A Relação entre Sócrates, o filósofo de Atenas e Luiz Gonzaga, o rei do Baião.
(Resumo do “Críton” de Platão - por Michel de Montaigne)
Estamos , reverenciando o nosso artista maior: Luiz Gonzaga. E o gosto pelo conhecimento , pelo saber é muito importante. A filosofia não está apenas na sala de aula . A filosofia está presente na nossa vida diária, nas nossas mentes e nos nossos corações; e é através desse cantador nordestino que vamos fazer uma ponte com a Grécia antiga; com o seu sábio maior: Sócrates. Uma relação entre o filósofo de Atenas e o rei do baião.
“Sócrates está condenado e apenas espera a hora de tomar a cicuta, porém no meio da noite Críton aparece e lhe oferece um plano de fuga, que lhe é ainda barato financeiramente. Mas Sócrates recusa e Críton teme por ser exatamente isso que seus inimigos desejam. Então, ambos discutem se se deve fugir ou não
Sócrates começa dizendo que não acha acertado que a todas as opiniões dos homens se deve acatar. Umas se deve, outras não. Neste caso, a que se deve seguir seria a de um homem entendedor do assunto, algum mestre e não a do povo. Assim, se deve ouvir a autoridade em matéria de justiça e injustiça neste momento, pois o caso é se é justo ou injusto a fuga de Sócrates.
O mais importante para o condenado é viver bem que ao próprio viver, pois isto é viver com honra e viver conforme a justiça, jamais proceder contra a justiça, nem mesmo retribuir a injustiça com a injustiça, como pensa a multidão, pois o procedimento injusto é sempre inadmissível. Sim, porque entre fazer mal a uma pessoa e cometer uma injustiça, não há diferença nenhuma. Ele se pergunta se uma convenção que se firmou com alguém, sendo justa, deve ser cumprida ou traída. Críton só pode concordar: cumprida. Então, Sócrates supõe um encontro dele com as Leis e a Cidade. Estas duas iriam achar absurdo que Sócrates queira destruir, com sua fuga, as leis de todos numa obra simples particular.
Por acaso ele poderia retrucar que a Cidade lhe agravou, que não lhe julgou conforme a justiça? Não poderia.
A Cidade assim continuaria perguntando qual a queixa de Sócrates para mover-se na sua destruição. Contudo, foi ela própria que uniu seus pais, fez seu nascimento, lhe educou. Na cidade todos são iguais e tem os mesmos direitos, todos ainda foram justos, até para Sócrates, mas, em face da pátria e das Leis, se se tenta destruir-lhe por assim achar justo, Sócrates, em particular, teria o direito de tentar, da sua parte também, dentro das suas forças, e destruir em desforra a elas, as Leis e a pátria? Claro que não.
Onde estaria a seriedade em suas palavras quando discorre do justo e da virtude então? O direito do cidadão é não recuar, não abandonar o posto ainda que a ordem lhe seja o pedido da vida. Antes o fizesse aos seus pais que à pátria, pois a esta se deve muito mais.
Mas mesmo que Sócrates não houvesse gostado de Atenas, muitas foram as oportunidades para ter se mudado, não havendo leis para o contrário. Porém, não viajou e ainda teve filhos em Atenas, sinal que lhe agrada. Declarava que preferia a morte ao exílio. No entanto, se foge, faz o que faria o mais vil dos escravos. Se se dirige a outra cidade que elogie suas leis, permanece em Atenas também por este mesmo motivo, então não será bem visto e tão pouco poderá exercer o que fazia em Atenas. Pois que cidade gostará de um estrangeiro destruidor de leis, mesmo as de Atenas? Qualquer assunto destoará de suas ações, sejam a virtude, as leis ou as divindades. Mas há de saber que às Leis do Hades não poderá fugir, se por acaso das terrenas fugir”.
E assim, Sócrates preferiu uma morte com honra a viver longe da sua Atenas. E o rei do baião , em uma situação evidentemente diferente, porém com a simplicidade e a coerência que a sabedoria pode nos trazer , canta: “ Longe do meu Pajeú não poderei viver”