A AFLIÇÃO DOS ALAGADOS
A AFLIÇÃO DOS ALAGADOS
Muitas histórias intrigantes do imaginário popular têm como cenário antigas insntalações de fábricas desativadas, ou ainda relacionam-se à época de seu pleno funcionamento, quando em operação. Esta consttitui-se numa delas:
Contam os mais antigos que na primeira metade do século passado, quando das enchentes que devastavam as margens do Rio Mearim, grande contingente de famílias da cidade de Ipixuna, buscavam abrigo nos galpões, sedidos pela direção da extinta empresa agroindustrial Chames Aboud.
E numa dessas épocas invernosas, pelo início do ano, o rio encontrava-se densamente empanzinado, com águas pelos borbotões. Pra velha fábrica acorreram diversas famílias de alagados em busca de um porto seguro.
Constituiam-se na maioria de pessoas carentes, de baixo poder aquisitivo, que encontravam nos velhos e abandonados galpões, o arrimo para as necessidades vividas na época de cheia.
Em uma daquelas noites invernosas de intenso frio, em que o silencio campeava a madrugada e todos já recolhidos, pousavam em suas dormidas espalhadas pelos amplos salões, quando de repente, sem qualquer sentido, ouviram-se sinos repicarem nas instalações, sob os acordes de um canto gregoriano, sem se saber ao certo o exato local de onde partira as badaladas, que eram melancólicas, porém nítidas. Deu-se um tremendo alvoroço no local. Um grupo de pessoas atônitas deixou suas acomodações na ala norte rumando para a ala sul dos prédios. No mesmo interim, em sentido contrário outra leva se deslocou em disparada fugindo do barulho fantasmagórico. De forma que, os de lá se defrontara com os de cá, perplexos, buscando refúgio, antes mesmo da explicação para aquele ato sinistro, vez que, ali não existia capela e a igreja local ficava a uma distância considerável do lugar onde se encontravam. Eram inúmeras as buscas de explicações para o ocorrido, sem que as encontrassem.
O assombro foi generalizado. Crianças assustadas, em pranto, buscavam amparo no colo materno. Muitas pessoas deixaram o local às pressas, tateando na escuridão num rumo incerto pela cidade a procura de um novo abrigo. Outros ficaram estáticos, sem saber que atitude tomar, enquanto os mais devotos buscaram amparo através de orações para desterrar qualquer mal presságio que por ventura pairasse. Teve quem desceu em disparada rumo ao rio, deparando com um pescador em sua canoa, que o imaginou tratar-se de um fugitivo da cadeia em busca de refúgio. Teve que se explicar bem para poder ser amparado pelo velho e desconfiado canoeiro.
No dia seguinte o local estava o mais ermo possível. Ninguém ousou mais ocupar aquelas acomodações na dita temporada. O prefeito teve que buscar outras alternativas para acomodar aquela legião desabrigados, como sendo: escolas públicas, igreja e casa de parentes.
Ao longo do tempo, muito se ouviu falar na velha Ipixuna, em aparições e ruidos estranhos pras bandas do antigo parque fabril do Aboud. Falava-se na alma de um certo padre que muito colocava medo nos incautos da cidade que passavam nas imediações da antiga fábrica, em alta madrugada. Houve declarações de antigos operários que davam conta de estranhos reboliços e malinagem nos equipamentos e máquinas, por seres invisíveis, em dias de feriados, quando os maquinários encontravam-se totalmente paralizados.
É possível que a crendice e o imaginário popular tenham dado vazão para muitas historias escabrosas sem confirmação da veracidade dos fatos. Contudo, através de pesquisas históricas, chegou-se a confirmar a existência de um vigário que no inicio do século passado, teria morado e falecido num extinto sitio, local em que anos após, fôra construída a velha fabrica.
Registros históricos dão conta que, deprimido e acossado por uma rigorosa sindicância da cúria que buscava elucidar a má conduta atribuida ao religioso, -que feria os princípios cristãos e dogmas da Igreja Católica-, e este, sem alternativa aparente, recorrera ao ato extremo do suicídio, antes de responder pelas sérias acusações. Ocasião em que teria Jogado uma maldição sobre o lugar, com o intuito de vingar-se de pessoas desafetas que o teria denunciado à diocese na capital do Estado.
Josafá Bonfim – São Luis/MA, 24 de março de 2011 ‘