MENINO DEUS DA PAZ

Você já se preparou para a festa de aniversário mais importante do Universo Cristão? Já falou com seus filhos e amigos sobre o que aconteceu numa simples manjedoura, há mais de dois mil anos atrás?

Dedique um pouco de sua atenção à história que se segue!

No grotão onde nasci e onde vivi, até os 12 anos de idade, de sugestivo nome ÁGUA LIMPA, a vida sempre foi muito boa. Meu Pai lavrava a terra, nós o ajudávamos a capinar, a preparar a terra, plantar, limpar a plantação, colher milho, feijão, fava, abóbora, cuidar das galinhas e ajudar minha mãe na horta à beira do rio que deu o nome ao lugar. De madrugada, eu e minha irmã íamos à cidade, a pé, a uma légua de distância, para estudar e voltávamos ao final das aulas quando almoçávamos e íamos para a roça trabalhar. Sobrava tempo para tomar banho no rio, todos os dias, pescar piabas e bagres, bodocar(caçar passarinhos com bodoque) armar laços e arapucas para pegar codornas, lambús, saracuras, enfim, uma vida alegre e feliz.

Meu Pai era um homem digno e trabalhador, temente a Deus e respeitador da natureza. A propósito, recordo-me, muito bem, que ele saía a caçar veado ou tatu para nosso sustento. Caçar, não, ia “buscar” e trazia uma caça que era consumida até o final e, só então, ele ia buscar outra. Na roça, só andava com uma espingarda ao ombro e um facão na cintura: nunca o vi tirar a arma para dar um tiro sequer num veado, tatu, perdiz ou outro animal qualquer que, costumeiramente, cruzava nossos caminhos. Só o fazia quando a carne acabava na despensa. Aprendi com ele, além do muito que me deu de exemplo de dignidade e hombridade, o respeito e o carinho pela natureza, obra de Deus. Tocava viola, muito bem, era folião e tinha muita admiração por Zé Coco do Riachão. Minha mãe, uma companheira fiel, e uma guerreira carinhosa a cuidar dele e de nós, com o coração nas mãos. À noite, era costume ficarmos cochilando ao pé do forno onde ela torrava a farinha e, ao final, assava na pedra umas broas que parecia ser a coisa mais gostosa do mundo. Durante o dia, cuidava da comida e, quando tínhamos “camaradas” na capina da roça, eu a acompanhava a levar a gamela cheia de comida gostosa,na qual todos os trabalhadores comiam juntos, numa velocidade estonteante. Era contagiante ouvir o grupo cantando um canto que até hoje não sei direito o que dizia, enquanto as enxadas afiadas cortavam o mato para possibilitar à plantação desenvolver-se e produzir frutos.

Era uma vida abençoada, mesmo!

Deram-me o nome do Profeta João Batista e, hoje, atuando na Pastoral do Batismo, veio-me a curiosidade do porquê da escolha do nome. Infelizmente, meu Pai já está na folia do céu, não está mais aqui e minha Mãe padece do mal de Alzheimer e não tem, praticamente, condições de me dizer. Preciso tentar aproveitar algum pequeno lampejo de lucidez dela para tentar descobrir qual o motivo de tamanha graça, embora já tenha consciência da missão.

Mas voltemos ao grotão onde nasci. Estamos no início do mês de Dezembro. Tudo se transformava. Minha mãe pintava de preto alguns papéis de embrulho ou jornais, usando goma de mandioca e pó de café, moldando pedras, com as quais montava uma lapinha, cada ano mais bonita. Meu Pai ia comigo a uma gruta numa fazenda vizinha, buscar alguns estalactites ou estalagmites os quais, colocados no interior da gruta, à luz das velas, cintilavam como estrelas no céu a piscar, de forma similar àquela que guiou os Reis Magos até a manjedoura. Sobre uma camada de areia alva como leite, minha mãe colocava as imagens de Nossa Senhora e São José, o menino Jesus no berço, os três reis magos, alguns pastores com um cordeirinho ao pescoço, anjos dependurados e uma estrela na parte superior da entrada da gruta. Ah, quase me esqueci da vaquinha e do carneirinho que eram postados ao lado do berço do menino Jesus!

Não faltava nada na corte do MENINO-DEUS DA PAZ!

Quanto carinho do coração era despejado ali na confecção da lapinha e na adoração ao Menino-Deus! Com certeza, tal carinho e devoção tocaram o coração de Deus! Todas as noites, até o dia 06 de Janeiro, dia de Reis, ali ajoelhávamos, rezávamos o terço e ao final cantávamos: “Eia, meninos a porfia, cantar um hino de louvor, hino de paz e de alegria, que os anjos cantam ao Senhor Gló,óóóóóóóóóóóóóóória in excelsis Deo! “

Numa das madrugadas, chegavam os foliões, em respeitoso silêncio, para saudarem o Deus-menino. Que linda homenagem de homens tão simples, mas, tão sensíveis e puros de coração! Enquanto cantavam, nós as crianças, aproveitávamos para atacar os biscoitos que minha mãe escondia num lugar alto, “para servir as visitas e os foliões!” Em outro dia, vinham as pastorinhas fazer uma alegre saudação ao menino-Deus, com suas danças e cantorias. E nós, de novo, no ataque ao saco de biscoitos! Depois do dia 06 de janeiro, dia de Reis, era desmontado o presépio. E seguia a vida, abençoada por Deus, até ao próximo Natal. Alí reinava a verdadeira PAZ, e da lapinha de Belém, com tanta simplicidade montada e venerada jorraram rios de graças na vida daquela gente simples e crente.

Por que, apesar de o mundo, às vezes, não se dar conta ou não ligar, O MENINO-DEUS DA PAZ nasce e nos faz renascer em cada Natal.

Com ou sem Papai Noel!

A propósito: Não se falou em presentes! Mas, para quê, se ELE se fez PRESENTE?

É muita graça de Deus ter vivido tudo isto!

Glória a Deus nas alturas e Paz na terra aos homens de boa vontade!