LÁGRIMAS PARA WHITNEY

Esse artigo foi escrito e publicado no jornal onde escrevo em fevereiro de 2012. Hoje dia de Natal, ouvindo uma coleção de canções de Whitney pensei em publicá-lo aqui. Vale como uma reflexão.

Fazia muitos anos que eu não acordava com uma notícia que me entristecesse tanto. Nem de longe se comparou com meu time perdendo um campeonato. Eu sabia que Whitney Houston tinha escolhido o caminho de morrer devagar. Um pouquinho a cada dia. O mundo sabia. Mesmo assim o impacto foi doloroso.

Whitney roubou um pedacinho do meu coração. Ele se apaixonaria por ela fácil. Mais rápido que um piscar de olhos. Tinha um jeitinho de Lizzandra. E quanto mais eu via seus vídeos no domingo, menos eu entendia. E me assustava com a capacidade que temos. Todos, não existem exceções, de nos destruir.

Curiosamente Whitney Houston, chegou ao topo das paradas e ao auge da fama cantando uma canção em que dizia que “nunca teve nada”. Talvez, as tragédias antes com Amy Winehouse, e agora com Whitney Houston possam esclarecer muitas coisas desse mundo oculto que cada ser humano vive consigo mesmo. Nós e nossos diabinhos.

Whitney Houston como toda criança, desde pequena deve ter sonhado com fama e celebridade. Esse mundo costuma abrir suas portas para poucos entrarem. Whitney foi uma que entrou. Uma vez lá dentro existem dois caminhos. Ou você esquece quem é, e passa a viver a vida de outros. Ou procura uma forma de fugir e ser você novamente.

Nessa fuga, cair nos braços da solidão é o primeiro obstáculo. Os pesadelos das madrugadas solitárias devem ser sufocantes. Depois quando se descobre que ficaram apenas os maus amigos deve ser apavorante. Então começa o círculo vicioso. A fuga da fuga. A fuga da fuga. E a fuga da fuga... Interminável.

E os vícios aparecerem. Em silêncio vão corroendo. Sentir a alma sendo corroída aos pedacinhos deve ser apavorante. O álcool e as drogas a princípio aliviam essas sensações. Até que te arrastam definitivamente para a tragédia e para o fim. É provável que muitos tentassem salvar Whitney Houston. Resta saber até que ponto ela quis ser salva.

Quando Whitney descobriu que não existia um guarda-costas capaz de livrá-la das drogas e do álcool, em 2009 ela cantou “I look to you”. A canção é uma súplica a Deus. As frases dão à dimensão exata do que a cantora estava passando naquele momento. Deus deve ter achado a canção linda. Eu também achei. Mas, talvez, Deus esperasse que Whitney fizesse a parte dela. Um pouquinho que fosse. Ela não conseguiu.

Depois de afirmar que “eu posso ser forte” segue-se um “não há mais porque lutar”. “As tempestades de inverno vieram e escureceram o meu sol”. ”Estou perdida sem uma causa, depois de me dar por inteira”. Ainda diz que “cada caminho que tomei levou-me ao desgosto”. Whitney viajou do céu ao inferno. Na sua fé, fez a última viagem para olhar nos olhos de Deus. E brilhar como uma estrela do céu.