ação pedagógica não deve ficar presa somente ao livro didático, com seus textos fragmentados e descontextualizado.Mas buscar desenvolver atividades com diferentes tipos de texto.

Neste processo o professor deve atuar como colaborador e mediador, realizando as interferências necessárias, desenvolvendo atividades em grupo que possam, favorecer a circulação de informações entre os alunos. A heterogeneidade deve ser explorada pedagogicamente como um instrumento de troca, de colaboração, de crescimento individual e coletivo. (PCN p 56)

A leitura sendo uma atividade ligada diretamente a escrita e, como existem vários tipos de escrita, correspondentemente, haverá vários tipos de leitura. Cada tipo de texto exige um tipo de leitura a criança do meio urbano esta em constante interação com diferentes tipos de textos (outdoor, cartazes, rótulos, placas, embalagens etc) mesmo antes de alfabetizar-se a criança já realiza a leitura desses materiais.

Para Cagliari toda a leitura deve ser feita não só sintagmaticamente (levando-se conta apenas um significado literal de leitura) Mas, paradigmaticamente o que possibilita ao leitor não só descobrir o significado literal das palavras e expressões, mas trazer para o texto os seus conhecimentos, sua "leitura de mundo" como leitor e falante da língua. O controle dessas coordenadas é uma tarefa difícil. Pois a maioria dos alunos só é capaz de fazer uma leitura linear (2005 p. 152)

No processo de desenvolvimento da leitura, a escola deve oportunizar o acesso da criança a textos apropriados a sua faixa etária. Colocando a disposição dos alunos textos literários de vários autores. É preciso também promover a leitura de revistas de vários tipos:

Às vezes essas revistas e fascículos motivam fortemente os alunos para a leitura, mostrando-lhes que a leitura pode ser muito mais interessante do que aquilo que encontram em grande parte dos livros de português e na totalidade das. cartilhas(...) que não vão além de frases para a leitura que são cheias de repetições, como “ A vovó deu uva a Olavo, “O bebê bebe e baba (...) isto é o que há de pior para se dar para uma criança ler (Cagliari p. 179).

A desenvolvimento da escrita está intimamente relacionado com a leitura. Assim como o aluno poderá escrever bem se ele não tem acesso a bons escritores. “São alunos subnutridos literariamente e, é claro, em decorrência disso, não vão saber escrever”. (Cagliari 2005 p. 179)

O acesso da criança a coletâneas de bons autores é fundamental para o seu desenvolvimento, desde a alfabetização. A carência desse tipo de material, segundo Cagliari, poderá ser superada com a elaboração de pequenos livros com histórias, trechos de obras literárias, poesias, canções, parlendas, letras de músicas populares, provérbios, adivinhações e outros de interesse dos alunos. Estes livrinhos deverão ser ilustrados pelos próprios alunos.

Desde os primeiros anos escolares as crianças precisam saber por que estão lendo, a leitura tem que ter um significado e não ser um mero exercício para a interpretação de textos fragmentados, sem nenhum sentido.”Uma das piores atitudes da escola atual em relação à leitura é a maneira como faz interpretação de texto” (Cagliari 2005 p 179)

A leitura poderá ocorrer através do exercício de predição, onde o professor utiliza-se do conhecimento que o aluno já tem para ampliar informações que o texto traz (antecipar, criar hipóteses), leitura de textos informativos, e a leitura de textos voltados para a produção escrita dos alunos ou a dramatização, a leitura pelo prazer de ler (textos de humor, poesias, revistas em quadrinhos parlendas).

A escola desconsidera a capacidade que a criança tem de interpretar e formula perguntas que “só induz o aluno a pensar que interpretar textos é saber o sujeito de uma oração ou o objeto direto etc., como ainda tira todo o sabor da leitura”.(Cagliari 2005 p. 181) e em nada contribui para o desenvolvimento do aluno como ser pensante e atuante.

A leitura como forma de comunicação deve ser estimulado através de experiências significativas que oportunize ao aluno interagir com o texto em várias situações, levando hipóteses, interpretando e tirando conclusões do que leu. Porém existem momentos em que a criança quer ler pelo prazer da leitura sem nenhum compromisso prévio com o texto. “A leitura às vezes é como uma música que se quer ouvir e não dançar”.

Referências Bibliográficas:

BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo, Cortez 1994.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília

CAGLIARI, Luiz Carlos Alfabetização & Lingüística. São Paulo, Scipione, 2005.

SILVA, Ezequiel Theodoro da Silva 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

POSSARI

Cleuza Regina
Enviado por Cleuza Regina em 09/03/2007
Reeditado em 30/04/2009
Código do texto: T407304
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