MANIFESTO VIRTUAL

- A escrita não é palavra; mas palavra é verbo -

Só a internet nos une. Editorialmente, literariamente e socialmente, somos filhos do silício: nosso progenitor. “Para o Criador das Criaturas; somos criaturas imperfeitas que consumem na tela do cristal liquido o vício da palavra”.

- Consumir ou não consumir... já não é a questão. É o cartão. -

Somos a favor do consumo. E do consumo, o sumo consumido em gotas virtuais digitalizadas no ventre do mundano provedor.

Em tempos da internet; a mídia comercial globalizou a sociedade de consumo e levou a virtu intelectual às masmorras da inadimplência. “Mal crômico que se remedia com o desconto automático na folha de pagamento”.

- Corel draw or not Corel draw. -

Já não temos face. E se temos; temos o rosto de quem bem desejamos. No ostracismo do espelho-desengano, lapidamos rugas com o Pitangui virtual e nos libertamos das traças dos anos no afã de perpetuar nossos sonhos na imortalidade virtual.

- Digito, logo publico. Eis a solução. -

A livrografia é sonho dos tolos. Estamos fartos das catracas editoriais; das catracas do teorismo oficial, das catracas das Academias de faz de conta; e de todas as catracas do universo chamado real.

- O Poeta fingidor e a poesia mentirosa. -

A poesia não padece de movimentos literários. Per si, é síntese de movimento. Questionável, mas inestancável por não se subjugar à doutrina da rima, da métrica, do verso.

A poesia é libertária e, escolhe seu representante. Escolhe a esmo, sem lhe oferecer, jamais, poderes incondicionais sobre o poema e quase sempre lhe negando a precisão do verso.

Só os Poetas imodestos articulam Movimentos Literários. Não desejo ser escravo da poesia; só os quadris da musa me alucina.

Musas são prostitutas virginais. Quando amantes; infiéis. Quando verbais; angelicais “Amélia” perfeitas que desejamos terem nascido imperfeitas, com incontáveis curvas fogosas, fendas com profundidade sob medida e perigosas, um oásis onde possamos naufragar nossa louca paixão.

Poetas são baratas urbanas. Quando uma se esmaga com os pés, logo outra surge, e outra, e outra mais. São tão assombrosamente iguais, que, poderíamos afirmar que cada uma delas é a reencarnação da falecida.

O mundo não carece de baratas; carece de chinelo. Um chinelo descomunal, de tão incomum. Capaz de agasalhar dedos em riste para lembrar ao leitor que, quando em gesto lascivo, o dedo é a síntese da poesia.

Antonio Virgilio Andrade
Enviado por Antonio Virgilio Andrade em 03/08/2005
Reeditado em 09/08/2005
Código do texto: T39993