A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS.
Na atualidade a escola busca sua identidade em meio a uma política educacional voltada para a “qualidade total”, caracterizada pelo emprego de modelos gestores, amplamente utilizados em empresas, cuja finalidade consiste em minimizar gastos e maximizar lucros. Conseqüentemente, termos como a descentralização, autonomia, eqüidade, são utilizados, em larga escala no âmbito escolar. Tais termos, além de envolver programas de qualidade educacional encontram-se intrinsecamente, ligado à gestão democrática. Contudo, essa gestão, continua ainda muito mais presente no discurso do que na prática.
A presente dificuldade de transição – teoria/prática – reflete a existência de mazelas da administração centralizadora e burocratizada que, historicamente, inibiu a participação efetiva, de professores, funcionários e comunidade na definição dos rumos da escola.
O histórico educacional brasileiro sempre foi marcado por deficiências exorbitantes, desde a sua implantação. A escola sempre foi utilizada como um instrumento ideológico, visando a manutenção das classes existentes, apresentando um caráter dualista com uma educação para a classe popular e outra para as elites. As transformações ocorridas em seu interior, sempre ocorreram visando à manutenção das estruturas existentes.
Na última década a política educacional brasileira, foi marcada por um quadro de reformas com ênfase em estratégias neoliberais que reforçam a idéia de Estado mínimo, defendendo a perspectiva de construção de novas formas de gerenciamento, pautados numa redução da ação do estado. As diretrizes políticas ressaltaram a defesa da privatização dos órgãos públicos, ocasionando o sucateamento das estruturas públicas em favor das empresas privadas. As estratégias adotadas buscaram demonstrar que a descentralização, estaria assegurando uma ação estatal mais eficiente, eficaz e de qualidade.
Neste sentido a política educacional brasileira na década de 90, propôs um redimensionamento do sistema de ensino, por meio de novas formas de gerenciamento. Esta estratégia voltava-se para o aumento da produtividade e a busca pela qualidade. Esse passou a ser o lema defendido pelo governo brasileiro de acordo com às diretrizes políticas das agências internacionais que financiam e assessoram projetos educacionais no Brasil e nos demais países em desenvolvimento.
O Projeto Neoliberal teve suas bases formuladas a partir da “Declaração Mundial sobre a educação para todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem” elaborado em 1990 na Tailândia, que culminou no Plano Nacional de Educação para Todos.
O avanço da política educacional implementada pelo último governo, buscou ampliar quantitativa o acesso ao ensino fundamental e colocou em prática algumas medidas com relação a “valorização” do magistério, aprovando a Lei do FUNDEF. Outra questão também muito abordada nos planos educacionais na década de 90, foi a modernização da gestão, procurando demonstrar a necessidade de criar novas formas de gestão capazes de melhorar a produtividade do sistema educacional, dando respostas as demandas do desenvolvimento cientifico-tecnológico e cultural exigidas pela sociedade.
Neste contexto foi aprovada em 20 de Dezembro de 1996, após oito anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional com o nº 9.394. O texto da Lei fixou o prazo de dez anos para algumas de suas disposições entrarem em vigor. Esta Lei trouxe significativos avanços com relação a Lei anterior, mas ao mesmo tempo, reafirma uma educação eletista e classista. A Lei estabelece as normas gerais de estrutura e funcionamento da educação escolar brasileira, em todos os níveis e modalidades. Faz referência clara à educação escolar que deve ser oferecida em instituições próprias. A educação escolar passou a ser dividida em dois níveis: Educação básica constituída pela educação infantil, ensino fundamental e médio, e a educação superior.
Apesar de todas as “garantias” expressas na Lei, é preciso analisar a atual conjuntura do sistema educacional. A precariedade em que se encontram as nossas escolas, a renda dos professores, as condições de trabalho de todos os profissionais da educação, as estruturas físicas das escolas. Todos esses aspectos denunciam o caráter de abandono do poder público com relação à educação. Os prédios escolares estão “caindo” aos pedaços, carteiras danificadas, salas sem ventilação, professores mal remunerados e descontentes com as condições de trabalho. A Falta de políticas educacionais coletivas seguem de governo a governo.
Esta situação afeta diretamente a unidade escolar. A escola brasileira é considerada insatisfatória, tanto de forma quantitativa quanto qualitativa. Isto pode ser comprovado pelos altos índices de repetência e evasão, assim como, pelos resultados obtidos nos processos avaliativos promovidos pelo MEC. A escola, pública da atualidade tem se mostrado incompetente para lidar com as camadas populares acentuando ainda mais as desigualdades sociais existentes.
O descontentamento com a escola é cada vez maior. Neste sentido buscam-se os culpados para esta situação.Os pais culpam os professores, os professores, insatisfeitos com os salários irrisórios e sobrecarregados com a carga horária culpam o governo e os alunos. Os alunos, por sua vez, não encontram na escola as respostas para suas interrogações. Com relação a isto Müller nos alerta:
É possível que o nosso modelo de escola esteja ultrapassado e que as transformações já realizadas ainda não tenham surtido os efeitos esperados. Por outro lado, se as transformações esperadas não tiveram a desejada contrapartida em termos de mudanças sociais, é preciso pensar numa escola que considere o aluno à luz desse meio social não transformado e, por isso, altamente limitador, ao invés de insistir em buscar os culpados entre os próprios professores (2002).
A escola tem um papel importante na sociedade, por ser uma entidade educacional, deve visar a aprendizagem qualitativa do educando estimulando-o cada vez mais a buscar e construir o seu próprio conhecimento, oferecendo-lhe um ensino de qualidade. Um conhecimento significativo que o leve a perceber as contradições existentes e busque com sua ação, as soluções dos problemas enfrentados, buscando o bem da coletividade. Segundo SOARES
A escola publica não é, como erroneamente se pretende que seja, uma doação do Estado ao povo; ao contrário, ela é uma progressiva e lenta conquista das camadas populares, em sua luta pela democratização do saber, através da democratização da escola. Nessa luta, porém, o povo ainda não é vencedor, continua vencido: não há escola para todos , e a escola que existe é antes contra o povo que para o povo” SOARES(1993,p.9)
Ainda prevalece uma ruptura entre a vida na escola e vida da criança e jovem fora dela. Ocorrendo um contrapasso entre as transformações sociais esperadas e a realidade existente, o aluno não consegue interpretar a importância da educação para o seu futuro. Das crianças que ingressam na escola apenas uma minoria conseguem concluir o Ensino Médio. Isto demonstra que a escola não está preparada para trabalhar com a heterogeneidade existente no seu interior e passa a excluir a grande parte de seus alunos, principalmente, os alunos das classes populares socioeconomicamente desfavorecidos. Isto é muito preocupante, uma vez que, estas crianças são as que mais necessitam da escola como agente de promoção e de desenvolvimento dos seus vários aspectos.
As crianças da classe popular necessitam de uma escola de qualidade, com um ensino rigoroso e exigente, com conteúdos sólidos e historicizados. Acima de tudo uma escola comprometida com a classe e com a formação de sujeitos críticos e atuantes. Que busquem, com sua ação, a transformação. Para isto, é essencial que a escola de fato ofereça os instrumentos necessários para que se tornem sujeitos de transformação.
O sistema educacional brasileiro, ainda tem que aprender a lidar com as diferenças. A escola não reconhece nem valorizar o conhecimento que a criança traz de casa, toda sua experiência de vida. Para a escola, este conhecimento é ainda muito pouco valorizado. Ocorrendo uma separação drástica entre o mundo lá fora e o mundo dentro da escola.
Hoje presenciamos uma desmotivação generalizada por parte dos alunos, bem como, por parte de muitos professores. A indisciplina dentro da sala de aula é um fator que tem ganhado destaques nos meios de comunicação, conforme manchete divulgada na Revista Veja edição 1.904, ano 38 – nº 19 colocando a situação alarmante de medo que professores tanto da rede privada como de instituições públicas tem enfrentado com relação aos alunos indisciplinados e violentos, num fenômeno de subversão com relação a autoridade do professor em sala de aula. Os professores por sua vez se sentem impotentes diante da indisciplina existente no espaço escolar.
Neste sentido, vários questionamentos surgem: o que a escola poderá fazer para reverter este quadro? Qual o papel do professor? Dos pais? Dos Alunos? Da direção? Dos governantes? Será justo jogar toda a culpa nos professores ou, simplesmente nos alunos?
Será que está indisciplina não é justamente uma forma que o aluno encontrou de gritar seu descontentamento com o atual sistema de ensino? Será que a escola consegue expor para o aluno sua importância, enquanto instituição formadora? Ou ela tem apenas agido como mero instrumento ideológico de re-produção e de adestramento? Não é justamente a falta de contextualização do ensino que está afastando a criança e o jovem da escola? Será que o que está sendo ensinando na escola tem sentido para o aluno?O aluno tem consciência da real importância da educação em sua vida? No processo de transformação social? Será que está situação de desmotivação e indisciplina, apontada por vários autores, não está sendo a maneira que a criança e jovem encontraram para, afirmar, que não estão vendo a escola como um instrumento de transformação e nem tão pouco de ascensão social.
Estas são questões que devem ser analisadas cuidadosamente.Algo deverá ser feito para reverter a atual situação de desmotivação e descrédito dos alunos com relação à escola. Acreditamos ser este o grande desafio da escola neste século. As atuais circunstâncias não permitem mais um ensino voltado unicamente para um ensino livresco, descontextualizado, fragmentado, nos moldes de uma educação bancaria.
Não existe uma fórmula mágica, para reverter este quadro, porém vários teóricos nos alertam sobre a necessidade de oferecer um ensino que de fato atenda as necessidades educacionais das crianças e jovens deste país resgatando o valor ético dentro do âmbito escolar. Onde o respeito pelo próximo seja vivenciado a todo o momento, com uma educação que valorize o conhecimento de cada educando e que tenha como meta o desenvolvimento do ser humano em todos os seus aspectos e não simplesmente visando uma qualidade voltada para o sistema econômico.
Para reverter o quadro existente é preciso analisar as condições reais que propiciariam mudanças efetivas nas atitudes e valores existentes no espaço escolar, de maneira que o foco prioritário da escola, esteja voltado para a aprendizagem e formação de um aluno capaz de participa ativamente da vida econômica, social e cultural do país. A escola precisa oportunizar ao educando um ambiente onde ele de fato se sinta motivado a aprender. Compreendendo que a educação terá uma importância significativa em sua vida, no exercício de sua cidadania plena e consciente.
Esta situação necessita de um respaldo financeiro, a escola precisa estar equipada para atender as novas demandas. É preciso, também, romper com a visão de que o professor é o detentor do saber e o aluno um mero receptor de informações,, cabendo-lhe o armazenamento dessas informações, para depois dar a resposta em forma de avaliação. Que, posteriormente, são esquecidas, pois não serão mais utilizadas. A ação educativa, para ter sentido, precisa estar voltada para o apontamento de uma relação entre o conhecimento, o mundo e os problemas enfrentados pelos alunos no dia a dia.
A aprendizagem é um processo de construção interiorizada, portanto não basta a apresentação de uma informação ao aluno para que ele aprenda. Ele precisa construir o conhecimento, mediante a sua própria elaboração. Neste sentido cabe ao professor em sua prática pedagógica estar promovendo a articulação dos conteúdos trabalhados dentro da sala de aula com a realidade vivenciada pelo aluno.
A escola não pode mais continuar na mesmice de um ensino tradicional e nem tão pouco se deixar levar pelo modismo de certas práticas pedagógicas, embasadas em teorias educacionais mal interpretadas, onde o ensino perde sua efetividade e objetividade, com uma ação pedagógica descomprometida com a promoção do ser humano. A ação educativa deve se construir num processo de qualificação contínua e permanente decorrente da valorização da crítica e da constante relação teoria/prática e vice-versa, tendo como ponto de partida a realidade do educando, possibilitando, com isto, o surgimento de um conhecimento útil, que de fato, proporcione a formação de cidadãos capazes de intervir na sua realidade, assumindo seu verdadeiro papel no contexto social, como ser pensante, crítico e atuante.
É preciso refletir sobre a ação da escola, reconhecendo suas falhas e buscando alternativas e para a superação dos problemas enfrentados. Tendo clareza de que a escola é parte de um sistema e que as transformações jamais acontecerão de cima para baixo. A busca por transformações deve partir do contexto escolar, da realidade existente, pois segundo Veiga:
[...] a escola não tem mais a possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da Escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e qualidade (Veiga 1995.p.15)
Para que ocorram as mudanças necessárias, antes de qualquer coisa, é preciso compreender o que leva a escola a ser o que ela é hoje. Por esta funcionando desse jeito? Sabemos que ela é parte de um contexto maior e desde que foi criada, sempre atendeu aos interesses da classe dominante, tendo sido utilizada no decorrer da história como um instrumento ideológico para a manutenção das estruturas existentes. Será que o governo vai proporcionar as mudanças necessárias na escola para que ela atenda aos interesses das classes populares? Oferecendo a ela os instrumentos necessários para a superação das desigualdades existentes? Segundo Ceccon:
A escola não e democrática porque a sociedade em que vivemos ainda não é verdadeiramente democrática Os donos do poder são também os donos do saber e os pobres são excluídos tanto da escola quanto da participação nas decisões. A escola, portanto, é parte integrante dessa sociedade injusta e desigual, em que a regra de comportamento e “cada um por si e salve-se quem puder” (CECCON,1990,9.81)
As mudanças não vão acontecer de forma natural. Os interessados é que têm que provocá-las. Historicamente, todos os direitos conquistados, foram resultantes de ações de pessoas que se rebelaram e protestaram contra as injustiças e as desigualdades. Não podemos ficar de braços cruzados esperando que as soluções venham por intermédio de nossos governantes, pois uma escola de boa qualidade não vem ao encontro dos interesses deles, uma vez que, é muito mais fácil governar um povo acrítico e sem conhecimento.
Se estivermos trabalhando em prol das transformações, é fundamenta, que nossa ação pedagógica seja voltada para uma participação ativa, efetiva e reflexiva dos alunos e da comunidade. A escola deve oportunizar momentos de discussão e tomada de decisão. O aluno e os pais, precisam ser ouvidos, eles têm que dizer o que esperam da escola. As soluções para as dificuldades enfrentadas, devem ser encontradas em conjunto, elencando prioridades, definindo metas, comprometendo-se com os rumos da escola . Num movimento articulado de ações organizadas e coerentes com a construção e execução do Projeto Político Pedagógico da escola.
A escola tem que descobrir um caminho que envolva as pessoas, fazendo com que se sintam importantes, principalmente, os pais de alunos e as pessoas da comunidade onde ela está inserida. Essas pessoas, na maioria das vezes acham que não podem colaborar com a escola por não terem um alto nível de escolaridade. Isto os leva a achar que só são úteis na participação dos mutirões, promovidos para limpeza do pátio, consertos dos mobiliários, reparos no prédio e outros trabalhos que não estão ligados com a construção de projetos educacionais coletivos.
O Projeto Político Pedagógico da escola deve ser construído em consonância com um projeto de sociedade. Através da participação ativa da comunidade, numa ação coletiva, compartilhando ações e delineando o papel de cada um dos atores na construção do projeto comum. Num processo constante de ação/reflexão/ação. Levando em conta, que a educação é um processo dinâmico, crítico e criativo. A mesma não pode, mais, ser concebida como um mero processo de transmissão de um saber pronto e acabado.
A escola tem em sua frente o desafio de buscar sua identidade, como instituição pública, levando em conta seu contexto, suas características, sem perder de vista seu objetivo mais amplo que é a formação de cidadãos atuantes e participativos. Nesta perspectiva a reflexão sobre o currículo tem um papel fundamental, na busca de dar significado aos conteúdos de ensino e as práticas desenvolvidas.
A seleção dos conteúdos de ensino não é uma tarefa fácil e exige do professor muita clareza e domínio da área de atuação, bem como, a reflexão sobre os desafios presentes na prática social contemporânea. Estes desafios deverão servir de parâmetros para a seleção dos conteúdos curriculares. A ação educativa precisa ser construída num processo de qualificação contínua e permanente, decorrente da valorização da crítica e da constante relação teoria/prática e vice-versa. A realidade, deve ser o ponto de partida, possibilitando, com isto, o surgimento de um conhecimento útil, que de fato, proporcione a formação de cidadãos capazes de intervir na sua realidade, assumindo seu verdadeiro papel no contexto social, como ser pensante, crítico e atuante.
A escola que queremos, é uma escola com um espaço agradável, limpo, organizado. Onde o educando possa viver plenamente a experiência da descoberta, da participação, do diálogo, do respeito ao outro e a si mesmo, da ética, da democracia. Um espaço onde o professor e o aluno sintam prazer em ensinar e aprender, onde o educando seja constantemente desafiado a construir seu conhecimento.Que também sinta-se responsável por esta aprendizagem. Neste sentido Paulo Freire nos lembra que:
Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar... Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade. (Freire, 1997 p. 26)
Essa escola requer a competência do professor e seu comprometimento político pedagógico com a ação de educar, transformando a sala de aula num espaço de diálogo, de participação e de constante busca pelo conhecimento. Um espaço onde a realidade do aluno seja o ponto de partida para o processo de construção do conhecimento, sem delimitações quanto ao ponto de chegada. Um espaço onde o educando possa de fato vivenciar a participação e a democracia como afirma Santos:
“A escola precisa desenvolver o germe da participação para que aja produção do conhecimento e (...) o desenvolvimento da competência política do aluno(a) enquanto cidadão(a). É fundamental a escola aos/as professores (as), não só ensinar a participação e a democracia, mas ensinar pela participação e pela democracia”. (Santos, 2003)
Uma escola que possibilite ao educando perceber-se enquanto sujeito de transformação, compreendendo que as mudanças não acontecerão num passe de mágica e nem acontecerão de cima pra baixo, é necessário lutar por elas. Sem comodismo frente ao discurso fatalista do capitalismo que quer nos fazer acreditar incapazes e persuadidos a aceitar o inevitável.
É preciso romper com o sistema reprodutor e acrítico, promotor da dependência física e moral, buscando a transformação, com uma ação educativa que valorize o ser humano enquanto sujeito de suas ações e para isto é preciso, sonhar, ousar, buscar com as ações diárias uma educação de qualidade que leve o ser humano a emergir enquanto sujeito participativo e transformador de sua realidade, buscando com suas ações o bem-estar da coletividade.
Este é um desafio que a escola precisa enfrentar. É um caminho repleto de dificuldades, porém necessário, pois se a escola for um espaço de satisfação e de realização, certamente, nenhuma criança ou jovem irá abandoná-la.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que a escola se transforme numa escola autônoma que ofereça um ensino de qualidade, se faz necessário o desenvolvimento de uma política econômica voltada de fato para o desenvolvimento da educação desde as séries iniciais. A Legislação atual assegura a aplicação dos recursos com a educação, mas entendemos, que para ocorrer uma aplicação acertada desses recursos é preciso que aja o comprometimento dos poderes públicos, o acompanhamento e a fiscalização da sociedade. Participando, cobrando, vivenciado a democracia dentro do âmbito escolar.
Em conformidade com a Lei 9.424/96 todos os municípios e estados deveriam constituir os Conselhos de Acompanhamento e Controle Social. O Artigo 4º desta Lei estabelece que os conselheiros devem cumprir com suas atribuições, acompanhando e controlando a repartição, transferência e a aplicação dos recursos do FUNDEF (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério). Porém o que ocorreu na grande maioria dos municípios brasileiros foram a composição de conselhos compostos somente para cumprir uma determinação legal, sem exercer sua real função, de acompanhamento, controle e fiscalização dos recursos públicos aplicados na educação.
O valor da gestão democrática é um valor já consagrado no Brasil, mas, ainda, não é totalmente compreendida e incorporada a prática social. Isto é decorrente da centralização exagerada que sempre existiu na administração educacional e a falta de tradição da participação da comunidade na solução dos problemas educacionais. O que acabam por inibir a participação efetiva da sociedade dentro do espaço escolar.
Compreendemos, que a participação efetiva da comunidade, não acontecerá através de um decreto ou num passe de mágica. Nem tão pouco deve ser entendido como uma forma de tirar do Estado suas responsabilidades. Mas sim, como uma forma da comunidade estar lutando pelos direitos garantidos na legislação e que muitas vezes são “esquecidos” pelos governantes.
Para reverter o quadro existente, é preciso sensibilizar a comunidade, buscar através de aproximações sucessivas, despertar o seu interesse, ganhar sua confiança e, principalmente, ouvir o que a ela tem para falar, como é sua realidade, o que pensa da escola, do mundo. É necessário e primordial instaurar a gestão participativa no espaço escolar, implementado seus conselhos, para que todos tenham direito, a voz e ao voto e juntos possam estar lutando por uma escola de qualidade, onde todos os alunos tenham sucesso e possam se apropriar de conhecimentos e habilidades que possibilitem o exercício pleno da cidadania.
Trabalhando na perspectiva de consolidar uma pratica pedagógica que oportunize a leitura crítica da realidade, contribuindo para o desenvolvimento da consciência política dos educandos e educadores. Incentivando à participação, instaurando a autonomia do cidadão. Para que através dessa conscientização crítica ele possa ultrapassar o conformismo, a acomodação, a submissão e a irracionalidade, atingindo uma coerência entre o pensar e o agir, atuado para a transformação da sociedade em uma sociedade mais justa e humana.
Neste processo o (a) professor (a) exerce um papel fundamental de despertar no aluno sua curiosidade, que como afirma Freire na criança é natural, cabendo ao professor torná-la epistemológica, com uma ação pedagógica voltada para a superação dos limites impostos pela lógica linear do positivismo, do modelo burocratizado e elitizado, das exclusões, para coletivamente e dialeticamente, partindo das diferenças construir os consensos em torno das responsabilidades com a formação para o exercício pleno e consciente da cidadania.
O (a) professor (a) precisa ter consciência da importância de sua prática cotidiana, tendo claro que tipo de cidadão formar? Para atuar em que tipo de sociedade? E acima de tudo ter claro como desenvolver esta prática com competência, responsabilidade e ética.
A construção de uma escola autônoma e formadora de cidadãos críticos e atuantes, requer a ousadia da utopia, do sonho de um futuro possível e viável. Na construção de uma escola onde os alunos sintam prazer de estudar, de freqüentar, de construir a cultura elaborada... Um espaço onde a vida possa ser vivida plenamente em que a criança e jovem se sintam felizes e realizados.
Pois, mais importante que levar as crianças e jovens para a escola é possibilitar que tenham uma educação de qualidade, através de uma escola autônoma, que promova a emancipação do educando e que esteja voltada para a politização da sociedade.
Não existe uma fórmula mágica para a construção desta escola. A autonomia se constrói no dia-a-dia, através de um processo político e cultural. Com a participação efetiva de todos os agentes. Neste sentido, a gestão escolar não pode se limitar ao ato administrativo, mas, pressupõe autonomia administrativa, financeira e pedagógica. A escola precisa se tornar democrática na sua essência, ou seja, na sua ação, no seu fazer pedagógico, no compartilhar de ações e de decisões, voltadas para a formação da cidadania plena e consciente..
Um trabalho nesta perspectiva exige a colaboração, a co-responsabilidade e a solidariedade. Acima de tudo, exige, a compreensão de que os resultados, não irão surgir de um dia para o outro. Eles só serão percebidos com o tempo. Contudo, não podemos deixar que a descrença tome conta de nós educadores e de nossas ações, levando-nos ao comodismo. É Preciso interpretar e analisar o discurso ideológico da globalização, para rebelarmos contra essa ameaça que nos atinge, ao ponto, de como seres humanos negarmos nossa condição em favor de uma ética de mercado, aberta a gula do lucro e insensível ao ser gente, é preciso lutar por uma “ética da solidariedade humana”
Um dos primeiros passos a ser dado para a construção coletiva de uma escola que de fato se comprometa com a formação plena do ser humano. É buscar a participação, da comunidade interna e externa para a construção de uma prática educativa e um modelo de gestão, embasados na ética e numa visão de mundo alicerçada na rigorosidade, na criticidade, no risco, na humildade, no bom senso, na tolerância, na alegria, na curiosidade, na competência, na generosidade... Permeada pela esperança. Educando para a autonomia, pois a autonomia faz parte da natureza educativa. Sem autonomia não há educação, não há ensino e nem tão pouco aprendizagem.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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