A PROPÓSITO DE CARNAVAIS
Quem observa, com atenção e objectividade – colocando de lado as inocentes e insensíveis emoções próprias do género – facilmente se nos coloca uma questão à nossa alma racional: se fosse possível “acordar” todos aqueles rituais à sombra da verdadeira dimensão humana, colocando os recursos ali empregues ao serviço das causas humanitárias – doenças, epidemias, fomes e analfabetismo – como seria admirável tal fenómeno e como seria possível purificar o mundo em que vivemos, dignificando o sentido mais puro da vivência das sociedades. Como seria possível viver na Terra um pouco do potencial Paraíso que nos está destinado !?
Mas, infelizmente, só nos resta entender (?) que esta Humanidade não vai por aí. Lamentavelmente o que perpassa pelas cabeças de todos os foliões ( e não só! ) é «que para o ano ha-ja outro Carnaval ainda maior !!!»
Lembremos, a propósito, o que escreveu um poeta açoriano do nosso tempo:
TIRANDO A MÁSCARA
Por
Daniel de Sá,
p'lo Carnaval de 2007
É velha a imagem: mundo mascarado!...
Cada rosto de fome é um insulto
A quem ao hedonismo presta culto
Num torpe ritual paganizado.
Em cada mesa nossa há sempre um vulto
À espera de um milagre, de um bocado
Que o faça adormecer mais sossegado.
– Ó meus irmãos, p’ra nós não há indulto.
O fantasma que ronda sem ser visto
Esteve há dois mil anos no sermão
Que do alto da montanha pregou Cristo.
– E se Deus for mentira?... Que me importa?...
– Se for, bem mais se obriga à compaixão
Quem não pode bater a outra porta.
Frassino Machado