TV DIGITAL (HD) - APENAS ÓTIMAS IMAGENS


A TV digital (HDTV = High Definition) chegou primeiro a São Paulo em 2 de dezembro de 2007, num evento que contou até com a presença do Lula. Posteriormente tivemos a chegada da TV 3D e nessas últimas Olimpíadas o SporTV manteve no ar um canal apenas com transmissões em terceira dimensão. Em matéria de qualidade de imagens, um show de tecnologia das emissoras, inclusive as de sinal aberto.
 
Os aparelhos de TV tiveram um avanço fantástico na tecnologia – plasma, LCD, LED, 3D –, além da redução no seu peso e tamanho físico. Então, eu pergunto: qual a necessidade de imagens com maior definição se o que as emissoras de sinal aberto (e também muitas de sinal fechado) exibem não merece mais do que um simples e jurássico televisor em branco e preto?
 
Com raras exceções, a programação da televisão brasileira anda muito ruim. Tecnicamente estamos bastante evoluídos e chegamos até a impor – via Globo – um padrão internacional de teledramaturgia. No restante, caiu numa mesmice irritante, acabando por influenciar até os comerciais, sobretudo os de automóveis, cervejas, produtos de beleza e imóveis, a maioria deplorável.
 
A TV paga (via cabo e satélite), que deveria ser uma salvação, revela-se uma tremenda decepção. As promessas iniciais eram animadoras: programas exclusivos, sem intervalos comerciais, somente filmes legendados, etc. O que se vê hoje é totalmente diferente dessas promessas. Intervalos comerciais em profusão, excesso de canais sem personalidade alguma, impossibilitando a interação com o telespectador, e o pior de tudo: a TV paga acabou se rendendo aos filmes dublados, essa invenção calamitosa e fascista cujo incentivo – e prática – deveria ser proibido pelo Ministério da Educação. A dublagem, além de descaracterizar o filme em si, ainda mostra falta de respeito com a produção original. Canais como AXN, TNT, Space, History Channel, NatGeo, FX, Cinemax, alguns da Discovery e outros menos votados, são impossíveis de assistir devido a programação ser totalmente dublada. Até o TCM, “especialista” em filmes clássicos, rendeu-se aos dublados, tornando-se mais um canal ridículo e sem personalidade. Um escárnio, justamente para fomentar cada vez mais o nosso imenso contingente de ignorantes e analfabetos. Legendas erradas, o ouvido esclarecido corrige. Mas as besteiras da dublagem passam impunes. E nem em HD tais canais se dignam a oferecer opções de som original com legendas. Alguns até oferecem, mas sem as legendas em português. Em relação a isso, louve-se a iniciativa dos canais Telecine (Globosat), que oferecem as duas opções: som original com legendas e dublado, tanto na transmissão normal como em alta definição. Outros poucos, como o Megapix, também oferecem as duas opções. O telespectador escolhe, via controle remoto. Tenho que admitir que os canais da Globosat ainda são os melhores nessa imensa e horrenda malha oferecida ao consumidor. Os canais SporTV deram um show completo nas transmissões das Olimpíadas de Londres. Enquanto isso, a Record, que detinha os direitos para transmitir na TV aberta, patinava no seu amadorismo em eventos dessa envergadura, chegando a interromper a festa de abertura para inserção de comerciais. Um erro grosseiro e inimaginável até para quem não é da área. Sem contar as tremendas gafes de Ana Paula Padrão, que inclusive confundiu a Record com a Globo, sua ex-emissora.
 
Para quem aprecia a culinária e também boas dicas para o dia-a-dia, uma opção interessante é o canal Bem Simples, que pertence à Fox. Vale a pena conferir. E agora que o Dr. House se aposentou, o Universal Channel voltou à mesmice insuportável, com suas repetitivas séries, filmes do arco da velha (muitos deles dublados) e intervalos comerciais irritantes.
 
Mas, pensemos bem. Para um povo que se satisfaz assistindo a Rede Globo, até que a programação das TVs fechadas está de bom tamanho. O sujeito contrata um plano com mais de 100 canais, paga um bom preço por isso, manda instalar vários pontos em sua residência, para no final das contas, assistir a... Rede Globo. É brincadeira ou não? Mas eu acho que assistir ao BBB e suas sacanagens em alta definição deve ser mais convidativo. Enfim!!!
 
Considere-se ainda o fato de que nenhuma das operadoras permite ao usuário montar o seu próprio pacote. E tome canais a que o cliente jamais irá assistir. O que interessa ter no pacote canais como Disney, Nickelodeon, Boomerang, Cartoon, Discovery Kids, por exemplo, se não se tem crianças em casa? Sem contar os religiosos, os rurais e os de venda de produtos que, via de regra, são classificados como “de cortesia”. E essas drogas fazem parte de todas as operadoras. Ou seja, você compra um quilo de carne de primeira e, de quebra, leva uns trinta quilos de osso.
 
Um alento chegado recentemente (para clientes HDTV) é aquele onde você pode fazer sua própria programação com as opções dadas pelas operadoras (na NET chama-se NOW). Há opções pagas e gratuitas que incluem filmes, culinária, infantis, shows, esportes, documentários e eróticos. Através do controle remoto você pode pausar, avançar e retroceder o conteúdo e continuar a assisti-lo quando melhor lhe convier, dentro de um determinado período. Como se estivesse assistindo um DVD ou Blu-Ray. Essa talvez tenha sido a melhor novidade surgida desde que a TV paga se instalou por aqui.
 
Mesmo com esse alento, a TV paga no Brasil é mesmo um engodo, uma caracterização vergonhosa da falta de respeito ao usuário e do não cumprimento das promessas feitas. E não se iluda: todas as operadoras são iguais e com os mesmos canais. Nenhuma conseguiu inovar até hoje. Mais uma vez, a mesmice.
 
Acredito que, independente da concorrência da TV paga, a Rede Globo ainda vai ser líder por um bom tempo, pois as demais emissoras de sinal aberto e também muitas de sinal fechado não possuem personalidade alguma. A própria TV Cultura de São Paulo se descaracterizou muito nos últimos anos, o mesmo ocorrendo com a MTV, que praticamente virou um lixão. Bandeirantes, Record e Rede TV, além de produções fraquíssimas, são emissoras que tentam – sem conseguir – imitar o que faz a Globo. E só sai porcaria. A Bandeirantes ainda tem um bom jornalismo e o melhor apresentador de telejornais, o Ricardo Boechat, além do comentarista econômico Joelmir Betting. Já a Record vive no troca-troca de horário de seu principal telejornal, não chegando a um acordo. A Rede Vida tenta cumprir seu papel religioso católico, mas é muito brega nas suas colocações e nas suas intermináveis missas. E o SBT? Bem, esse tem um pouco de consciência e personalidade, pois segue à risca a mentalidade de seu dono, o empresário Silvio Santos, que mostrou uma retidão ímpar quando estourou o escândalo financeiro no seu banco. Até hoje o seriado mexicano Chaves é uma atração em sua emissora, conseguindo índices muito bons de audiência. Acho até que o SBT sempre se manteve fiel às suas origens, desde o tempo de sua inauguração como TV Studios (TVS) na cidade do Rio de Janeiro, em agosto de 1976.
 
Antigamente dizia-se que existia a Globo e o resto. Hoje, mudou um pouquinho: é a Globo, um pouquinho do SBT, a TV paga e o resto. Isso significa que, por muito tempo ainda, o panorama da TV brasileira será esse que vemos hoje por aí.
 
 
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