Elevando gabaritos
O governo federal vem cortando verbas sociais há anos. E nem por isto o país ficou mais rico. Só os dirigentes. O sucateamento da educação, da saúde, da tecnologia e da segurança está nos empobrecendo. Ouvimos que o INPS está sem saldo, mas o governo teve recursos para salvar bancos falidos através do PROER. Certamente milhares de casas populares deixaram de ser construídas. As forças armadas dispensam jovens de suas fileiras, que em função da falta de mercado de trabalho, tornam-se presas fáceis do mundo do crime.
Em novembro de 2002 a Prefeitura do Rio anunciou que reservou uma cota de R$ 200 milhões para aplicar nas obras básicas da Vila Olímpica para atender aos jogos do Pan-2007! Mas não podia gerar alguns leitos (com R$ 1 milhão compraria dezenas) para enfermos que são atendidos sobre bancas de cimento nas salas depenadas dos hospitais sucateados. Os doentes que conseguem uma cama (mesmo enferrujada), precisam que seus parentes tragam ataduras, algodão e éter para tratar as feridas.
Como não é possível colocar uma placa na cabeceira de cada cama com o nome do Prefeito, melhor patrocinar a vila olímpica para eternizar seu nome numa placa de bronze na entrada da vila que se transformará em cartão postal.
Mas o mistério deste "empenho" pelas olimpíadas está explicado. A área da sede olímpica tem gabarito máximo de dois andares. E isto desperta a fome dos empreiteiros em erguer espigões de alto preço na região. Então, para despistar, lutam pelo evento e sugerem acrescentar uma emenda na lei das construções para permitir que a tal "vila olímpica" possa ser montada com 8 andares em cada ala. Após a festa, não terão dificuldades em ampliar a permissão para congestionar o bairro com edificações sem estrutura adequada de esgotos. Certamente não construirão delegacias, hospitais, corpo de bombeiros para atender à demanda explosiva sem controle. Se aplicassem esta visão de "planejamento" em prol das ações sociais, quase não teríamos favelas cercando a cidade.