FOI SEM QUERER QUERENDO

Já perceberam que o programa do Chaves, através das piadas infantis e cenas imaginavelmente ingênuas desenha uma incrível semelhança com a realidade, com o nosso cotidiano? Para melhor explicar o que estou dizendo, vou descrever uma cena que eu vi por acaso.

Nhonho, o filho do Sr. Barriga, chegou na vila muito feliz, pois tinha em mãos uma “bexiga” que acabara de comprar. Ao adentrar à vila ele se depara com a dona Clotilde, mais conhecida como a bruxa do 71, que empunhava uma tesoura. O garoto a avista e sem nenhuma precaução vai logo murmurando: “lá vem à bruxa”. Só que para o azar dele ela estava atenta e não gostou nada do fato dele ter lembrado seu apelido e então, indignada, ela lhe estoura o balão.

Então Kiko entra na cena, também com uma “bexiga”, daquelas que flutuam. Inicialmente ele é agradável com dona Clotilde, mas em seguida a chama de velha. Mais uma vez ela fica transtornada e também estoura seu balão.

Kiko evoca sua mãe desesperadamente, e antes que a dona Florinda chegasse, aparece o seu Madruga, assustado com tamanha gritaria. Num ato de repreensão ele retira a tesoura das mãos da dona Clotilde, e dá uma lição de moral naquela Sra. dizendo que ela não deveria jamais estourar os balões das crianças.

No entanto, antes de seu Madruga concluir seu discurso moral, adivinhe quem surge repentinamente? Exato: a dona Florinda. Ela chega à cena e percebe seu filho entristecido, pois sua “bexiga” estava em suas mãos, só que completamente vazia, e para o desespero do seu Madruga, lhe flagra com a tesoura nas mãos.

Sem nada perguntar, sem entender o que estava acontecendo no local e levada pelas emoções de ver seu filho naquele estado, dona Florinda da um safanão em seu madruga, como quem castiga. Kiko lhe dá mais um tapa e vai embora.

Depois de assistir a essa cena especificamente comecei a refletir e surgiram inúmeras perguntas:

Dona Florinda foi preconceituosa?

Seu ato foi tão imoral quanto o ato da dona Clotilde?

Faltou comunicação?

Logicamente, ninguém aqui está interessado em discutir os personagens, mas sim em discutir como somos cada um deles ao longo dos nossos dias e das nossas vidas. Como somos impacientes, inflexíveis, incompreensíveis, não sabemos relevar certas situações na esportiva exatamente como a dona Clotilde.

Como somos preconceituosos, covardes, impulsivos, como nos falta comunicação, como no caso da dona Florinda. O silêncio do seu madruga foi injusto com ele mesmo, sua passividade lhe tornou culpado de algo que ele não tinha feito. Percebem como nós temos um pouco de cada personagem?

Se aquele que ler esse artigo perceber o quanto as atitudes "dona Clotilde", "dona Florinda" e "seu Madruga" são prejudiciais a nós mesmos e a nossa vida social, e a partir disso refletir sobre seus atos, eu já me dou por satisfeito, e dou por concluído meu objetivo através desse texto.