Bancos e lotéricas
Sou ex-bancário e posso falar sobre o que eram e são as filas bancarias na chamada semana do pagamento, em cada mês.
Atualmente, com a instalação dos terminais em salas de auto-atendimento, houve significativa alteração nos hábitos e uso dos serviços bancários. Praticamente foram eliminados os antigos caixas (mantendo-se apenas o estritamente necessários) e o próprio cliente tem agora a responsabilidade e incumbência dos próprios serviços bancários, inclusive com as facilidades da Internet. Convenhamos que o progresso tecnológico nesta área foi notável e facilita muito a vida, já que os que tem familiaridade com a era digital dispensam funcionários e podem executar, por si mesmos, tais serviços.
Agendamentos nos sites ou terminais dos bancos, saques em horários não comerciais, envelopes para depósitos a serem processados, empréstimos e pagamentos diversos agora dispensam permanência na lamentável fila bancária.
Todavia, a maioria dos usuários dos serviços bancários nem computador possui e encontra grande dificuldade na manipulação digital. Especialmente idosos e a enorme massa de analfabetos funcionais existentes no país.
Os bancos, com o progresso tecnológico na área da informática, alcançaram o sistema de rede, interligando as agências e os próprios bancos, e hoje processam documentos em tempo real, consagrando-se através da expressão “on line”. O mesmo que ocorre com a comunicação via internet em suas diversas modalidades e opções.
Todavia, note-se que, gradativamente, os bancos foram descartando os usuários (apenas pagadores das contas de luz e água, para citar esse único exemplo) para privilegiar, atender e manter apenas os clientes de interesse. São os portadores de investimentos e aqueles que, sem tanto interesse financeiro, dominam – ainda que de maneira apenas a atender sua necessidade – a era digital, o uso de internet e dos terminais bancários.
Temos, pois, os bancos como vendedores de produtos, numa gama variada já bem conhecida dos clientes: seguros, títulos de capitalização, previdência privada, etc. E como os usuários, que formavam longas filas nos bancos, não interessam aos interesses dos banqueiros, foram transferidos para as casas lotéricas e correios, que também acumulam agora as funções bancárias.
Os serviços foram adaptados de forma a deixar os bancos apenas para atender clientes preferenciais, detentores de possibilidades que aumentem os lucros bancários.
E o povo lá está, sofredor nas longas filas das lotéricas e correios, também iludido com as tentativas de riqueza fácil através das loterias, matematicamente muito difíceis.
Isso não deixa de ser uma espécie de discriminação social. Isso não é iniciativa de uma cidade ou de uma empresa. Isso é fruto do sistema que vivemos, de competição acirrada por lucros e lucros. Bem próprio de um mundo materialista que deseja tirar proveito máximo de tudo, sempre.
Felizmente os serviços sociais prestados especialmente pela Caixa Econômica Federal dignificam a história e função dos bancos, apesar das filas, hoje tratadas com dignidade naquela empresa através do sistema de senhas e acomodações dignas.
Há que se considerar também, todavia, que, por uma questão cultural, a população em geral tem muita dificuldade e tem responsabilidade nas enormes filas que enfrenta. Muitas vezes acumulam-se num mesmo dia compromissos que poderiam ser quitados em dias de menos movimento. Essa, entre outras inúmeras causas, forma as imensas e cansativas filas. Não há outro caminho senão a paciência para aguardar a evolução da mentalidade e mesmo do próprio sistema, que, convenhamos, progrediu muito e que a inteligência de nosso tempo saberá ampliar ainda mais.
O autor é palestrante e escritor; atua na área de comunicações e relações públicas.