NÓS PRECISAMOS DO AZUL DO CÉU
NÓS PRECISAMOS DO AZUL DO CÉU
Nesta semana o assunto que mais esteve em discussão na voz do meu utilíssimo radinho de pilhas vermelho foi a pressão exercida pelo mercado imobiliário, para a construção de espigões no entorno do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Ganhou por pouco do assunto do julgamento do Mensalão.
Antes de comentar o assunto, vou pedir sem a menor pretensão de ser egocêntrico, licença para apresentar-me aos que não me conhecem, para que possam entender porque uma coisa que está acontecendo a milhares de quilômetros de distância da minha casa, me instiga a escrever sobre ela.
Sou alagoano, nasci e moro em Maceió há 50 anos, sou divorciado, dentista há 30 anos e advogado há 10 anos, e como profissional liberal não consegui até hoje uma estabilidade financeira que permita ter dias mais tranquilos quando a velhice chegar.
Por esse motivo estou estudando bastante com o intuito de conseguir passar em um concurso para cargos públicos, o que me dará a tão desejada estabilidade. Posso até não conseguir, mas nunca vou me arrepender por não ter tentado!
Bom, feita essa apresentação, explico que por não ser jornalista não vou me limitar a apenas comentar o fato. Eu gosto de fazer uma ligação entre o assunto em pauta e a minha vida; coisas que aconteceram comigo. Gosto de expor as minhas opiniões e estimular o leitor a pensar, comparar com as suas, discordar, concordar, e até mesmo achar ridículo, mas, de alguma maneira se manifestar em relação a elas.
Chamou-me a atenção o comentário do apresentador do jornal matutino da Rádio Jovem Pan, sobre uma entrevista feita com uma geóloga, professora da USP,-perdoem-me, mas não consegui gravar o nome da professora. Tentei através do email da rádio mas não consegui -, sobre a tentativa de se liberar a construção de um anel de prédios no entorno do Parque do Ibirapuera.
O radialista, encantado com a forma simples, lúcida e poética com a qual a professora definiu a necessidade de nós, seres humanos, estarmos integrados ao mundo que nos rodeia, não como centro, mas como parte dele, reapresentou a entrevista, e aí eu pude, graças à minha salutar mania de tomar banho ouvindo o meu radinho de pilhas, ter contato com a opinião da referida mestra.
Ela falou mais ou menos assim: “Nós precisamos do Azul do Céu. O Céu tem a energia do Universo. A Terra é o lugar em que vivemos, e precisamos da energia desse azul para continuar vivendo, nos movimentando. Em Paris, eles não permitem que se construa ao redor dos grandes parques. O céu cinzento, escuro, nos deprime. Se não conseguimos ver o azul do céu, nós adoecemos.” Falou ainda da necessidade de estarmos em contato com toda essa energia do Universo.
Eu tenho a mesma opinião e sei que existem estudos que demonstram o maléfico efeito de uma selva de pedras, de um céu cinzento e de um inverno prolongado na vida das pessoas em países da Europa. O índice de suicídios aumenta, as doenças psiquiátricas aparecem com maior frequência, as pessoas são mais tristes, mais sisudas, menos sociáveis, enfim, a vida tem menos graça!
A luz do sol, o azul do céu e, no meu caso, o azul do mar e o verde lusco-fusco da lagoa são fatores de fundamental importância para o meu equilíbrio emocional.
Fazendo a ligação do tema com as minhas experiências de vida, relato uma passagem recente onde em conversa com uma pretensa paquera, eu dizia que estava morando em um apartamento alugado, enquanto esperava o término da construção de outro que eu havia comprado, mas que iria sentir muito quando tivesse que fazer a mudança, porque iria perder a vista espetacular que eu tenho de toda a minha cidade. Do décimo terceiro andar em que moro, consigo ver cerca de setenta e cinco por cento de Maceió. Um mar esplendoroso de um azul em tons degrade que só vendo para acreditar! Uma lagoa linda, ora esverdeada ora prateada onde eu vejo com frequência um por do sol deslumbrante! As luzes da cidade a iluminarem meu olhar nas noites aparentemente tranquilas.
E fui contando essas coisas achando que estava abafando! Quando terminei o meu relato poético a garota falou: “Ora, eu vou lá comprar apartamento por causa de vista! Eu vou lá perder o meu tempo olhando pro mar! Eu quero mais é viver! Não tenho tempo para ficar admirando vista não!”
Não preciso nem dizer que não rolou nada, né?
Outra garota perguntou sugerindo: “porque você não coloca umas cortinas nessas janelas?” E eu, meio sem entender, respondi que não queria perder o privilégio de poder tomar o meu café da manhã vendo o mar à minha frente, ou de deitar-me em minha cama, sob o luar, como se estivesse deitado na areia da praia, vendo a lua e as estrelas, ou ainda, acordar ao amanhecer e sentado na cama, olhar para um lado e ver o sol despontando no horizonte sobre aquele mar que acorda para emoldurar a cidade, e olhar para o outro lado e ver ao longe as garças que alçam seus voos em busca de alimento na Lagoa do Mundaú, exuberante e bela num contraste pictórico com os morros das cidades avistadas do outro lado, como Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte!
É tudo muito lindo e não há prédios vizinhos que invadam a minha privacidade. Eu não preciso me fechar em cortinas!
Acordo, olho para os lados, para essa vista especial, e agradeço a Deus por me proporcionar essa fonte de energia que recarrega as minhas baterias para um novo dia!
Pena que em poucos anos a especulação imobiliária acabará com esse quadro que eu hoje pinto para vocês. A parte alta da cidade está começando a sofrer esse ataque, como já sofreu a parte baixa, na orla.
O contrassenso é que se eu não estivesse morando em um prédio, no décimo terceiro andar, não poderia desfrutar de toda essa beleza e nem contar para vocês essa história.
Respeito a opinião de quem não vê graça nisso, mas, por isso mesmo, cada qual no seu quadrado.