AINDA JOÃO HÉLIO!...

Ainda João Hélio, sim! E que me perdoem, de saída, os que pensam que falar mais a respeito não leva a nada!

Pior, ainda e sempre, após esta tragédia sem precedentes no país, é o silêncio! Silêncio, num caso desses, é sinal de omissão. E eu, que não conheço pessoalmente a família, que nem mesmo estive próxima aos acontecimentos, sinto-me acossada, culpada, ante a chance de silenciar, quando disponho profissionalmente da ferramenta da escrita para - pelo menos isso! - fazer tanto estardalhaço quanto possível! Assim minha consciência não pesa. Assim, não vou dormir à noite dominada pela sensação de conivência, via omissão, com toda esta ordem absurda de coisas a que chegou a nossa sociedade!

Hei de usar - sim! - ao menos o recurso que me é cabível; o da escrita! Para combater, protestar, cobrar soluções, bradar escandalosamente contra uma realidade que não é a que todos nós merecemos, na nação onde viemos nascer! Não mesmo!

Não é, meus amigos; e todos nós, trabalhadores, cidadãos, cumpridores, em princípio, ao menos bem intencionados dos nossos deveres - sobretudo pais e mães zelosos do futuro e do bem estar dos nossos filhos - devemos cobrar! Porque já passou da hora! E exatamente por já ter passado da hora, chegamos ao ponto a que chegamos!

Hoje, no salão de cabeleireiros, enquanto aguardava o atendimento, lia a excelente reportagem da revista VEJA sobre o ocorrido: matéria crua, castiça, exata! Ponderava a questão sob a análise de seus pontos cruciais; mencionava, por exemplo, que jornalistas estranhos houve escandalizados pela exposição forçada dos rostos dos facínoras, durante a ação da polícia na sua captura...

Ora - coitados! Que coisa! E o direito à privacidade?! Afinal, não se pode mais arrastar em paz um menino de seis anos por quatro bairros e sete quilômetros, transformando-o em frangalhos - a matéria revela que, uma vez parado o veículo, restava apenas o corpo do garoto, sem a cabeça, sem os joelhos, e sem os dedos das mãos! - que logo aparecem estes policiais injustos, forçando-os a mostrar as caras, expondo a sua privacidade?!...

Não! Não se escandalizem, meus amigos do Recanto e leitores! Faço menção a estes detalhes da matéria de caso pensado, porque muita gente não deve ter lido a VEJA; porque existem muitos, por exemplo, como a minha tia, que não souberam do detalhe de que, enquanto o monstro que estava ao volante arrastava a criança em martírio indescritível, uma testemunha se emparelhou com o carro alertando-o, desesperado, pedindo que parasse - ao que o fascínora responde: "É um boneco Judas que está aí!", em infernal, demoníaca zombaria!

Quer saber?! Para o escambal toda a estrutura em que foi assentada a sociedade e seus padrões éticos fracassados, numa hora dessas! Como bem lembra a reportagem, uma coisa assim, hedionda, acontece, e tudo, meus caros, continuará exatamente igual! Com autoridades debatendo, sociólogos e especialistas viajando pelo mundo para aprenderem como, nestes outros lugares, deram fim à violência; com a mídia comentando, a família se consumindo em sofrimento, blá-blá, blá-blá, muito blá-blá!...E qualquer dia morre outro João Hélio! E solução contundente, efetiva, que é bom - nada!!

Tornei a chorar, em pleno salão de cabeleireiros hoje à tarde, de inconformação, de impotência! Chorei de novo a dor inqualificável sentida pelo anjinho em martírio, até afinal perecer; chorei a mãe; chorei a irmã...

Chorei tudo de novo! Nunca mais teríamos o direito de parar de chorar por isso - a meu ver!

Então, meus caros; que se há de fazer?

Uma opinião? Já vi um único exemplo de presídio modelo na viagem que fiz à Ilha de Itamaracá, em Pernambuco - e talvez que venha, de uma coisa daquelas, pintada com cores dez vezes mais severas, a solução!

Que peguem monstros desta lavra e trancafiem em regime fechado absoluto: sem chance a celulares, visitas femininas, indulto de Natal e outras regalias absurdas! Sem progressões de penas, e toda esta balela sem cabimento de réus primários, ou menores de dezoito anos! Que se coloque estas criaturas trabalhando sem parar o dia inteiro, em lavoura, plantio, limpeza interna, o que for - até que criem calos nas palmas das mãos! Isto, diariamente, de sol a sol, em regime de vigilância de vinte e quatro horas - maciço, sem brechas, e oferecendo-lhes apenas um grande e justo direito: dormir! Bem...claro que comer; atendimento médico, e talvez que psicológico e educativo...e FIM!

No mais - trabalho, trabalho, trabalho de sol a sol, de domingo a domingo, pelo tempo que fosse necessário até a constatação de que, sob tal massacre pedagógico especial, nunca mais tais animais sequer aventariam o uso de suas mãos n'outro delito de qualquer ordem, nem mesmo no mais leve!

Veríamos se conseguiriam pensar n'outra coisa que não descansar ao fim do dia, como cada um de nós no retorno para casa após uma semana de trabalho cansativo para, além de sobreviver, ainda ter que bancar, via pagamento de impostos, o sustento de tais feras no ócio e na vagabundagem viciante, e geradora somente de piora e aprimoramento na carreira do crime, conforme se dá hoje no sistema prisional, segundo leis que mais se assemelham a um requintado código de tortura à sociedade indefesa!

Com pesar profundo...



Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 24/02/2007
Reeditado em 24/02/2007
Código do texto: T392402
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