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OBJETIVOS DA ANÁLISE SEMIÓTICA DE MARKETING: DA ETIMOLOGIA À MARCA.

José Diogo Tavares Pedrosa

Hugo Baima Cardoso

Rafael Patrício Cavalcante Carvalho

Resumo

Este artigo pretende analisar o processo de construção da polissemia de signos no marketing e na gestão de marcas, de modo a conhecer o empírico da semiótica. Para objetivo proposto, buscou-se uma sistemática revisão bibliográfica que permitisse a epistemologia do contexto em que as marcas são ativos tão importantes para a organização, iniciado da evolução de pensamento em marketing chegando à implementação de estratégias. Propõem abordar o deslocamento da práxis do marketing subordinado à produção (o industrial) e, para a práxis do marketing à esfera cultural. O mecanismo metodológico de persuasão, poder e sedução para a aquisição de bens e serviços por um modelo que mercantiliza o acesso a “estilos de vidas” por meio da cultura e mídia. Em um mundo permeado de símbolos, a semiótica emerge como a teoria capaz de proporcionar um método de análise vigoroso, que põem em evidencia a potencialidade comunicativa dos signos nas diversas mídias. Trata-se de uma metodologia eficaz e pragmática. Apresenta múltiplas análises propostas como possibilidades para uma visão e investigação mais incisiva sobre signos e seus sentidos.

Palavras chave: marketing, persuasão, signos, mídias.

Abstract

This article aims to analyze the process of construction of the polysemy of signs in marketing and brand management, in order to know the empirical semiotics. For proposed objective sought a systematic literature review that allowed the epistemology of the context in which brands are important assets to the organization, initiated the evolution of thought in the coming implementation of marketing strategies. We propose to address the displacement of praxis marketing subordinated to production (industrial) and the practice of marketing to the cultural sphere. The methodological mechanism of persuasion, seduction and power for the acquisition of goods and services by a model that commercializes access to "lifestyles" through culture and media. In a world permeated with symbols, semiotics emerges as the theory can provide a powerful method of analysis, which put in evidence the potential communicative signs in various media. It is an effective methodology and pragmatic. Presents multiple analyzes proposed as a possibility for a more incisive vision and research on signs and their meanings.

Keywords: marketing, persuasion, signs, media

INTRODUÇÃO

O esqueleto evolutivo do Marketing como ciência transgride a técnica convencional na formação de axiomas multidisciplinares. Nesse contexto, uma das ciências que colabora na subversão funcional do Marketing como simples ferramenta mercantil é a Semiótica. Uma nova arquitetura conceitual se constrói a partir do entendimento do consumidor como um ser pensante. Para o marketing, a comunicação é uma atividade atinente à promoção dos produtos e/ou serviços. Ainda que a comunicação envolva também tais elementos como relações públicas, telemarketing, vendas diretas entre outros, o que se observa é a primazia do gerenciamento da informação que, a partir do final do século XX, com o incremento de todo o processo tecnológico comunicacional (multimídia, internet, videoconferência, etc.) passou a ser o fator determinante na construção do “marketing das marcas”. Com este mecanismo a administração mercadológica praticada pelas organizações desloca-se dos princípios econômicos para uma estrutura de construção de identidade por meio do gerenciamento dos valores culturais e sociais.

Para discutir o mecanismo de funcionamento de marketing em semiótica, recorreremos a uma visão de entendimento na utilização desse contexto de pesquisa de mercado. Serão apresentados questionamentos de conceitos como: necessidades nos dias de hoje, a importância do mercadólogo entender o processo de significação das marcas na mente dos consumidores, a discussão do papel do pesquisador diante da ressignificação de valores, pressupostos e pioneiros do marketing como a semiótica de Pierce e seu roteiro de estudo. Serão avaliados e abordados vídeo publicitário de marca, imagem de campanha preventiva, análise de produto e site no âmbito social.

SEMIÓTICA: UMA GAMA DE CONCEITOS EM UM EMBRIÃO ETIMOLÓGICO

A semiótica provém da raiz grega “semeion”, que denota signo. Assim, desta mesma fonte, temos “semeiotiké”, a arte dos sinais’. Trata-se de uma palavra polissêmica, como já foi afirmado anteriormente; e as várias correntes teóricas dentro da semiótica a definem de acordo com sua visão respectiva específica. Algumas dessas conceituações podem ser complexas, como um conjunto de meios que tornam possível o conhecimento de uma grandeza e manifesta-se em qualquer que se propõe conhecer, tal qual aparece durante e depois de sua descrição. Porém, podem também se iniciar por definições sucintas, como ciência geral de todos os sistemas de signos estabelecendo comunicação entre indivíduos.

Esta esfera do conhecimento existe há um longo tempo, e revela as formas como o homem dá significado a tudo que o cerca. Portanto, ela é uma ciência técnica funcional que estuda acontecimentos culturais como se fosse sistema de significação ou fenômenos produtores de significado. Em sendo assim, pode-se escrever um livro para estudar em detalhes a totalidade das definições propostas acerca de semiologia e/ou semiótica, no entanto, ela destaca três possibilidades: considera-se sinônimos, sendo apenas diferenciadas pelo fato de semiologia ser um termo mais utilizado na Europa e, semiótica, nos Estados Unidos. A segunda possibilidade consiste em se reservar a palavra semiologia para a tradição "saussureana" (teorias dos seguidores do filósofo Saussure), e, semiótica, para a tradição "pierceana" (teorias dos seguidores de Charles Sanders Pierce). O objetivo não é apenas diferenciar seus “pais fundadores”, mas distinguir seus modelos teóricos e corpus de referência: estruturalismo no caso da semiologia, e pragmatismo, no da semiótica.

A origem da semiótica remonta à Grécia Antiga, assim sendo ela é contemporânea do nascimento da filosofia. Porém, mais recentemente é que se expressaram os mestres conhecidos como “pais” desta disciplina. Em princípios do século XX, vieram à luz as pesquisas de Ferdinand de Saussure e C. S. Pierce, daí então que este campo do saber ganha sua independência e se torna uma ciência. A Semiótica de Pierce não é considerada um ramo do conhecimento aplicado, mas sim um saber abstrato e formal, generalizado. Segundo este autor, as pessoas exprimem o contexto à sua volta através de uma tríade, qual seja: Primeiridade, Segundidade e Terceiridade, alicerces de sua teoria. Levando em conta tudo que se oferece ao nosso conhecimento, exigindo de nós a constatação de sua existência, e tentando distinguir o pensamento do ato de pensar racional, ele chegou à conclusão de que toda experiência é percebida pela consciência aos poucos, em três etapas. São elas: qualidade, relação posteriormente trocada por Reação e representação, trocada a seguir por Mediação.

Pierce preferiu, porém, por critérios científicos, usar os termos acima citados, Primeiridade, Segundidade e Terceiridade. A primeira qualidade percebida pela consciência é uma sensação não visível, tênue. É tudo que imprime graça e um colorido delicado ao nosso consciente, aquilo que é presente, imediato, o entendimento superficial de algo. O segundo atributo é a percepção dos eventos exteriores, da matéria, da realidade concreta, na qual estamos constantemente em interação. É a compreensão mais profunda dos significados. A terceiridade refere-se ao estrato inteligível da experiência, aos significados dos signos, à esfera da representação e da simbolização.

Pierce também identifica três tipos de signos: o ícone, elo afetivo entre o signo e o objeto em si, como a pintura, a fotografia, etc.; o índice, a representação ou uma vivência pessoal obtida ao longo da vida, o que leva imediatamente à compreensão de um sinal, o qual se associa a esta experiência ou conhecimento ancestral – exemplo: onde há fumaça (indício causal), há fogo (conclusão a partir do sinal visualizado); e o símbolo, associação arbitrária entre o signo e o objeto representado. Em suma, o ícone é uma analogia com o objeto representado, uma similaridade; o índice tem relação direta com o objeto, relação causa e efeito; o símbolo é associação das ideias, a interpretação do objeto. Um bom exemplo envolvendo-os são as placas anexadas nos banheiros masculinos e femininos. Vão ser ícones porque representam a dicotomia dos sexos através do desenho, são índices, pois indicam que aquele local é um banheiro, e são símbolos porque houve uma convenção que representassem cada sexo.

Outro autor importante, Ferdinad de Saussure, é conhecido como pai da Semiose. Para ele, a mera realidade sígnica justifica a existência de um ramo do conhecimento que estude os signos na sua relação com o contexto social. Diferentemente de Pierce, ele não confunde o universo da simbolização e o da vida real. Segundo Saussure, os signos, inerentes ao mundo da representação, são constituídos por um significante, sua parte material, e pelo significado, sua esfera conceitual, mental. Também nas colocações de Saussure percebe-se analogicamente, ao se começar um jogo de xadrez se têm a primeiridade no posicionamento das peças no tabuleiro, em um segundo momento (no desenrolar das jogadas, no pensamento das conseqüências de cada movimento das peças, não que se possa prever com exatidão qual será a articulação feita pelo opositor) se vê o secundismo, por fim, é chegada a hora do fechamento do ciclo com um xeque-mate ou mesmo com um empate entre os jogadores. Então, não é assim nos diálogos travados entre falantes? Primeiro se propõe um determinado assunto (primeirismo), o mesmo sendo aceito, vai-se então para o desenvolvimento dos argumentos (secundismo) - em um verdadeiro jogo de palavras, frases, orações e conceitos - as melhores explanações fecham a semiose em um ato de persuasão da parte contrária (terceirismo). Contudo, pela lógica da semiose de Pierce, na lingüística estrutural de Saussure, quando há a proposição de um novo debate, sobre o mesmo assunto, abre-se a possibilidade de um novo fechamento, da parte antes vencida ser a vencedora, basta que saiba ter habilidade no momento do secundismo.

SEMIÓTICA NA VISÃO DO MARKETING E VICE-VERSA

A análise semiótica em marketing e publicidade é uma forma de investigação de problemas específicos da realidade (problemas da ordem comunicacional: sites, campanhas, imagens de políticos etc), que tenta lidar com as variadas relações desenvolvidas entre os fenômenos investigados e o impacto que causam ou sofrem ao entrar no mercado. Além disso, também, presta-se a entender as ondulações provocadas no público-alvo pela introdução ou possível introdução de novos produtos no mercado, ou pelo impacto possível de campanhas publicitárias, promocionais e/ou institucionais preparadas.

A tendência da análise semiótica é se projetar em rede (porque observa o cenário desde a perspectiva de um referencial ou guia, passando pela da representação até chegar na interpretação), buscando não apenas mapear as interfaces do fenômeno investigado, mas também analisá-las. Compreendendo as cadeias de significações criadas. O que chamamos por cadeias de interpretações são os significados gerados pelos fenômenos de marketing (produto, serviço, marca, identidade visual), que ao tomarem contato com o mercado, com o público-alvo, ou mesmo com alguma forma de veiculação publicitária são capazes de produzirem sensações, ações e reflexões.

A análise semiótica investiga esses apelos (emocionais, energéticos e racionais) e o efeito deles, como interpretações as quais o mercado em geral pode chegar, ou deve chegar. Controlar tais efeitos é essencial para o bom aproveitamento das ações de marketing, independentemente de como ela se apresenta: publicitária, promocional, institucional, de incentivo ou identidade visual. Sendo assim, o objetivo específico da análise semiótica em marketing é descobrir, ou melhor, investigar as cadeias de interpretações possíveis para os seguintes tópicos:

1. Produtos e Serviços em geral (lançamentos, sustentações, relançamentos, posicionamento, reposicionamento);

2. Marcas (identidade, posicionamento, reposicionamento, aplicações, imagem de marca);

3. Identidade visual (programações visuais, layouts organizacionais, sites, imagens de políticos, imagens de personalidades).

A possibilidade de compreensão mais aprofundada, proporcionada pela análise semiótica, dos fenômenos de marketing funciona em sinergia com outras ferramentas como: pesquisa de mercado (qualitativa e quantitativa); planejamentos; criação publicitária; programações visuais; design de embalagens etc. Portanto, a análise semiótica em marketing e comunicação não é uma ferramenta isolada, mas sim um instrumento a mais de decisão para as estratégias a serem desenvolvidas. Inserida nestes momentos, a análise semiótica, fornece dados coerentes e relações argumentativas, que embasam o desenvolvimento dos projetos de marketing, reforçando seus direcionamentos, ou ajudando na construção de novas estratégias. Exemplificando, quando se faz análise semiótica de um produto ou serviço a fim de que fossem determinados os principais posicionamentos das marcas. Por meio dessa análise foi possível entender as relações de cada marca baseando-nos em sua comunicação dando subsídios para novas tomadas de decisões.

Assim, a análise semiótica em marketing e comunicação configura-se como uma ferramenta diferenciada, sustentada por uma rede conceitual séria e científica, e que está apta a oferecer novas visões e informações mais aprofundadas a respeito dos mais diferentes objetos.

MARKETING, CULTURA E SEMIÓTICA: UM CAMPO DE RELAÇÕES.

Nesse contexto cultural, analisa-se a mídia como instrumento de poder e persuasão em suas manifestações concretas, cotidianas, atraentes, dinâmicas e fugazes. Só ela tem o poder de influenciar o consumidor, por isso se tenta buscar agregar valores positivos sobre os produtos com o intuito de manipular o enunciatário a consumir o produto. A semiótica junto à mídia vai lidar com os conceitos, as ideias e estuda como estes mecanismos de significação se processam natural e culturalmente.

Em tese, nunca o signo é igual à coisa à qual se refere, pois se fosse, não seria signo, seria a própria coisa. Ao vermos uma coisa, nunca conseguiremos exteriorizar tudo sobre essa coisa, sempre será “versão de cada um sobre a realidade daquela coisa”. Hoje, mais do que nunca, não vence quem conta a verdade, vence quem conta a melhor história para o consumidor. Essa é uma lição que o mercadólogo tem que aprender. A ideia também do produto que se vende não é uniforme.

Grandes célebres da semiótica consideravam que os conceitos, ideias e termos tinham caráter meramente abstrato, sendo convencionados apenas para a compreensão do objeto - para eles as nossas sensações do mundo são “ideias impressas nos sentidos” e não existem a não ser na mente de quem as percebe. Esse conceito remete para o entendimento de qualidade usado pelo Marketing: dois produtos, derivados da mesma matéria-prima e da mesma técnica de fabricação são percebidos pelos consumidores de forma diferente em função da marca que estampam. Estratégias de Marketing não devem focar na venda de produtos, e sim na personalidade representada pela marca.

Mas Pierce foi mais longe ao concluir que “o fato de que toda a ideia é um signo junto ao fato de que a vida é uma série de ideias prova que o homem é um signo”. Essa teoria é fundamental ao Marketing, pois assim como as coisas são representações mentais que se formam dentro de cada indivíduo, o consumidor também faz parte dessa representação. Um mercadólogo inteligente não trata o consumidor pelo que ele é, trata-o pelo que ele gostaria de ser. Esse consumidor deseja ser seduzido por uma boa história. Ele quer acreditar que dirigir uma Ferrari o fará mais veloz, usar um Rolex lhe dará melhor uso do tempo, vestir Giorgi Armani ficará mais confortável, calçar tênis Nike o transformará num atleta, perfumar-se com Channel nº.5 o tornará mais atraente, morar na cobertura no Leblon ganhará mais segurança, comprar nas lojas Daslu terá mais qualidade e morder a maçã da Apple lhe dar a sensação de usufruto do prazer que uma tecnologia traz. O importante para o mercadólogo no estudo da Semiótica é entender o processo de significação das marcas na mente dos consumidores.

Cabe ao semioticista, portanto, mostrar que, além das figuras análogas ao mundo natural, como corpos, animais, plantas, coisas legíveis por qualquer leigo, existem: linhas, formas, cores, contrastes, harmonias, sutilezas, nebulosidades, entre outros elementos e procedimentos semióticos, próprios da linguagem visual, uma espécie de morfemas e sintaxes que podem persuadir o enunciatário potencial, sem que ele perceba; ou um processo de persuasão sem contrato de veridicção. Ou seja, existem modos de comunicar menos explícitos, que demandam um saber específico, além daquelas construções visuais icônicas, figurativas, as que também persuadem por meio de contratos de veridicção. E mesmo as figuras "decodificáveis", aparentemente, por qualquer um podem emitir efeitos de sentidos os mais diversos, inclusive contrários aos aparentes, dependendo da sua construção formal.

Para concluir esta pauta, a título de exemplo, vamos tomar uma imagem de um cartaz de uma campanha preventiva contra o tabagismo, tendo como referência alguns conceitos semióticos.

A imagem da campanha do Dia do Combate ao Fumo, já de início, propõe um contrato de veridicção: um simulacro de corpo humano. Não tem rosto, nem pelos, marcas, sequer o sexo pode ser definido com certeza, mas sabe-se que é um corpo humano. Temos um plano irregular, em cores (ou não-cores) que variam do cinza escura ao branco, este causado por uma determinada luminosidade, extremamente artificial, a qual mostra essas irregularidades, que aludem à musculatura de um corpo humano, com destaque para um ponto inferior que passa o efeito de sentido de umbigo.

O fundo também é cinza e pouco se destaca, mas não deixa de delimitar as formas humanas, pois os cinzentos do corpo e do fundo diferem entre si pelas tonalidades, ora mais claras, ora mais escuras. Se há um contrato de veridicção para o que estamos chamando de corpo humano, contrato ainda mais necessário é o que pede a imagem em relação às formas sobre o corpo - e não dentro dele, ambiguidade óbvia entre os pulmões e a simulação de árvores, colocadas lateralmente sobre o corpo, em posição espelhada, ambas do mesmo verde.

O conteúdo verbal do texto visual, "fumar não faz parte da sua natureza" relaciona pulmão/natureza (natureza humana do enunciatário: isotopia temática); árvore/natureza (conceito comum de natureza: isotopia temática); pulmão/árvore (ambos natureza: isotopia temática; similaridade visual entre pulmão e árvore: isotopia figurativa). Como pode ser observado, há uma tessitura bem encadeada, onde os conceitos verbais e visuais se complementam ou reiteram desde que se considere o contrato de veridicção, de que aquelas formas verdes são árvores e pulmões ao mesmo tempo; e que aquelas formas sob as verdes árvores pulmonares presentificam uma pessoa, portadora de pulmões, portanto, e, consequentemente, parte da natureza.

Observemos ainda o processo de persuasão estabelecido por essas relações visuais e verbais, construídas a partir de figuras do mundo natural (árvore, pulmão, corpo humano) e dos respectivos conceitos, diretamente ligados ao plano de expressão (corpo humano, árvores, natureza, pulmões), que, neste caso, coincidentemente, consistem em figuras análogas às do mundo natural, portanto passíveis de leitura pelo senso comum.

MARCA: CONSTRUÇÃO SEMIÓTCA DA REDE MIRANTE, O LUCRO CAMUFLADO PELA DIFUSÃO DA NOTÍCIA.

Os Instrumentos que passam a perpetrar na mente dos consumidores devem acordar com o estilo de vida de cada um, pois é ele o responsável em motivar o acesso à cultura por meio da aquisição deste ou daquele produto. Antes de mais nada, a arquitetura Semi[ótica do Marketing, necessita de uma atinente comunicação que permita uma administração de marcado lúcida, geradora de uma identidade social e cultura.

A semiótica do Marketing utiliza-se da Semiótica do discurso para sustentar uma mensagem subliminar persuasiva. O jornalismo justamente, por fazer uso desse instrumento, é que escolhemos a empresa local de comunicação em massa, a Rede Mirante para salientar essa premissa. A partir de então, teremos maior suporte de indicarmos quais ideologias e modelos de funcionamento do Marketing pós-moderno e seus reflexos sobre as esferas culturais, econômicas, sociais e, nesse caso, midiáticos.

Floch 1993, estudioso em Marketing, recorre a análise semiótica dos valores de consumo. O autor aponta quatro fases para a construção das marcas, agora alocadas aos editoriais da Mirante, são elas: prática, utópica, crítica e lúdica. Todos esses elementos em sintonia contribuem para a criação dos sentidos de sedução, persuasão de um consumidor (vemos agora o consumidor como o alvo de um jornal, aquele que assimila e consome as informações que recebe), para manutenir uma sociedade cultural. Esse repertório cultural é orientado pelas ideologias sociais, observadas e reproduzidas sob um eixo imparcial, mascarado ou não, de um jornal ou de qualquer outro manifesto impresso. Os jornais não são estáticos, não esperam por um ser leitor, sendo perpetuada a subjetividade de quem constitui o tripé editorial que é formado por: um editor, um revisor e um reprodutor que trabalham em sinergia para atender o público-alvo. Portanto, o comportamento deste último deve ser previsível.

Analogicamente, vemos o Sistema Mirante semelhante a uma orquestra, onde um maestro é quem produz as notícias, as palhetas são os veículos que ela se apropria, a TV Mirante, a Rádio Mirante FM e AM, o portal iMirante.com, e nós somos os músicos que a emitimos sincronicamente para fazê-las parecer ter um caráter coletivo, construtivo e universal.Todos já observamos como a Rede Mirante se comporta nas transmissões de seus editoriais, bem como o layout, o discurso, a postura, o tom de voz, o clichês, os jargões, as fotos, os vídeos montados e seus efeitos se relacionam de forma intrínseca? Acreditamos que não. Mas, para explanar isto melhor, voltamos aos valores sugeridos por Floch:

 Valores práticos: eloqüência fluída de uma notícia intencionada a convencer, bem como chamar a atenção de forma racional;

 Valores críticos: estabelecimento de um referencial norteador de raciocínio capaz de insuflar um retorno conveniente de publicidade de uma notícia A ou B;

 Valores utópicos: utilização de uma linguagem imponente, que mesmo de forma indireta, traga ao público sentimentos como: moral, ética, justiça, cidadania, progresso, ou seja, algo que realmente atraia os consumidores;

 Valores lúdicos: devem criar no receptor uma aproximação total e denotativa dos fatos, ainda que não seja, pois o apelo é feito de forma sutil.

MAPEAMENTO SEMIÓTICO DE SEMPRIMI

Por essa matriz semiótica de Semprimi, é que conseguiremos verificar o processo de construção das marcas dos editoriais da Rede Mirante. Este escolha não foi arbitrária. Procuramos identificar um produto polêmico, quanto ao uso de técnicas de persuasão do consumidor. Dizemos “polêmico” por se tratar de um “produto” que a priori carrega toda uma expectativa de imparcialidade em seus conteúdos. Esse jornal, além de ser uma forma de disseminação de conhecimento e de entretenimento tem como propósito implícito, estimular a construção de uma sociedade mais ou menos esclarecida de acordo com a seleção de notícias.

As grandes influências de técnicas do marketing nos discursos editoriais da Rede Mirante são notáveis. Basta verificarmos os seus anúncios publicitários em outdoors, pôsteres, panfletos nas bancas, e também anúncios internos nos próprios estabelecimentos, a partir disso constata-se que o discurso editorial é chave do processo de sedução de persuasão de consumidores, inclusive colaboradores da Mirante.

As peças editoriais funcionam como uma espécie de embalagem contendo textos, fotos, cores, imagens, títulos criativos e impactantes que produzam sentidos nos imaginários dos receptores desses conteúdos.

As inserções utilizadas pelo Sistema Mirante por meio de rádio, televisão, serviços de telemarketing entre outras diversidades, também constituem importantes ações mercadológicas do Marketing editorial que junto à estratégias já apontadas nos parágrafos anteriores, formam um amplo universo de ações comunicacionais. A semiótica da Rede Mirante articula habilmente as frases feitas e as frases de impacto como. Vejamos abaixo uma pesquisa realizada “in loco” em rede social, e pessoalemente..

Dados da Pesquisa:

 10 pessoas (Homens, mulheres e idosos atuantes em diversas áreas profissionais, enfatizando a pesquisa feita com o sócio-proprietário do Jornal A’corda do município de Santa Inês/Ma).

Nota: Um meio facilitador de compreensão da pesquisa de campo faz com que a coleta de dados seja realizada com qualquer consumidor potencial de notícias da Rede Mirante sem nenhuma restrição. A pesquisa foi feita entre pessoas anônimas, internautas e amigos, daí podemos coletar os dados necessários para nossa pesquisa.

Pergunta central: Como você considera a forma que a Rede Mirante vende suas notícias?

R1) “A Mirante faz exatamente aquilo que todo meio de comunicação de massa faz, só exibe informações que lhe convém” (entrevistado “X”, estudante de ensino médio, 18 anos).

- Apesar de parecer um comentário um tanto genérico, mostra certo descrédito com os instrumentos de comunicação de massa. A ideia central é que a massa fica alheia àquilo que realmente é relevante saber.

R2) “O Sistema Mirante é muito seletivo no quesito venda de notícias, até porque tudo que passa por ali e é relacionado a uma notícia deve passar pelo “crivo” da família Sarney. Não sou muito ligada nas notícias que essa emissora mostra por conta disso (...) a mesma coisa acontece pela internet.” (entrevistada “Y”, vocalista de banda, 28 anos).

- Exponencialmente direto, o comentário se mostra com um tom alterado. De fato a família Sarney é proprietária da rede e é por conta disso que se torna desacreditada a veiculação de determinada notícia, podendo esta ser alterada/burlada.

R3) “Não tenho nada contra” (entrevistado “K”, cursando em bacharel em Direito, 20 anos)

- Talvez a semiologia alienativa seja mais forte que a óptica/sensitiva para o entrevistado.

R4) “É agradável, mais se é verdadeira é outra conversa. Normalmente é incompleta, superficial. Penso que seja parcial, pois edita os fatos. Esses fatos não são apresentados de forma completa, como faz o SBT. Creio que seja difícil uma empresa como a Mirante, apresentar os fatos de maneira profunda e imparcial, se o dono da mesma é também participante do Governo Estadual” (entrevistado “W”, concursado da Receita Federal, 36 anos)

- Outro entrevistado aponta o fato de que a empresa Mirante é propriedade da família Sarney, ou para muitos, oligarquia. Isso nos mostra de que além dos próprios recursos noticiosos utilizados pela rede já trazerem por si só, uma carga semiótica bastante intensa, é também relevante o histórico de seu proprietário, mostrando que assim o design do marketing trará conveniências ainda mais fortes. A resposta também estabelece um posicionamento paralelo com outra rede de comunicação mediando inclusive parâmetros plausíveis.

R5) “Como a família Sarney é a dona do Sistema Mirante, ela caba manipulando e selecionando a maioria das notícias que serão veiculadas. Mas mesmo assim, a Mirante é muito importante, pois ela que consegue, através do rádio e TV, chegar em vários pontos onde a tecnologia ainda não está disponível, levando as noticias de São Luís e do Maranhão para as populações que moram érea longínquas (povoados)” (entrevistado “J”, estudante de História de uma Universidade Federal do Estado, 26 anos).

- Apesar de mais uma ponderação sobre a família Sarney, o entrevistado se posiciona favorável a metodologia mediática da Mirante, pelo fato de ela alcançar em grande escola um potencial de consumidores menos favorecidos.

R6) “(...) Família Sarney (...). Porque tu acha que não deixaram Marcos Silva (candidato PSTU à Prefeitura de São Luís)? (entrevistado “T”, estudante de Engenharia Mecânica de uma Universidade Estadual, 19 anos).

- Foi importante o entrevistado salientar o caso das eleições em que o candidato citado não participou do debate promovido pela Rede Mirante. Mas não foi pela razão que o mesmo infere, mas sim foi que o partido do candidato não possui deliberação própria (eixo diretório) para orientar a sua participação.

R7) “Assisto o jornal esperando começar as novelas” (entrevistada “L”, estudante do Ensino Médio, 17 anos).

- (opinião pouco útil) As novelas também apresentam semiologia específica, mas não é a linha de nossa entrevista.

R8) “De forma denunciante, enfática, porém comedida a resguardar seus próprios interesses” (entrevistado “C”, estudante de Letras de uma universidade particular do Estado, 28 anos)

- O que é interessante é que o entrevistado se contradiz ao dizer que Rede Mirante denuncia e também resguarda seus interesses.

R9) “É perceptível no período eleitoral a presença fajuta da Mirante, pois ela usa seu poder midiático para boicotar a decisão pública” (entrevistado “M”, bacharel em Administração, 25 anos)

- Empresa totalmente desluzida pelo entrevistado. A autoridade promovida pelos donos da Rede acaba gerando um “terrorismo editorial”. O marketing suporta essa prática por apenas condizer com um vasto comércio jornalístico.

R10) “Lembra como foi classificado o cara que ficou com a filha e teve filhos com ela? Monstro ... Falo daquele velho que cortaram a cabeça dele na revolta de pinheiro? Foi ele quem a mídia chamou de "monstro"! Por que chamar de mostro um homem que seguiu a pratica de séculos a.c? Isso é apelar para o modernismo, vender mais e sem duvidas sensibilizar o povo! Quantas pessoas compram? Desgraça vende mais que noticia boa! Governo anuncia que vai fazer hospital! Governo prometeu e não cumpriu!

São duas noticias comuns e vedem pouco!Dois carros colidiram! Normal!

Dois carros colidiram e 3 crianças morem! Sensibiliza, vende” (entrevistado Alex Carlos, sócio-proprietário do Jornal Circular de Santa Inês/Ma e fronteiras, Jornal A’corda.

- Com uma fundamentação teórica bastante abrangente, exemplo bastante elucidadores, o entrevistado discorre a cerca das artimanhas que os jornais, O Sistema Mirante e outros mais, utilizam pra difundir uma notícia. Por último faz uma análise de quais notícias chamam as atenções de seus consumidores, a forma como elas são emitidas e quais os reflexos comerciais que carrega consigo, salientando o fato de que quando algo é relacionado ao Governo, o impacto procura parecer o mais mitigador possível, agora quando se relaciona a notícias convencionais, tudo parece mais real, fidedigno.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NÖTH, W. A semiótica no século XX. São Paulo: Annablume, 1999.

SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1989.

SANTAELLA, L. Semiótica Aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

FLOCH, J. M. Semiótica, marketing y comunicacion. Barcelona: Paidós, 1993.

SEMPRINI, A. El marketing de la marca. Barcelona: Paidós, 1995.

Diogo Pedrosa, Hugo Baima e Rafael Patrício
Enviado por Diogo Pedrosa em 15/11/2012
Código do texto: T3987627
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