Discurso do Método Cartesiano - Relação entre Fundamento e Princípio.

Para Descartes, a noção de verdade está diretamente relacionada ao método. O método é um meio confiável para se alcançar a verdade das coisas quando se estabelece uma relação entre princípio e fundamento capaz de formular juízos sólidos a partir de outros juízos anteriores e também sólidos. O objetivo de Descarte é dar ao conhecimento uma base na qual, enquanto sabedoria humana, seja aplicado em quaisquer circunstâncias de maneira irrestrita. Sendo assim, esse conhecimento proporciona uma fundamentação que permite sempre inferências irrefutáveis, possibilidade de dedução e criação de princípios com certeza autêntica, sem os quais não se atinge a premissa de que a ciência universal é um conhecimento certo e evidente.

Os princípios são utilizados como apoio em nossos raciocínios dedutivos. Logo, para se alcançar bons princípios, deve-se ter um bom fundamento. Mas como um bom fundamento, antes de tudo, está relacionado a alguns princípios, esses devem ser primeiros. Descarte descarta todos os princípios incertos e formula um princípio irrefutável: o pensamento. O pensamento antecede tudo, pois é causa e que proporciona a existência das coisas. Esse ponto de partida é simples, racional e indubitável.

Estabelecendo esse fundamento como base ou suporte aos demais conhecimentos, todos os princípios devem ser formulados a partir dele e todos os outros, que contém como base outro fundamento, devem ser colocados em dúvida ou prova. Assim, todos os princípios provenientes do método são verdadeiros, se encontra no âmbito exclusivamente da razão e os demais devem ser descartados. Os princípios primeiros tomados como base, para que se estabeleça tal fundamento, devem estar relacionados diretamente com o agente irrefutável pela razão: “...procurar reformular os meus próprios pensamentos e reconstruir sôbre um alicerce todo meu.” (Descartes, 23).

O método para se alcançar princípios verdadeiros a partir de fundamentos sólidos consiste em um processo de libertar-se das coisas insuficientes, incorretas e não sólidas. Tais métodos são utilizados pelos sábios: “A simples opinião de libertar-se de todas as opiniões já aceitas não é um exemplo que devam todos seguir.” (Descartes, 24). O sábio sabe diferenciar aquilo que pode ser levado em conta para se fundamentar, trata com o fundamento das coisas e formula os primeiros princípios, enquanto que os demais tratam somente dos princípios que lhes são repassados.

A lógica, que faz uso da razão, consiste em um meio de dedução das verdades e para adquirir a liberdade das coisas refutáveis: “... no que diz respeito à lógica, que os seus silogismos e a grande parte de suas outras instruções serviam antes para explicar aos outros as coisas sabidas” (Descartes, 26). A razão proveniente da lógica é um mecanismo capaz de averiguar conhecimento e, portanto, preceitos verdadeiros e bons.

Por último, tanto o fundamento, quanto o princípio deve ser útil e claro. A dúvida tem um papel fundamental para se chegar a uma primeira verdade ou primeiro princípio filosófico. Durante o processo, se deve duvidar, em primeiro lugar, de tal coisa posta em exame até que se chegue ao seu conhecimento evidente. Logo após, analisar e dividir cada dificuldade contida em todas as partes necessárias e possíveis. Por último, sintetizar de forma ordenada dos pensamentos a fim de caminhar para uma certeza de algo que não seja possível revisar novamente.

Somente com o método, através da dúvida e pautado pela razão, é possível haver relação entre o fundamento e o princípio de forma segura, garantindo resultado sólido. Com ele é possível demonstrar, assim como fazem os matemáticos. Nesse processo de demonstração, cada regra deve ser examinada para servir depois como premissa de outra. Por isso, esse processo deve-se iniciar pelas mais fáceis e simples premissas para se chegar as mais complexas e difíceis.

Para Descarte é preciso rejeitar todo conhecimento que não repousa em fundamentos ou princípios sólidos. O seu método proporciona uma relação necessária e suficiente entre os princípios e fundamentos a fim de se obter resultados sólidos e úteis ao homem, que o faça conduzir bem sua razão e alcançar a verdade das coisas. Na sua obra, do discurso do método, ele explica que o seu desígnio não é ensinar um método para que cada um conduza bem a sua razão, mas mostrar como ele se esforçou para conduzir a sua.

Bibliografia

DESCARTES, René. Discurso sobre o método / Descartes, Tradução Torrieri Guimarães, São Paulo, SP: Hemos, 1975.

Eduardo Chagas
Enviado por Eduardo Chagas em 09/11/2012
Código do texto: T3976346
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